sexta-feira, 31 de agosto de 2012

"Bad", a Sequência do Arrasa-Quarteirões de Michael Jackson (NY Times, Agosto 1987)

New York Times, 31 de agosto de 1987
Por Jon Pareles

O que Michael Jackson poderia fazer em sequência ao álbum mais vendido até o momento? Esta tem sido a pergunta desde 1983, quando as vendas de Thriller explodiram - e as respostas nos últimos anos foram um pouco peculiares. Ao invés de gravar, o sr. Jackson fez um filme para a Disneylândia; mandou implantar um furinho no queixo; ofereceu a um hospital britânico um milhão de dólares para comprar os restos do Homem Elefante. A espera entre os álbuns chegou a quatro anos e meio. Hoje, dois dias após o aniversário de 29 anos do Sr. Jackson, o altamente esperado Bad (Epic EK 40600) chegou às lojas de música e é um reluzente disco de dance music high-tech que é apenas um pouquinho excêntrico em suas bordas.

A máquina promocional que ajudou Thriller a vender 38.5 milhões de cópias no mundo todo já foi acionada. I Just Can't Stop Loving You, uma doce balada, foi lançada como single em julho. As estações de rádio já começaram a tocar outras músicas do álbum desde a última quinta-feira.

O novo look de Michael Jackson também está em destaque. Hoje, às 20h, a CBS, que é dona da Epic Records, exibirá um especial de 30 minutos, "Michael Jackson - The Magic Returns", que irá apresentar o videoclipe de Bad, dirigido por Martin Scorcese. As fitas não foram disponibilizadas para os críticos antes da estréia. Um sinal de todo o merchandise a vir é "Michael's Pets", uma coleção de bichos de pelúcia baseada no zoológico particular do Sr. Jackson. E ele começa uma turnê mundial em 12 de setembro, em Tóquio; a turnê deve chegar aos Estados Unidos no ano que vem.

O frenesi e a antecipação deve levar Bad ao Top 10. Bad soa extremamente atual. O Sr. Jackson e seu produtor de longa data, Quincy Jones, idealizaram arranjos orientados pelos sintetizadores que são claros, mas que carregam um chute sólido. Em meio a eletrônica moderna, há um gosto de música soul mais antiga, com o groove e a harmonia de blues de The Way You Make Me Feel e a elevação gospel de Man In The Mirror; apesar do Sr. Jackson parecer estar clareando sua pele, ele não se afastou da música negra.

Há também, é claro, ecos de Thriller. Uma linha melódica de Billie Jean reaparece em Liberian Girl, enquanto Dirty Diana, uma música sobre uma groupie que agarra o narrador, mistura os medos sexuais de Billie Jean com a guitarra principal de hard-rock de Beat It. O longo riff de Bad relembra o da canção Thriller. E onde Paul McCartney e o Sr. Jackson discutiam sobre um romance em The Girl Is Mine em Thriller, em Bad Stevie Wonder e o Sr. Jackson fazem o mesmo em Just Good Friends.

Pela primeira vez, o Sr. Jackson escreveu a maioria das músicas de um álbum - 8 de 10 canções no LP e cassete de Bad, 9 de 11 no CD. (Ele escreveu quatro das nove canções em Thriller.) Mas Bad é um álbum ainda menos revelador.

As letras do Sr. Jackson em Thriller testemunhavam um medo e paranóia opressivos. "Eles vão te pegar, melhor dar o fora enquanto o pode," ele avisava em Beat It. Em Bad, há ainda alguns sinais daquele medo. Dirty Diana reduz o cantor a soluços amedrontados; em Smooth Criminal, o cantor encontra um tapete com marcas de sangue e um corpo inconsciente e pergunta, obsessivamente, 'Annie, você está OK?" quando, claramente, ela não está. Mas o Sr. Jackson geralmente fica longe das perigosas zonas psicológicas. Ele se retrata em termos convencionais do pop, como um amante ao invés de um fora-da-lei; quando ele insiste que é "muito, muito mau" em Bad, não consegue ser muito convincente.

Além destas poses, ele parece isolado e feliz com isso. Man In The Mirror, composta por Siedah Garrett e Glen Ballard, declara que a forma de "tornar o mundo um lugar melhor" é "olhar para si mesmo e fazer a mudança"; é ativismo para os heremitas. A versão em CD de Bad tem um extra, uma faixa que termina o álbum com uma mensagem que não deixa dúvidas: Leave Me Alone (Me Deixem em Paz). As letras mais estranhas aparecem em Another Part Of Me, mensagens cósmicas entregues por um messiânico "nós".

Enquanto as letras de Bad são impessoais, a música gira em torno da voz singular do Sr. Jackson. Ele levou seus maneirismos vocais ainda mais longe - a longa respiração, as hesitações, os gritos - e eles apimentam o vocal principal, que encontra a percussão em cada consoante e atravessa ritmos com cada "hoo hoo!" e "aaow!" Apesar de que o Sr. Jackson nunca será um cantor do tipo que grita, ele consegue juntar os timbres da exortação de um cantor de soul com sua voz de "alto" andrógino.

E enquanto o Sr. Jackson sussurra e canta, o groove da dança o leva junto. Nada em Bad se compara a Wanna Be Startin' Somethin' de Thriller, mas as batidas são nítidas e irresistíveis.

Álbuns multi-platinados captam um momento da cultura. Para Thriller, aquele momento envolvia não apenas as mensagens misturadas de suas canções - exuberante música conectada a suspeita e paranóia - mas também a simbiose dos videoclipes e a presença de tela do Sr. Jackson como cantor, dançarino e ícone. Agora, o videoclipe não é mais uma novidade; Bad não tem a meta de ultrapassar os extremos emocionais de Thriller. É um disco de pop dançante e bem feito por um popstar enigmático.


 Traduzido por Bruno Couto Pórpora