domingo, 25 de maio de 2014

'Virtual MJ' anuncia futuro de shows póstumos (USA Today)

USA Today, 22 de maio de 2014
Por Marco Della Cava

SAN RAFAEL, Califórnia - Quando uma versão de 1991 de Michael Jackson foi ovacionada de pé no último domingo no Billboard Music Awards, os magos da computação da Pulse Evolution souberam que haviam feito mais do que satisfazer as expectativas do Espólio de Jackson.

Com a ilusão-Jackson - piscando, se movendo e fazendo o moonwalk - a Pulse deu um salto gigante para a criação de toda uma nova indústria. As Turnês de Lendas Falecidas.

"Estamos ouvindo muito de espólios e promotores dizendo, 'Estamos prontos para um show'," conta o executivo da Pulse, John Taylor.

Textor não vai revelar quem esteve em contato, mas nota que entre candidatos óbvios para um show póstumo estão Elvis Presley, Frank Sinatra e Bob Marley. Destinos clamando por tais espetáculos "incluem grandes cidades do casino, como Las Vegas e Macau."

O ex-chefe da Digital Domain (e vencedor do Oscar por O Curioso Caso de Benjamin Button) diz que está disposto a considerar a ideia de criar um show de múltiplas canções para um espólio, mas adverte que "se vamos trazer um Michael ou um Elvis de volta para esta forma de entretenimento ao vivo, deve ser baseado em uma história. Você não pode ter Elvis sentado num banquinho cantando 20 músicas. Isso não vai funcionar."

A primeira vez que Textor e sua equipe da Digital Domain causaram furor foi quando apresentaram o falecido Tupac Shakur ao lado de Snoop Dogg, no festival musical de Coachella em 2012. Depois disso, conversas sobre um show inteiro foram inevitáveis, conta Ian Drew, diretor de entretenimento da Us Weekly.

"Quem vai dizer que é uma coisa ruim, considerando todo o playback em shows hoje em dia?" diz Drew. "Qual é a diferença entre Britney Spears e um holograma, afinal?"

Drew, que assistiu à performance de Slave to the Rhythm na televisão, sentiu que a recriação digital foi impressionante, mas que pareceu um pouco demais "como um bom imitador de Vegas." Mas ele acrescenta que a perfeição absoluta não é o que atrairia fãs para um concerto totalmente digital.

"Algumas pessoas vão aos shows para ver uma celebridade ao vivo, mas eu diria que para a maioria é mais em função da experiência comunitária de partilhar a música daquele artista," ele diz. "Esta foi a reação das pessoas no show da Billboard. Elas queriam apenas celebrar Michael."

Mas esse tipo de celebração ao vivo poderia ser realizada de uma forma mais simples, diz Gary Bongiovanni, editor da Pollstar, especializada na indústria de concertos.

"Para uma surpresa de quatro minutos em um show maior, isso funciona muito bem, mas eu não consigo ver [esta tecnologia] sustentar um show de uma hora ainda," ele diz. Para reunir as pessoas para celebrar a música de um ícone falecido, "você provavelmente faria muito bem tocando sua música com vídeos, fotos e um show de luzes."

Pode haver outros obstáculos além de conquistar ampla aceitação. Os oito meses de meticuloso trabalho no espetáculo de Jackson levantam a questão: seria realista a ideia de um show de 90 minutos?

Uma vez que o quadro de computador para o Michael digital foi criado, o supervisor de efeitos visuais da Pulse, Stephen Rosenbaum, usou vídeos, bem como feedback dos colaboradores de Jackson, incluindo Rich + Tone Talauega, que coreografaram a HIStory Tour em 1996-97, e Jamie King, o escritor/diretor por trás do show Michael Jackson ONE do Cirque du Soleil.

"O que faz você acreditar que é realmente Michael são as sutilezas de expressão humana que se encontram em seus olhos, boca e gestos icônicos," diz Rosenbaum. "Nós tivemos de nos preocupar sobre como a luz responderia a tons de pele, a fim de capturar a essência de sua personalidade."

Ele oferece um exemplo do nível de detalhamento do projeto. Depois de se certificar de que os olhos de Jackson estavam sempre "focados em algum lugar bem específico, de modo que eles não estão apenas à deriva," Rosenbaum, animado, mostrou o resultado para íntimos de Jackson.

"Eles balançaram a cabeça," ele conta. "Eles disseram, 'Michael nunca olharia para a direita neste ponto da dança, nós sabemos que ele estaria olhando direto para a plateia. Então nós mudamos isso. Mas foi esse tipo de trabalho."

Rosenbaum se dirige ao monitor de vídeo e reproduz uma sequência de Jackson cantando a letra de Slave, e então congela o quadro.

"Olhe atentamente para o pescoço dele e quantos ligamentos diferentes estão disparando enquanto ele canta," diz ele. "Jackson tinha tantas expressões de amplo alcance com sua boca e mandíbula, o que fez disto realmente a parte mais difícil do processo. Ele dirige suas performances com a boca. Quase não importa o que seu corpo está fazendo."

Aperfeiçoando estes close-ups de ilusão "significa que isto não para com o show da Billboard," diz o presidente da Pulse, Textor.

Além de conversar com diferentes espólios ("Eu insisto a eles que eles precisam trazer suas propriedades analógicas para o mundo digital, e proteger estes direitos," diz Textor), sua empresa já recebeu pedidos excêntricos.

"Um amigo do Partido Republicano me perguntou se gostaríamos de criar um Presidente Obama digital e fazê-lo introduzir Mitt Romney na última convenção," diz Textor, rindo. "Eu sou um republicano, mas nem eu faria isto. Mas eu diria que existem muitas possibilidades dentro desta tecnologia."

Talvez o maior truque de mágica de todos está aqui, mesmo na morte, Michael Jackson conseguiu causar tanto um rebuliço como avançar o 'state-of-art' do mundo do entretenimento para o futuro.



 Traduzido por Bruno Couto Pórpora