sábado, 22 de setembro de 2012

Um Pedaço da História: Michael Jackson ao vivo no Estádio Wembley

Huffington Post, 13 de setembro de 2012
Por Joseph Vogel

Há vinte e cinco anos atrás, no fim do verão de 1987, Michael Jackson lançava sua muito esperada sequência de Thriller, o álbum Bad. Bad acabou lançando cinco hits No. 1, vários curta-metragens clássicos e uma turnê mundial que quebrou recordes. Até hoje, estima-se que vendeu entre 30-45 milhões de cópias. Para celebrar o marco, o Espólio de Michael Jackson e a Epic/Legacy Recordings irão lançar um set com três CDs (Bad 25, em 18 de setembro), que inclui o álbum original remasterizado, um álbum de faixas bônus, incluindo demos e remixes, e um álbum ao vivo de sua Bad World Tour.

Juntamente com as novas músicas, o ponto alto da caixa Bad 25 é sem sombra de dúvida o DVD Live at Wembley. É um extraordinário pedaço de história que poderia ter sido perdido se não fosse por um descoberta casual entre os pertences de Jackson. Os shows de Wembley são o equivalente aos dos Beatles no Estádio Shea em 1965. Mas não se enganem: a performance de Jackson aqui eclipsa até os seus antecessores mais talentosos.

Infelizmente, apesar de uma extensa pesquisa através dos arquivos do popstar, o espólio de Jackson não conseguiu localizar as fitas master Umatic originais dos shows de Wembley. Talvez um dia desses elas apareçam em algum lugar. O que eles encontraram foi uma cópia em VHS do show, da próprio coleção pessoal de vídeos do cantor. "Mesmo encontrar esse VHS pareceu um milagre para nós," diz o co-executor do Espólio, John Branca.

Um perfeccionista, Jackson muitas vezes assistia a fitas de seus shows como esta para verificiar se a "magia" estava sendo capturada e o que poderia ser melhorado não apenas em sua própria performance, mas na do resto da equipe. Esta era sua cópia de exibição da lendária performance de 16 de julho de 1988, com a presença de 72,000 pessoas, incluindo a princesa Diana e o príncipe Charles.

Embora a origem da filmagem permaneça "pré-HD, qualidade VHS de 1988", ela foi restaurada por uma equipe que também tratou imagens recuperadas para a NASA. O resultado não é uma imagem de alta definição perfeita, mas para mim, pelo menos, tirou pouco da apreciação da experiência. Assistir ao DVD é como ser transportado no tempo. Parece como a era de onde ele vem. Em geral, parece que os closes e os ângulos médios estão mais nítidos, enquanto os planos gerais ficam um pouco embaçados às vezes. Felizmente, porque o trabalho de câmera é tão bom, conseguimos alguns close-ups brilhantes de Jackson que poderiam ser confundidos com alta-definição. Acrescente isso ao áudio original que foi captado em multi-faixas e apresentado em áudio 5.1, acaba sendo difícil reclamar sobre os resultados.

A Bad World Tour começou em setembro de 1987 no Japão e terminou quase dezesseis meses depois, em Janeiro de 1989 em Los Angeles. Tornou-se a série de shows de maior bilheteria e platéia na história. Jackson se apresentou para estimados 4.4 milhões de fãs em quinze países. Também foi sua primeira e última turnê solo na América do Norte.

Os shows de Londres aconteceram no meio da segunda etapa da turnê. A Michael-mania estava varrendo toda a Europa. Em Viena, na Áustria, a Associated Press noticiou que cerca de 130 pessoas desmaiaram durante o show. Quando ele chegou a Londres, a excitação chegou a um nível de febre. Todos os sete shows no Estádio de Wembley se esgotaram, quebrando os recordes anteriormente detidos por Madonna e Bruce Springsteen.

Assistindo ao show de 16 de julho em DVD 24 anos depois, ainda se pode sentir a energia visceral e a emoção no estádio. Quando Jackson finalmente aparece de dentro da fumaça e começa o número de abertura, Wanna Be Startin' Somethin', a multidão entra em erupção. Este é Michael Jackson no auge do seu poder de performance.

No entanto, parte do que torna a performance tão agradável é o quão simples e espontânea ela é (para os padrões de Jackson), desde o design do palco, aos figurinos, iluminação e apresentação em geral. O diretor musical Greg Philinganes lidera uma banda dinâmica, elevada atrás do palco, enquanto Jackson é acompanhado, em muitos dos números coreografados, por um grupo de talentosos dançarinos andróginos, em uma moda Blade Runner (incluindo Lavelle Smith).

A abordagem minimalista permite que o talento de Jackson - como cantor, dançarino e performer - brilhe. Ele está solto e exuberante, como se ele estivesse se divertindo muito, e nós estamos lá para assistir. Jackson canta ao vivo pela maior parte do show, e improvisa brilhantemente em certos momentos. Ao fim de I'll Be There, por exemplo, ele começa a improvisar como um pregador do evangelho possuído pelo Espírito. Ele pergunta e recebe respostas dos seus cantores de back-up e da platéia. "Can you feel it!" ele exclama. Pingando de suor, a música pulsando através dele, ele começa ritmicamente a bater o pé antes de se lançar ao próximo número.

Outros destaques incluem o locking, popping e mímica de Jackson ao fim de Human Nature e seus gritos etéreos dirigidos para o público. A introdução de Smooth Criminal em silhueta esfumaçada, que entrega a agora famosa e ainda cativante coreografia. O solo de bateria extendido de Billie Jean que permite a Jackson improvisar com a batida - girando, chutando e deslizando. Parte do que torna Jackson tão atraente como performer é como o seu corpo está constantemente em movimento e totalmente em sincronia com a música. Por todo o show, ele se torna, como ele costumava dizer, "o meio através do qual a música flui."

Um dos momentos mais agradáveis acontece no final, quando Jackson brinca introduzindo seus cantores de back-up, guitarristas e banda. Dá um senso de humor e alegria em fazer parte de uma colaboração criativa. Ele também permite que um grupo de crianças suba ao palco, e elas tentam imitar os movimentos de dança de seu ídolo.

O show termina com uma performance de tirar o fôlego de Man In The Mirror. Como Spike Lee (que acabou usando a performance para concluir o seu documentário Bad 25) disse, "Se você olhar para aquela apresentação, ele está em outro lugar. Esta é uma das melhores performances de todos os tempos. Você vê a forma que Michael canta aquela canção - ele não é deste mundo. Ele está em outro lugar."

Jackson se apresentou em um total de sete shows em Londres, para estimadas 500,000 pessoas. A demanda por ingressos era tão grande que foi estimado que ele poderia ter feito pelo menos mais 10 shows esgotados em Wembley se ele quisesse. Todos queriam testemunhar o fenômeno que era Michael Jackson.

Em 18 de setembro, depois de anos amontoando poeira em um armazém, o mundo finalmente terá a chance de experimentar a magia de novo.



 Traduzido por Bruno Couto Pórpora