quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Lee lamenta desaprovação de Pelé a filmagem no Rio (Estado de SP, Fevereiro 1996)

Estado de São Paulo, 10 de fevereiro de 1996

"Ele pode ser o maior jogador de futebol do mundo, mas nem sempre é o melhor político", disse


SALVADOR - O cineasta Spike Lee lamentou ontem que Pelé seja contrário às filmagens do clipe de Michael Jackson no Morro Dona Marta, no Rio. "Ele pode ser o maior jogador de futebol do mundo, mas nem sempre é o melhor político", afirmou. O diretor chegou à Bahia com o cantor Michael Jackson. Hoje, os dois passarão o dia no Pelourinho, gravando o clipe.

Vestindo uma camisa da seleção brasileira de futebol e usando um boné do Olodum, Spike Lee concedeu entrevista coletiva, durante a qual mostrou-se irritado com a polêmica em torno das gravações do clipe. "As condições do Rio não são segredo para ninguém," afirmou. "A miséria das favelas não será revelada ao mundo por causa desse clipe."

Lee insistiu em que o videoclipe não trata da pobreza das favelas brasileiras. "Trata de pessoas humilhadas em todo o mundo." Segundo ele, a maior parte do clipe se passa numa prisão. "Uma prisão anônima."

A ideia de filmar parte do vídeo no Brasil partiu do próprio Spike Lee. "Estava no script que escrevi e Michael gostou." A vontade de trabalhar com o Olodum era antiga, revelou. Lee conheceu alguns percussionistas do grupo em 1991, quando excursionavam com Paul Simon pelos Estados Unidos.

Spike Lee contou que chegou a cogitar da participação do Olodum em seu último filme, Clocker's, que será lançado no Brasil na próxima semana. Como a ideia não vingou, decidiu incluir o grupo no clipe.

O cineasta contou que Michael Jackson não conhece muito da música brasileira. "Mas ele definitivamente entende de ritmo." Lee tomou a defesa do cantor contra as críticas de que Jackson não é a pessoa mais indicada para denunciar a miséria em todo o mundo por ser um milionário excêntrico. "Ele é uma pessoa muito humanitária," disse. "Gasta milhões e milhões de dólares para ajudar os pobres, em especial as crianças."


Spike Lee negou ter chamado o Brasil de república das bananas. "Fiz uma pergunta - 'Esse país é uma república das bananas?' - não é uma afirmação." Depois da entrevista, o cineasta andou pelas ruas do Pelourinho, tirou fotos e reuniu-se aos percussionistas do Olodum, no Largo do Jubiabá, para ensaiar a participação deles no clipe.