sábado, 27 de outubro de 2012

Os Segredos de BAD 25

MJDataBank, 9 de outubro de 2012
Por Richard Lecocq (autor de Michael Jackson: KING)

Escutar a música de Michael Jackson é sempre um tipo de experiência única. Não apenas porque seus vocais e sua música são boas, mas porque suas músicas são como um tapete com tantas camadas que você sempre acaba se pegando descobrindo novos detalhes cada vez que as escuta. Com BAD 25, o Espólio de MJ e a Sony lançaram luz em várias faixas inéditas das sessões de BAD. É claro, ainda há mais canções daquela era para se descobrir, mas as faixas que foram lançadas este ano nos dão uma visão interessante e genuína do - muitas vezes subestimado - processo criativo de Jackson.

Desta vez, BAD 25 entrega a mercadoria: todas as faixas inéditas no disco são apresentadas sem retoques, como explica o engenheiro de som e colaborador de longa data de MJ, Matt Forger: "Foi decidido que o que fosse incluído no lançamento e apresentado ao público tinha de estar no exato estágio de produção de 1987. Sem gravações ou elementos adicionais... eu fiquei muito feliz em ouvir que a direção era 'nós podemos apenas usar elementos que foram gravados até 1987. Deve ser o trabalho desse período'."

Forger trabalhou com Jackson em seus álbuns de estúdio (de Thriller a HIStory) e também o ajudou na produção de outros projetos como Captain E.O., além da trilha sonora de abertura para a turnê Victory dos Jackson, em 1984. Nos anos 2000, ele trabalhou na série de Edições Especiais de 2001 e no box set Ultimate Collection em 2004. Forger também fez parte da equipe que desenvolveu o projeto Thriller 25 no final de 2007. Então, logicamente, ele se viu envolvido no processo de criação do projeto BAD 25: "Eu fui convidado pela Sony e pelo Espólio para participar porque eu estive muito envolvido durante a gravação de muitas destas canções. (...) Eu sou a pessoa que já foi chamada muitas vezes como consultor, para ajudá-los quando eles têm perguntas sobre o material mais antigo dos arquivos, ou quando alguém precisa entender um ponto em particular."

Escavar os arquivos de MJ é, obviamente, um dos melhores empregos do mundo. Mas a forma como as canções e as fitas foram tratadas demanda uma perícia que poucas pessoas têm. Forger estava lá quando tudo aconteceu, por isso ele é capaz de rastrear notas e documentos que podem ter sido negligenciados. "Quando eu revejo notas ou caixas de fitas, todas essas memórias voltam. Eu consigo me lembrar da situação em que cada canção foi gravada, quem foram os participantes e os músicos, e algumas das coisas em particular que nós fizemos, como o estilo e o som da gravação ou o equipamento que nós usamos. Toda essa informação é apenas do meu banco de memória, porque eu estava lá trabalhando com Michael Jackson na época."

Isto mostra o quão abrangente e cheio de surpresas pode ser o trabalho de Jackson no estúdio. O que tem que ser mantido em mente é que desde o álbum Off The Wall (1979), Michael Jackson tinha tomado gradualmente o controle sobre sua música e todos os aspectos de sua carreira. O auge desse processo ocorreu durante a era BAD. Como o episódio final da trilogia que ele começou com Quincy Jones ao final dos anos 70, o álbum também foi uma importante transição para Jackson, que seguiria novas direções com novos colaboradores no começo dos anos 90, quando ele lançou Dangerous. E, em muitas ocasiões, BAD 25 insinua essas mudanças por vir.

Michael Jackson entrou no mundo da música como provavelmente o último verdadeiro herdeiro da Motown de sua geração. Depois de uma carreira que quebrou recordes com seus irmãos, o Jackson 5 e The Jacksons, ele entrou para a vida adulta com uma coleção de músicas que não só provou que ele havia feito a dura transição da infância, mas também gerou faixas que desde então se tornaram sucessos instantâneos nas boates. Em BAD, ele provou que ainda podia ser sucesso nas boates, mas também se inclinou para outros estilos e gêneros musicais. A imagem global do álbum é a dramática evolução da imagem de durão que ele desenvolveu no curta metragem de Beat It (1983). Músicas como Man in the Mirror também mostram que ele vem com uma mensagem, e que a música é sempre uma questão de som, mas também de melodia e letra.

Em BAD, Jackson compôs 9 das 11 faixas apresentadas ao público. Como Quincy Jones pontua em suas entrevistas no bônus da re-lançamento de BAD em 2001, suas músicas "são sempre um pouco autobiográficas." Então, em algum lugar do caminho, deve haver uma linha tênue entre I Just Can't Stop Loving You e Dirty Diana: aqui está uma fascinante definição de amor e ódio que ele também desenvolveu em trabalhos futuros.

BAD é conhecido pelas 11 faixas que acabaram no álbum. Mas ele também é conhecido por ser um projeto com mais de 60 faixas a serem consideradas. Algumas tem os vocais de Jackson, em diferentes estágios de produção. Algumas são apenas faixas instrumentais e idéias que não foram mais elaboradas no futuro. BAD 25 humildemente foca nas sessões de BAD com uma série de 6 faixas inéditas que documentam o processo criativo de Jackson. Então, como cerca de pouco mais de 10% do material gravado foi apresentado ao público, essas faixas inacabadas e experimentais nos dão uma idéia de como os sons foram criados.

Don’t Be Messin’ ‘Round (Gravada por Brent Averill e Bruce Swedien) 

Don't Be Messin' 'Round foi lançada no mês de junho como o lado B do re-lançamento do single I Just Can't Stop Loving You. Ela definitivamente soa como um rascunho cru de Jackson na mesa de som, apenas para observar como os diferentes elementos se juntam e eventualmente combinam. Com um leve sotaque pop e uma influência definitiva da Bossa Nova, Don't Be Messin' 'Round também lembra Don't You Worry 'Bout a Thing de Stevie Wonder. Jackson citou Wonder inúmeras vezes como um dos seus mestres e grande influência em sua música. Em muitas ocasiões, ele elogiou alguns de seus trabalhos. Em 2003, ele deu uma entrevista especial a Brett Ratner para a Interview (públicada no início de 2004) e falou sobre o álbum Innervisions (1973) de Wonder (que inclui Don't You Worry 'Bout a Thing): "Escutar aquela música me fez dizer para mim mesmo, 'Eu consigo fazer isso, e eu acho que consigo fazer isso em um nível internacional.'"

Michael primeiramente gravou a canção com o engenheiro de som Brent Averill no começo dos anos 80. "Essa é uma das músicas que foram gravadas bem no início, potencialmente para o álbum Thriller," explica Matt Forger. "Por alguma razão, ela não foi mais trabalhada. Michael a trouxe novamente e nós trabalhamos mais nela no período do álbum BAD. Algumas gravações adicionais foram feitas na época com Bruce Swedien no Westlake. Eu fiz mais uns mixes na época para o Michael avaliar."

A versão lançada em BAD 25 é uma tentativa de dar a melhor representação da versão de 1987 da faixa, a que foi deixada no estúdio naquela época: "Muitos dos elementos os quais trabalhamos na era BAD foram alguns dos elementos básicos destes primeiros demos. Elementos selecionados foram transferidos e então, com mais trabalho, foram gravados para o álbum BAD. E então foi decidido que a faixa não seria incluída no álbum, e naquele momento paramos de trabalhar nela. E para BAD 25 eu tive que procurar em muitas fitas de multi-faixas porque os elementos da gravação estavam em fitas diferentes: alguns foram gravados em Westlake, e alguns em Hayvenhurst e eu tinha de me certificar de que todos os elementos representativos poderiam ser combinados em uma versão única, em um único mix da canção."

Forger também confirma que outras versões da canção foram gravadas mais tarde e que estas estão mais bem acabadas do que as gravações iniciais. Don't Be Messin' 'Round, uma canção inacabada que é agora apresentada ao público, mostra a espontaneidade de Jackson em seu melhor. "Eu entendi qual deveria ser o sentimento da música. O que é interessante nela é que você pode escutar Michael dando direções como 'bridge' ou 'guitarra' e ele na verdade canta estas partes ele mesmo. Era, é claro, um trabalho em progresso."

A emoção é algo que sempre foi importante nas músicas de Jackson. No documentário de 2004, The One, Jill Scott explica que entende a importância da carga emocional em seu trabalho: "mas são as escolhas que ele faz ao cantar uma música. É um dom." Então mesmo quando ele canta letras aleatórias em demos, pode se sentir que ele está procurando pelos melhores lugares e momentos da melodia para introduzir emoção genuína e sincera. "Michael estava experimentando e testando elementos e estilos," conta Forger. "Ele avaliava a melhor forma de abordagem. Mas a emoção é o elemento principal."


I'm So Blue (Gravada por Matt Forger e Bill Bottrell)

Surpreendentemente, a depressão é um tema que Michael Jackson apresentou muito cedo em sua carreira como compositor quando ele lançou Blues Away no álbum dos Jacksons de 1976. Aos 17 anos, ele já entrava em temas maduros que ele desenvolveria em trabalhos futuros. I'm So Blue conta sobre uma história de amor com um final triste, e Michael canta toda a sua solidão.

A balada é envolvida em um doce arranjo. Os riffs de introdução instantaneamente estabelecem o palco e o clima da canção. Os acordes são groovy e tristes, e a voz de Jackson nos primeiros versos reflete a tristeza da história.

A seção da bridge da canção tem esse grande solo de gaita, ou ao menos um instrumento que soa como uma gaita: "Foi, na verdade, um sintetizador de gaita," revela Forger. "Foi John Barnes. Ele é um tecladista muito talentoso. E ele conseguia tocar muitos instrumentos, metais. Então ele entendia como um músico que toca o instrumento real e como as notas tinham de ser atacadas e esta é uma das coisas as quais ele era muito talentoso e versátil."

I'm So Blue está incluída em BAD 25 como uma gravação demo. Sua sofisticação e alguns de seus arranjos polidos realmente colocam a canção em outra categoria. O que a maioria dos artistas consideraria gravações finalizadas, Michael Jackson chamava de demos.


Song Groove (AKA Abortion Papers) (Gravada por Brian Malouf e Gary O)

Em Song Groove, Michael Jackson aborda um problema social que ainda está em debate hoje. Este é um tema já abordado por outros artistas pop. E, inesperadamente, Jackson compôs uma música sobre o assunto, tentando não ofender as mulheres que podem enfrentar tal situação.

O título da canção, Song Groove, é acompanhado por outro título: Abortion Papers. Soa como se os dois títulos dificilmente combinariam: de certa forma, como um título como Song Groove pode ser usado para uma música sobre aborto? Uma das habilidades de Jackson era criar músicas uptempo e cativantes com temas profundos e melancólicos. Billie Jean pode ser o melhor exemplo, por contar sobre a história de uma mulher que alega ter um filho de Jackson. Em Abortion Papers, Jackson usa do tema musical uptempo para espalhar sua mensagem. A história deste título duplo reflete a forma de Jackson trabalhar em idéias musicais: "Quando nós fizemos a pesquisa haviam duas fitas e cada fita era uma fita analógica multi-faixa escrita Song Groove," relembra Forger. "Mas nós não nos demos conta de que Abortion Papers foi gravada em duas partes. Metade da canção estava em uma fita, metade estava em outra fita. E ao ouvir eu disse, "esta fita é metade de outra fita que temos." E então pesquisamos mais e encontramos outra fita e nós juntamos as duas para extrair a gravação completa."

Então é necessário pessoas como Matt Forger para realmente entender o que está nos arquivos. Algumas canções tinham títulos de trabalho que mudaram no processo. Em BAD, o primeiro título de The Way You Make Me Feel era Hot Fever. Este título de trabalho veio à tona apenas uma vez, em um raro Promo CD americano da Edição Especial de BAD de 2001.

Musicalmente, Song Groove dá dicas das texturas e designs de som que seriam desenvolvidos em Dangerous: a atmosfera dúbia e tensa, as máquinas e os sons metálicos: eles já estão aqui. "Em Song Groove temos uma qualidade agressiva na música que ele estava desenvolvendo e compondo," conta Forger. "Este foi o momento em que, com o incentivo de Quincy, Michael compôs todas as músicas do álbum BAD, tanto quanto ele pudesse. Eu trabalhei com Michael junto com Bill Bottrell, John Barnes e Chris Currell. Nós trabalhamos com ele nos estúdios de Hayvenhurst que Michael chamava de Laboratório. A minha função era trabalhar com Michael e tomar todas essas idéias musicais que Michael estava trabalhando e desenvolvendo: seu estilo de produção, seu estilo de composição, seu estilo de arranjos. Tudo estava em torno do que Michael desenvolvia, o que foi fascinante para mim poder observar. Muito do estilo que você escuta nas canções incluídas em BAD 25 foi desenvolvido em álbuns posteriores."


(parte 2)


Free (Gravado por Bill Bottrell)


Mais uma vez, a influência de Stevie Wonder é altamente palpável nesta canção. Desde a já mencionada Blues Away de 1976 até os trabalhos mais recentes como Beautiful Girl (lançada no box set de 2004 Ultimate Collection), as baladas compostas por Jackson muitas vezes apresentam harmonias inspiradas por Wonder. Free também soa como alguns dos trabalhos dos Jacksons do final dos anos 70. O amor de Jackson por melodias doces pode ter sido alvo de escárnio ao longo dos anos, mas o compositor e colaborador de Celine Dion, Jean Jacques Goldman, disse à rádio RTL em 2009: "Ele é um grande compositor. We Are The World pode soar fácil, mas é necessário talento para criar uma melodia como tal. Ele é um músico e um arranjador."

Free apresenta o cantor de baladas Jackson em sua melhor forma: com alma, feliz e se divertindo. "Esta é uma das minhas canções favoritas aqui porque você pode ouvir a emoção de Michael, e seu espírito, você pode escutar sua felicidade e alegria," confirma Forger. "E este é o sentimento que tínhamos no estúdio. A atmosfera no estúdio era sempre de emoção. Ele estava sempre tão feliz e gostava tanto do trabalho. Quando você ouve a voz de Michael, faz você sorrir e se sentir tão bem que você pode sentir a alegria. Sempre que ouço a música Free, me faz me sentir tão bem por dentro."


Price Of Fame (Gravada por Bill Bottrell e Matt Forger)

Aqui está uma canção que tem uma longa história na comunidade de fãs de Michael Jackson. Price of Fame foi programada para ser o tema principal da campanha da Pepsi. A canção não foi lançada e eventualmente foi substituída por uma versão especial de BAD com letras sobre a Pepsi. Matt Forger relembra: "havia uma versão especial de Price of Fame com letras diferentes para a Pepsi. Eu não acho que muitas pessoas a escutaram. Mas esta é a versão original de The Price of Fame em BAD 25, e ela foi gravada em Hayvenhurst."

Como soa como uma sequência de Billie Jean e uma antecipação de Who Is It, Price of Fame também tem sua própria identidade e originalidade. Ela é construída em torno de uma leve batida Ska / Reggae, uma das escassas incursões de Jackson no gênero (ele também gravou os backing vocals de Don't Let a Woman (Make a Fool out of You) de Joe King Carrasco em 1982).


Al Capone (Gravada por Matt Forger e Bill Bottrell)

Outro título conhecido pelos fãs e experts de MJ há muitos anos. Descrita como uma demo bem crua ou encarnação do que seria Smooth Criminal, Al Capone reflete o amor de Jackson em contar histórias. É óbvio, o cinema teve um enorme impacto em seu trabalho e em sua visão enquanto artista. Começando com o vídeo épico de Can You Feel It (Triumph, 1981), Jackson sempre fugiu dos limites para inovar e apresentar sua música com uma forte vertente cinematográfica. A canção foi gravada em Hayvenhurst e Matt Forger lembra o ângulo original da música: "Al Capone foi composta em torno de uma figura histórica real. Ela estabelece as bases para a canção que se tornou Smooth Criminal. Michael usou muitos dos mesmos temas e idéias similares para criar Smooth Criminal".

Como Al Capone era sobre uma figura histórica, Jackson refinou sua visão e optou por um história totalmente diferente: "Em Smooth Criminal ele compôs uma história e a tornou única. Não era sobre uma figura histórica como Al Capone. Ele fez sua própria história e isto era algo novo e fresco na sua visão."

Assim como as idéias e elementos de Streetwalker foram retrabalhados para criar a primeira versão da música Dangerous, Al Capone e Smooth Criminal foram moldadas com os mesmos tipos de elementos. E, na verdade, ambas as músicas parecem derivar de outra canção que Jackson gravou anteriormente e que já foi amplamente discutida entre os fãs da música de MJ: "Chicago 1945 foi feita antes de Al Capone" explica Matt Forger. "Ela falava sobre uma época no tempo, sobre o que acontecia em Chicago naquele ano. Era quase como se você estivesse lendo os jornais daquela época. Era uma música que talvez Michael tenha usado como idéia para Al Capone, e Al Capone foi a idéia de Smooth Criminal. Então talvez haja algumas semelhanças, mas esta é uma canção diferente. Al Capone foi a abordagem nova e definitiva e Smooth Criminal era muito mais refinada."


Je ne veux pas la fin de nous

Vazada na internet em 2001, Je Ne Veux Pas La Fin De Nous é a única tentativa de Jackson em cantar na língua francesa. Ele escolheu adaptar sua música I Just Can't Stop Loving You em espanhol e em francês para alcançar novos públicos. Outros cantores também foram nesta direção, e o objetivo direto disto era melhorar suas imagens em mercados específicos.

Como a versão em espanhol, Todo Mi Amor Eres Tu, foi co-escrita por Ruben Blades (Jackson também trabalharia com ele na versão em espanhol de seu single cheio de estrelas lançado na internet em 2003, What More Can I Give), a versão francesa foi escrita por Christine Decroix, uma ex-protegida de Quincy Jones. Decroix lembra que a faixa foi gravada com pressa, pouco antes de Jackson ir para o Japão dar início à BAD Tour. Levou a ela algo como uma noite para escrever as letras, e ela esteve no estúdio com ele para treiná-lo e dar-lhe instruções para que ele pudesse obter o sotaque certo.

A versão da faixa apresentada em BAD 25 é a versão final feita em 1987: "Este não é um mix novo," confirma Matt Forger. "O mix existiu na época. Eu sabia apenas que havia uma versão em espanhol e outra em francês. Houve muita pesquisa e interesse em lançar a música. Me disseram para mixá-la para o BAD 25. No entanto, as pessoas com quem eu trabalhei e e eu dissemos que tínhamos de pesquisar completamente e porque sabíamos que algo havia sido feito em 1987. A minha filosofia toda é: cada vez que eu conseguia encontrar um mix muito bom e representante do que a música deveria ser e a da forma como Michael iria querer a música daquela época, a minha escolha é de usá-lo. Nós pesquisamos muito e encontramos o mix e ficamos tão felizes por podermos encontrá-lo. Ele era tão autêntico."


Durante as sessões de BAD, Michael Jackson considerou muitas músicas que no final foram descartadas. O compositor Rod Temperton, que fez parte do Time A de Off The Wall e Thriller, apresentou algumas músicas para BAD, sendo uma delas Groove of Midnight. Esta música foi eventualmente gravada por Siedah Garrett e lançada em seu álbum de estréia, Kiss of Life pela Qwest Records (1988). "Rod Temperton tinha algumas músicas," Matt Forger relembra. "Quincy pediu a ele algumas músicas prontas. Groove of Midnight é uma dessas músicas. No entanto, nós procuramos e não encontramos uma versão com os vocais de Michael. Não era uma música que eles consideraram para o álbum BAD."

BAD foi a colaboração final entre Michael Jackson e Quincy Jones. Ambos artistas seguiriam caminhos diferentes após o lançamento do álbum. Jones se afastou do mundo da música e mergulhou na era da multimídia, principalmente com o lançamento de sua aclamada publicação urbana: a Vibe Magazine. Jackson entrou na década de 90 reconhecendo a cultura Hip Hop ao trabalhar com o guru do New Jack Swing, Teddy Riley, e criou trabalhos ainda mais ambiciosos como compositor, arranjador e produtor. Muito foi falado sobre o respectivo e verdadeiro papel de Michael e Quincy no sucesso das músicas que eles criaram juntos. Matt Forger sente que o debate foi um pouquinho longe demais: "Eu já li todas essas discussões sobre Quincy e Michael na internet. Eles brigam e discutem sobre o envolvimento real de Quincy ou Michael na produção da múisica. Uma das coisas que nós vemos agora, 25 anos depois, é o trabalho maravilhoso que Michael fez. Quincy encorajou Michael como compositor, arranjador e produtor. Houve algumas diferenças de opinião como quando Quincy contou sobre Streetwalker vs. Another Part of Me nas entrevistas da edição especial de 2001, e é claro que coisas assim aconteceram."

Durante as sessões de We Are The World, Quincy botou uma placa na entrada do estúdio, dizendo: "deixem seus egos na porta." O que deveria ser lembrado de discos como BAD é que quando tais músicas foram lançadas ao público, a palavra "álbum" tinha um sentido e o conceito era desenvolver um grande visual em torno das músicas. Isto é algo que talvez tinha sido subestimado todos estes anos. Não é coincidência que 9 das 11 músicas foram lançadas como single e foram altamente aclamadas. Estes eram dias em que álbuns não colecionavam enche-linguiças mas, assim como Thriller foi gerado, eram uma coleção de músicas que poderiam ser consideradas, sem exceção, para um lançamento em single. Com BAD, Michael Jackson atingiu um novo auge que pessoas da sua idade mal ousavam ou conseguiam alcançar. E 25 anos depois, a música e a visão estão alcançando uma nova geração: BAD 25 está no topo das paradas do mundo todo. Enquanto ele tentava superar Thriller, Michael Jackson na verdade criou um álbum que pode ser tocado como uma coleção de seus maiores sucessos que refletem suas fantasias, visão de vida, e também espalha uma mensagem muito forte como o hino Man In The Mirror: "Se você quer tornar o mundo um lugar melhor, olhe para si mesmo e faça a mudança." Esta era a mensagem dos dias de BAD.



Traduzido por Bruno Couto Pórpora