terça-feira, 13 de setembro de 2016

Contatos Imediatos do Tipo 3-D em 'Captain EO' (LA Times, Setembro 1986)

Los Angeles Times, 10 de setembro de 1986
Por Jack Mathews

O segundo grande lançamento de George Lucas em 1986 sai neste fim de semana, mas não importa o que os críticos tenham a dizer, ou quantas pessoas irão assistir, ele não precisa se preocupar com que (Captain Eo) caia na Terra como Howard, O Pato. Captain EO consegue voar.

Captain EO, o curta mais caro e ardorosamente divulgado na história do cinema, estreia na noite de sexta-feira no Epcot Center em Orlando, Flórida, e no sábado à tarde em uma festa para VIPs na Disneylândia. Ele se tornará parte das atrações regulares de ambos os parques em 19 de setembro.

Após mais de um ano tratando o projeto como uma aeronave de bombardeamento estratégico, a Disney subitamente ligou suas máquinas de publicidade e marketing e fez da abertura de Captain EO ou o evento cinematográfico do ano, ou o evento de videoclipe da década, ou o evento 3-D do século. Faça sua escolha.

Agora todos estão cientes de seu pedigree. O astro: Michael Jackson. O diretor: Francis Coppola. O produtor executivo: George Lucas. O orçamento: Astronômico. O anfitrião: Mickey Mouse.

Acrescente aos créditos o produtor Rusty Lemorande ("Yentl"), designer de set John Napier ("Cats," "Nicholas Nickleby"), diretor de arte Geoffrey Kirkland ("Os Eleitos - Onde o Futuro Começa"), coreógrafo Jeffrey Hornaday ("A Chorus Line") e o consultor fotográfico Vittorio Storaro ("Reds") e ... bem, sim... isso pode ser uma grande coisa.

A Disney mantém confidencial todos os custos relacionados a Captain EO. Estimativas a respeito do orçamento do filme já chegaram a até US$20 milhões. Pode ter custado mais. Segundo um executivo da Disney, Lucas colocou mais efeitos especiais nestes 17 minutos do que nas duas horas de Star Wars.

Além disso, ambos os parques tiveram de construir salas especiais de 700 lugares para um filme que não é apenas um filme, mas uma total experiência sensorial. É uma produção em 70mm de 3-D e som digital de última geração. As salas também usam tecnologia de ponta, com luzes, lasers, fumaça e efeitos de som. Os assentos até se mexem. Eles não nos contaram tudo.

Como estória, Captain EO cai na categoria de grandes conceitos que deixa os executivos de estúdio babando. É a estória de um comandante espacial (Jackson) e sua equipe de robôs e bichos estranhos que caem e um planeta Orwelliano, cinza e hostil, governado por uma rainha horrorosa (Anjelica Houston) e, através da música e dança, transforma seus habitantes em criaturas pacíficas e amorosas.

A equipe de Captain EO inclui um elefante anão, uma bola de pêlo ao estilo Gizmo, uma criatura de duas cabeças com duas personalidades e um par de robôs que, quando ordenados, se transformam em instrumentos mecânicos nos quais os outros ocupantes tocam música.

Michael Jackson compôs duas músicas para Captain EO - We Are Here to Change the World e Another Part of Me - e os segmentos de música e dança tomam ao redor de sete dos 17 minutos do filme.

O enredo foi concebido por quatro roteiristas da Disney durante uma sessão de ideias que durou quatro dias em fevereiro de 1985.

"Nos pediram que criássemos conceitos que casassem com três elementos," conta Rick Rothschild, da Walt Disney Imagineering em Florida. "Os elementos eram George Lucas, Michael Jackson e 3-D."

Rothschild disse que ele e seus colegas criaram três conceitos e os apresentaram para o presidente da Disney, Michael Eisner, Lucas e Jackson no dia dos namorados. Todos eles concordaram naquele dia, ele diz, em seguirem com o que eles tinham chamado de "O Músico Intergaláctico". Foi mudado para Captain EO depois que Coppola foi trazido como diretor. (Vem da palavra grega eos, que significa amanhecer).

O filme começou a ser produzido no Laird Studios em junho de 1985 e as filmagens foram completadas em agosto. Mas o trabalho havia apenas começado. Afirmam que pelo menos metade das cenas do filme usam efeitos especiais. Os efeitos visuais foram todos criados na Industrial Light and Magic de Lucas em Marin County. Os efeitos animados foram feitos no estúdio da Disney em Burbank.

Embora Captain EO não tenha sido exibido fora da família Disney, o interesse é alto. Patrick O'Neill, diretor corporativo de marketing da Disney em Captain EO, disse que as respostas aos convites para as duas estreias na Disney chegaram em tempo recorde.

Os três principais - Jackson, Coppola e Lucas - devem aparecer na estreia do sábado à tarde na Disneylândia, junto com mais de 100 celebridades que irão participar do que O'Neill descreve como uma "festa totalmente VIP".

O programa de sábado será usado para concluir duas das maiores divulgações da Disney para Captain EO. Uma é um especial de TV para a NBC, que irá ao ar em 20 de setembro (20h-21h). O outro é um documentário de uma hora sobre os bastidores do filme. O documentário, narrado por Whoopi Goldberg, será exibido no Disney Channel em dezembro, de acordo com O'Neill.

Uma segunda estreia, para a imprensa e outros convidados, acontecerá no Tomorrowland, no exterior do novo Magic Eye Theater em 18 de setembro, na véspera da abertura para o público. Chegará Captain EO a um cinema perto de você?

Provavelmente não, diz O'Neill. Os custos seriam proibitivos. Mas você pode acabar escutando as músicas no seu rádio do carro, ou talvez ver um videoclipe na TV.

"Ambas as possibilidades existem," disse O' Neill. "Estão em estágio de discussão no momento."


Por ora, diz O'Neill, Captain EO é exclusividade da Disney, "exibido na Disneylândia e no Walt Disney World Epcot Center e em nenhum outro lugar no universo!"


Traduzido por Bruno Couto Pórpora

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Trinta anos depois, o mesmo Michael Jackson de antes (Folha de SP, Setembro 2001)

Folha de São Paulo, 10 de setembro de 2001
Por Sérgio Dávila
de NY

Um foco de luz no meio do palco branco. Uma figura reconhecível sai do escuro e vai se revelando aos poucos. De baixo para cima, o indefectível mocassim preto com meia branca, calça pega-frango, camiseta preta.

Como se fosse Chaplin se preparando para encarnar Carlitos, ele abre uma mala, de onde tira a luva de mão única prateada (gritos da platéia), a jaqueta cheia de brilho (uivos da platéia) e o chapéu preto (urros da platéia). O baixo inicia os primeiros acordes, e ele passa a dançar e falar sobre uma menina que era uma rainha da beleza.

Vinte anos depois, estão lá os mesmos gritinhos, as frases cantadas entre respiração e os mesmos passos: o "moonwalking", o semi-sapateado, os pés parados em ponta com pernas dobradas que viraram o logo dos anos 80.

É "Billie Jean", e Michael Jackson, 43, canta cada frase acompanhado pelas 15 mil pessoas que quase lotam o Madison Square Garden na sexta-feira à noite, em Nova York, no show em homenagem aos seus 30 anos de carreira.

Num segundo, você lembra porque está ali e como valeu a pena esperar duas horas de show até este momento. E que pena: das 20h40, quando Samuel L. Jackson abriu a noite, até as 22h45, quando MJ finalmente sobe ao palco acompanhado de seus irmãos, o que se vê é uma mistura de baile da saudade e festa de formatura.

O baile da saudade: Marlon Brando pedindo dinheiro para crianças carentes, Liza Minnelli cantando "You Are Not Alone", Gloria Stefan destruindo "I Can"t Stop Loving You".

A festa de formatura: não havia direção, esperava-se até dez minutos entre as músicas, o som era na maioria das vezes embolado, o que não se justifica num show com ingressos até US$ 2.500.

O aniversariante só entra em cena às 22h49, introduzido pela amiga Elizabeth Taylor. Emerge do palco vestido de piloto de F1 estilizado. Atrás, os outros Jacksons, que não se apresentavam juntos desde 1984. Cantaram "ABC" e "I"ll Be There" com as mesmas coreografias dos anos 70. A noite começava a fazer sentido.

Aí, foi quase uma hora do melhor MJ: de "Beat It" e "Black and White" até a nova "You Rock My World" e, a melhor, "Billie Jean".

MJ é vítima da própria genialidade. Tem de conquistar uma geração que nunca comprou um CD seu, nunca assistiu a estréias de seus clipes em rede nacional nem dançou suas músicas em festas.

São meninos e meninas que só ouvem rap, gênero que domina as paradas dos EUA e que só floresceu por "culpa" do próprio MJ. Mesmo as centenas de Máicons brasileiros, batizados em sua homenagem, hoje têm 15 anos e ouvem Racionais.

Antes de entrar no palco, quando ainda assistia às homenagens de seu camarote, MJ sentava-se entre os amigos Macaulay Culkin e Liz Taylor. Se a vida tivesse legenda, a do trio seria "Começo, meio e fim da mesma história".