terça-feira, 29 de julho de 2014

O álbum "Victory" ecoa a nova turnê dos Jacksons (NY Times, Julho 1984)

NY Times, 7 de julho de 1984
Por Robert Palmer

A ansiosamente aguardada turnê dos Jacksons finalmente começou em Kansas City, com um verão de shows em auditórios e arenas a vir, incluindo o Madison Square Garden de Nova York, entre 2-5 de agosto. Ainda há poucos dias, contos e rumores de discórdia entre os Jacksons e seu pelotão de assessores levou alguns observadores a ser perguntaram se ia ter mesmo uma turnê. Agora que há, observadores da música pop fazem outras perguntas, e muitas tem a ver com o novo álbum dos Jacksons, Victory (Epic). O disco, que em grande medida reproduz o programa da turnê dos Jacksons, já gerou algumas reações mistas.

Encomendas antecipadas de Victory chegaram a dois milhões de cópias, o maior número antecipado de vendas da história da CBS Records. Os álbuns chegaram nas lojas na segunda-feira, precedidos pela primeira música do álbum, State of Shock, lançada como single. A canção tem arranjos e composição de Michael Jackson e apresenta um dueto entre o mais popular dos irmãos Jackson e Mick Jagger, o vocalista dos Rolling Stones.

Com a ajuda de State of Shock, uma canção de rock orientada à guitarra que vem recebendo airplay extensivo nas rádios dos Estados Unidos, e com mais a ajuda da turnê dos Jacksons, a CBS espera vender pelo menos cinco milhões de álbuns Victory até o final de outubro. Acima de tudo, Victory é uma coleção cativante e bem produzida de pop dançante por irmãos que desenvolveram estilos musicais e de composição individuais e que não parecem ter muito em comum musicalmente como antigamente, a não ser quando se juntam para harmonias vocais. Além disso, os fãs de Michael Jackson podem se sentir meio decepcionados; há menos de seu ídolo no disco do que eles podem esperar.

O álbum Victory dos Jackson tem alguns concorrentes sérios. Um deles é Born in the U.S.A. de Bruce Springsteen, atualmente listado pela Billboard como o disco mais vendido do país. Mas a maioria dos observadores da indústria concordam que um concorrente muito mais agressivo é Prince, cujo novo álbum, Purple Rain, e single, When Doves Cry, superaram o lançamento dos Jacksons em algumas localidades.

When Doves Cry de Prince é atualmente o single No. 1 na parada da Billboard, e a Warner Brothers afirma ter vendido 1.3 milhão de cópias do álbum Purple Rain do cantor-compositor-multi-instrumentista em seu primeiro dia nas lojas. Um filme concebido e estrelado por Prince, também intitulado Purple Rain e baseado no álbum será lançado no final deste mês.

Várias cadeias de lojas de discos e lojas individuais por todo o país têm relatado que, até o momento, Purple Rain do Prince superou Victory dos Jacksons em vendas. Vince Alletti, comprador chefe dos lançamentos de soul e dance-music na gigantesca loja Tower no centro de Manhattan, disse que "nesta loja, Prince está vendendo o dobro que os Jacksons."

Mas grandes quantidades do álbum dos Jacksons continuam a ser vendidas. "Eu acho que vai demorar um pouco para as pessoas se acostumarem com o álbum Victory," disse o Sr. Alletti. "Pra começar, o single, State of Shock, não é uma indicação muito precisa de como é o resto do álbum. De início, eu fiquei decepcionado com Victory, mas me vejo gostando mais e mais quanto mais ouço, e eu acho que quando as pessoas se acostumarem a escutá-lo, o álbum começará a vender muito, muito bem."

Uma pesquisa informal entre alguns dos críticos de música pop da cidade gerou descrições do álbum que variam de "um bom álbum dos Jacksons" a "é realmente muito pobre". A reação dos ouvintes, sem dúvida, dependerá em parte de suas expectativas - e estas podem ter muito mais a ver com o fato deles serem fãs principalmente de Michael Jackson ou fãs de todo o grupo.

Ouvintes que estejam esperando outro Thriller, ou qualquer álbum que apresenta fortemente Michael Jackson, o superstar entre os seis irmãos Jackson, podem não ficam impressionados. Das oito músicas do álbum, Michael Jackson cantou o vocal principal, compôs e criou os arranjos inteiramente em apenas uma canção, Be Not Always, uma balada bonita e muito pessoal, ao contrário da maioria do material do Sr. Jackson em Thriller, que já vendeu quase 35 milhões de cópias no mundo todo.

Michael Jackson também divide o vocal com Mick Jagger no rock pesado de State of Shock, o qual ele compôs e criou os arranjos. Ele divide o vocal principal com seu irmão Jermaine, que tem uma carreira musical mais bem-sucedida do que qualquer de seus irmãos exceto Michael, na composição de Jackie Jackson, Torture. Michael e Randy Jackson compuseram outra canção, The Hurt, com dois membros do grupo de Los Angeles, Toto, mas Randy Jackson leva o vocal principal.

Em outras palavras, o estilo sinuosamente soproso, muitas vezes sonhador do vocal de Michael Jackson é proeminente em apenas duas ou três das oito canções. O som do álbum é dominado pelo estilo mais gritante e soul dos irmãos Jackie, Tito, Marlon e Randy. Jermaine Jackson, que teve sucessos pela Motown e Arista, lançou recentemente um álbum solo por esta gravadora, e sua contribuição em Victory parece ser mínima, limitada ao dueto com Michael Jackson na canção pop-funk Torture.

Imagina-se que teria sido um álbum forte com a ajuda de um único produtor forte, trabalhando em estreita colaboração com os artistas, da forma como o experiente produtor-arranjador Quincy Jones trabalhou em Thriller de Michael Jackson. E a pressão para gravar o álbum em tempo para a turnê pode ter impedido alguns dos participantes de ter segundos pensamentos sobre melhorar determinadas canções, partes instrumentais, ou mixes.

Mas no todo, o álbum parece sólido o suficiente para se manter sozinho. Se a turnê dos Jacksons, com seus caros ingressos, não ofender a legião de fãs do grupo, o álbum será quase certamente o seu maior sucesso enquanto grupo. Mas se a turnê não ir bem e a próxima canção do álbum a ser selecionada como single falhe em suceder, as vendas do disco podem acabar decepcionando. Os únicos Jacksons cujas carreira podem ser prejudicadas por tal descalabro seriam os irmãos não tão bem conhecidos; Michael e Jermaine Jackson já estão trabalhando em músicas para seus próximos álbuns solo.





 Traduzido por Bruno Couto Pórpora