Ebony Magazine, setembro de 1971.
Os jovens astros estrelam em espetáculo televisivo e desenho animado
A televisão nas manhãs de sábado - em caso os excessos de sexta à noite tenham te deixado de ressaca demais para perceber - não é o mais o que costumava ser.
Com um passado estritamente infantil, com personagens como Popeye, Gasparzinho e alguns pássaros malucos de desenhos antigos, a televisão da manhã de sábado é hoje, em sua maior parte, popular e ligeiramente sensual. Já aconteceu com os Beatles, com os Monkees, com Josie e as Gatinhas e agora, neste outono, o primeiro desenho animado estrelando jovens negros irá estrear, com o Jackson Five.
Produzido pela americana Motown Corp. e a Video Craft da Inglaterra, em caricatura do Jackson Five, o novo desenho é aparentemente a superestrutura de base na qual a ABC-TV está apostando para conquistar sua fatia de jovens telespectadores da programação das manhãs de sábado.
Exceto por fornecer a porção musical - baseada em suas canções de sucesso - do desenho animado (cada episódio de meia hora contará com duas canções) o Jackson Five real não terá participação alguma na tira animada. As vozes do grupo nos momentos não-musicais serão de cinco jovens negros desconhecidos, e toda a animação está sendo feita em Londres porque "Londres tem o melhor tanque de animação do mundo," de acordo com Jim White, vice presidente em comando da produção na Motown.
O maior animador japonês foi trazido para trabalhar na série, diz White, e todo o projeto de animação está sendo dirigido por Robert Balsar, que foi responsável pelo filme de grande sucesso dos Beatles, Yellow Submarine.
Embora os verdadeiros Jackie, 20; Tito, 18; Jermaine, 16; Michael, 13, e Marlon, 12, sejam retratados na tira animada, os desenhos serão, é claro, caricaturas dos irmãos Jackson. Uma desenhista fez esboços dos garotos trabalhando numa sessão de gravação para captar o realismo. "O que nós não queríamos era fazer crianças brancas pintadas de negras," explica White, "e embora alguns dos garotos possam ter características físicas normalmente consideradas negróides, alguns não têm. Nós precisávamos que os animadores conhecessem os garotos, de um modo ou de outro. Nós queríamos que eles vissem como eles dançam. Nós não queríamos que eles ficassem embaralhados como Stepin Fetchit."
Para garantir a qualidade da série e preservar a estatura do que é agora uma das propriedades mais quentes da Motown (junto com Diana Ross, agora uma estrela solo, as Supremes, e Smokey Robison and the Miracles), os chefes da Motown aprovam cada aspecto do desenho. Os primeiros roteiros oferecidos foram rejeitados com o comentário cáustico: "Isto é lixo e não o queremos", diz White. "Desde então a qualidade dos roteiros tem sido muito boa. Pessoas da indústria já nos disseram que os roteiros atuais têm qualidade para o horário nobre."
Embora alguns dos episódios serão centrados em temas atuais como ecologia, White diz que a tira animada do Jackson Five não será usada para propagar nenhuma mensagem. "O Jackson Five é a mensagem," ele declara. "O fato dessas crianças terem saído do gueto diz tudo. Os telespectadores, negros e brancos, verão crianças negras no sábado de manhã. Não verão mais apenas rostos brancos."
White, que é caucasiano, sente que como um desenho animado baseado em negros, o Jackson Five terá de fazer mais sucesso do que os outros para se estabelecer. "Será o melhor desenho animado na indústria," ele diz. "Nós não vamos nos contentar com o segundo lugar."
Apesar dos produtores terem um contrato firme de um ano com a ABC-TV para o desenho animado, White acredita que "os primeiros quatro episódios vão nos estabelecer ou nos quebrar. Ou você os conquista ou não."
Já em relação ao Jackson Five da vida real, eles terão seu primeiro especial de televisão, chamado Goin' Back To Indiana, que será exibido na ABC-TV em 19 de setembro, apenas oito dias após o lançamento do desenho animado. Gravado em julho passado com os atletas Elgin Baylor, Ben Davidson, Rosey Grier, Elvis Hayes e Bill Russell e os comediantes Tom Smothers e Bill Cosby como seus convidados, o show de uma hora enfocará alguns dos gostos dos próprios membros do grupo - carros de corrida e basquete - e um show realizado em sua cidade natal.
A gravação do especial de TV foi seguida por uma turnê de dois meses em 50 cidades, se alongando de Nova York até o Havaí. No dia após o fim da turnê, os garotos estavam de volta à escola (o mais velho, Jackie, começou a faculdade de administração neste outono; os outros freqüentam escolas particulares).
Embora suas vendas de discos estejam agora na casa dos milhões (estima-se que 60% dos compradores sejam brancos), e eles tenham sido submersos no estrelato do maravilhoso mundo do entretenimento, os cinco irmãos de Indiana não mudaram muito em suas personalidades, os mais próximos afirmam. Embora os irmãos sejam "muito autoconscientes", de acordo com seu empresário de turnês, Tony Jones, "eles são muito organizados. Eles são muito conscientes de sua responsabilidade para com o Jackson Five enquanto grupo. Eles são muito profissionais, e no entanto eles são capazes de serem eles mesmos como indivíduos. Eles têm seis dimensões: eles são cinco pessoas diferentes e eles são o grupo."
Longe do grupo, Jackie gosta de passear por Los Angeles em seu novo carro esporte Datsun 240Z, enquanto Tito dirige o Audi alemão de sua mãe. Para os meninos mais novos, Michael e Marlon, ficar longe dos palcos significa diversão e brincadeiras pela casa, ou conversar com os fãs, o que eles gostam de fazer. Mas talvez estes quatro tenham de ser mais cautelosos: o mais novo no meio, Jermaine, está planejando relatar tudo em um livro, a total Experiência do Jackson Five, e publicá-lo daqui a uns dois anos.
Traduzido por Bruno Couto Pórpora.