quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Os Criadores de 'This Is It' (ComingSoon.net, Outubro 2009)

ComingSoon.net, 23 de outubro de 2009

Na quarta, 28 de outubro, o mundo finalmente terá a chance de assistir à algumas das últimas performances do Rei do Pop, Michael Jackson, graças ao extenso material filmado durante os ensaios que se acumulou durante os meses em que ele se preparava para uma série de shows esgotados na Arena O2 em Londres, planos que foram findados com a morte inesperada de Jackson em 25 de junho.

O resultado foi This Is It, não necessariamente um filme-concerto tanto quanto uma documentação dos bastidores de todo o trabalho e preparação no que muitos imaginavam ser o retorno de Jackson.

Para saber mais sobre o filme, a ComingSoon.net sentou com o diretor do filme Kenny Ortega e o coreógrafo Travis Payne, dois profissionais que já haviam trabalhado com o cantor em seus shows ao vivo desde as turnês Dangerous e HIStory, assim também como o diretor musical do show Michael Bearden.

Antes de nossa entrevista, assistimos a um breve clipe de aproximadamente 13 minutos de imagens do fime, que mostrava Jackson preparando alguns dos números do show com seu time. A filmagem vai através de músicas como Human Nature e The Way You Make Me Feel em suas várias encarnações enquanto assistíamos à sua evolução do início dos ensaios às últimas semanas logo antes do momento em que o show iria estrear. É desnecessário dizer que, na primeira vez em que vemos Jackson em plena energia fazendo alguns de seus passos inconfundíveis, um calafrio passa pela sua espinha, porque é óbvio ainda mesmo naquela pequena amostra que Jackson ainda estava no seu auge quando faleceu.

ComingSoon.net: Quando tempo geralmente leva para montar uma produção desta escala? Eu sei que os shows foram anunciados em março, então vocês já estavam planejando e preparando naquele momento?
Kenny Ortega: Não, na verdade, nenhum pouco. Michael me chamou pouco antes do anúncio em março, e então começamos no início de abril, e no começo era apenas montar o time e discutir conceitualmente, então os dançarinos começaram no final de abril, a banda começou na primeira semana de maio, não?
Michael Bearden: A banda começou na primeira semana de maio, mas eu comecei mais cedo. Eu estava dentro antes dos dançarinos.
Ortega: Nós montamos nosso time criativo, então inserimos os dançarinos, cantores e banda. Michael estava, na verdade, trabalhando em privado com Travis construindo suas coreografias e também trabalhando em privado com o Michael [Bearden] na música. Nós todos meio que nos juntamos no grande palco, no Forum, em maio.
CS: Então é o Forum que nós vemos no filme.
Ortega: O Forum e o Staples Center. Tem cinco locais no filme: o O2 onde o Michael fez a conferência de imprensa, o Nokia Live que é onde fizemos os grandes testes de dançarinos, e então no Center Stages onde fizemos os encontros com a banda, dançarinos e cantores no começo dos ensaios, e então mudamos para as arenas e começamos a colocar o show em pé.
CS: Então nós vamos ver um pouco dos testes e outras coisas que levaram aos ensaios?
Ortega: Sim, sim.
Travis Payne: O filme é a história do que seria This Is It. É o processo completo, a criação do show.
CS: Eu sei que vocês dois (Kenny e Travis) trabalharam com Michael por um longo tempo, mas foi esta a primeira vez em que você trabalhou com ele, Michael?
Bearden: Não, eu trabalhei com Michael em 2001 no show de 30 anos no Madison Square Garden, momentos antes de 11/09 acontecer. Esta foi a primeira vez em que trabalhei com ele de forma tão próxima. Eu era apenas um músico naquela banda, e eu trabalhei com seus irmãos e todo artista que esteve no show, mas esta não foi a primeira vez em que trabalhei com ele.
CS: Já que todos vocês trabalharam antes com ele, vocês tiveram a impressão de que ele tentava se reinventar de alguma forma ou era apenas uma preocupação em dar aos fãs o que eles esperavam?
Ortega: (Ri) Ele não precisava se reinventar. Reinvenção não era o que importava, mas sim em montar o show. Em momentos, havia a preocupação em reimaginar, refrescar, criar novos estímulos, surpresas.
Bearden: Expandir idéias.
Ortega: Expandir idéias, mas haviam também os clássicos que não precisavam ser mexidos. Havia uma grande dinâmica de idéias que eram tão simples e tão básicas e tão íntimas como Michael estar apenas parado no palco sob um holofote de luz com a banda e a platéia, em frente a estes elaboradíssimos filmes em 3D produzidos para o show. Nós tínhamos um elenco de 70 que era planejado para abrir o show em Londres. Era sem sombra de dúvida a produção para uma arena mais bem realizada, acredito eu, de toda a história.
Bearden: Amém.
Payne: Sim.
CS: Pelo que eu vi, ele poderia ter sido como um show da Broadway de longa temporada. Eu fiquei curioso sobre a filmagem de tudo. Era sempre muito comum se fazer isso?
Payne: Sempre foi parte do processo documentar tudo, geralmente apenas pelo bem da referência, para que pudéssemos comparar o que aconteceu de um dia para o outro. Tudo no esforço de transformar as idéias ao melhor que poderiam ser, então felizmente, como em todo processo, as câmeras estavam rodando, e foi agradecidamente por isto que pudemos construir o filme.
CS: Quem veio originalmente com a idéia de fazer isto? Vocês obviamente haviam gasto bastante tempo montando o show, mas quem disse, "Nós deveríamos ao mesmo tentar mostrar às pessoas o que elas teriam visto..."?
Ortega: Bem, os fãs estavam exigindo isto. Imediatamente depois que Michael morreu, enquanto nós todos fomos pegos pela tragédia disto, no meio de criar o memorial e realmente estando em câmera lenta com toda a surrealidade do que aconteceu, os fãs que também estavam passando por sua tremenda agonia pela perda de Michael, diziam ao mesmo tempo, "Nós tínhamos ingressos. Nós temos de saber o que isto era. O que vocês estavam fazendo? Por favor, por favor..." Eles estavam implorando de todos os cantos do mundo em todas as línguas. "Por favor, por favor, deixe-nos saber o que o Michael estava fazendo. Divida com a gente, qualquer coisa. Vocês não tem nada?" Então o espólio que representa os melhores interesses de Michael e sua família ficarem sabendo disto, vieram à gente e disseram, "Nós precisamos fazer isto". No início, nós todos pensamos tipo, "Hã?" Mas agradecidamente, todos nós concordamos que... nós dissemos que este era um projeto de honra, não um projeto de glória, e que isto era sobre um chamado. Era nossa responsabilidade reconhecer que a jornada não havia terminado, e que nós tínhamos que continuar nela e montar tudo e encontrar uma forma de ser objetivo o suficiente para conseguir fazer. Foi muito difícil, mas nós tínhamos um ao outro na sala, nós levantávamos um ao outro...
Bearden: Muitas horas de choro. Muitas.
Ortega: Tínhamos que parar pra dar uma caminhada.
Bearden: Sim.
Payne: E este era o maior trabalho do Michael, e ele era tão apaixonado por ele. Ele sabia que este era o momento para retornar ao palco e relembrar às pessoas de muitas mensagens que foram tecidas pela sua música e sua arte por anos. Paz e esperança e amor e proteger o planeta e fazer tudo o que podíamos como humanidade para assegurar que haja um ambiente seguro o suficiente para as gerações futuas habitarem. Nós sabíamos que isto desde o começo era muito importante para ele. Foi uma jornada que nós todos havíamos começado juntos e era muito importante que nós a terminássemos... com e por Michael.
CS: Em que momento vocês começaram a olhar as filmagens e o que foi envolvido nisto porque, certamente, deve ter sido muito difícil.
Bearden: Bem, foi depois do memorial e havia conversas de um show tributo e foi bem antes da compra das filmagens e assim que a Sony adquiriu os direitos, todas as conversas sobre tributos cessaram e eles trouxeram Kenny e Travis e eu para vermos esta filmagem interminável de...
Ortega: (Ri) 80 horas de material.
Bearden: E foi muito emocionante porque nós não havíamos lidado com isto até aquele momento.
CS: Não viram as 80 horas de uma vez, é claro.
Ortega: Não, não, não, mas basicamente, nós vimos o bastante para saber que havia o suficiente ali para se criar alguma coisa, e isto foi tipo em meados de julho. Então nós começamos a discutir sobre ele musicalmente, conversamos sobre ele conceitualmente, e então deixamos os editores por duas semanas e demos a eles o conceito do plano e direção, e então eles fizeram uma assembléia massiva de mais ou menos seis horas onde todos nós fomos e assistimos juntos e então discutimos, e então basicamente começamos ali dizendo, "Okay, este é o filme que queremos fazer. Nós vemos um filme aqui."
Bearden: A certo ponto, um de nós estava com MJ todos os dias, fosse Travis ou Kenny ou eu ou todos nós coletivamente, era um grande pedaço de barro e nós víamos aonde podíamos começar para modelar e tínhamos de fazer isto enquanto time, porque havia tanto a se fazer, e outra coisa que fizemos foi sempre considerar Michael em cada aspecto, então não éramos apenas nós guiando o martelo e esculpindo, era MJ. Eu diria, 'Ele gosta deste enquadramento aqui? Não." Cada um de nós tinha seu momento para sentir a presença de Michael, e foi o que aconteceu. Nós tínhamos um diagrama maravilhoso de Michael; ele sempre foi o arquiteto de tudo o que fazia, e desde que estávamos lá todos os dias, nós sabíamos o que ele queria e tentávamos realizar sua visão e tentamos traduzir isto no filme.
Ortega: Eu tenho de lhe contar. Um dia, estávamos sentados na sala olhando a três diferentes performances dos ensaios de Michael cantando uma canção, e eu disse, "Eu amei esta. Como vamos fazer para não perder isto?" e Travis e eu estávamos vendo e eu disse, "O que você acha que devemos fazer?" e Travis disse, "Todas elas", e eu falei, "O que?". Ele disse "Todas elas". Ele me falou, "use todas elas". Então percebemos que ele estava no quarto, e ele estava conversando conosco e ele estava dizendo, "Você não precisa mostrar apenas uma delas, mostre todas!" Em diferentes intervalos do filme, você pode ver Michael no ensaio de uma tarde e então na próxima música, você pode ver semanas de ensaios compilados. Nós realmente nos sentimos guiados, de verdade. A outra coisa que estava nas nossas mentes e nos nossos corações todos os dias eram os fãs. O que eles precisam? O que vai ajudá-los a curar esta dor no coração de cada um deles. Antes de jogarmos algo fora, nós dizíamos, "Eu não sei sobre isto. Eles vão querer isto." Então brigamos por eles, estávamos lá por eles.
CS: Na filmagem, há uma tela dividida com Michael fazendo três diferentes versões do final de uma canção. Este show parece tão planejado e tão bem ensaiado que ainda há lugar para improvisos quando se trata do que Michael faz em cada canção?
Ortega: Esses caras tiveram de aprender cada música de cada disco. Eles tinham o catálogo inteiro.
Bearden: Nós tínhamos cerca de 30 músicas prontas em duas semanas. Eu tenho meio que a mesma ética de trabalho do MJ. Ele é muito concentrado no que faz. Muito doce, muito gentil, um perfeccionista mas não de uma forma ditatorial onde você deve fazer o que ele mandar. É uma colaboração, mas ao mesmo tempo você tinha de ter pronto o que ele queria feito. Nós tínhamos de estar prontos para o que fosse que ele quisesse, porque ele era tão espontâneo e criativo, embora ele tivesse uma grande percepção sobre direção. Uma coisa maravilhosa que eu amava em MJ é que ele permitia discussões criativas, então se havia alguma coisa que eu não gostasse - ou não mesmo que eu não gostasse, mas que eu tivesse uma sugestão diferente - então ele diria, "Bem, me faça sentir isto. Okay, vamos fazer assim."
Payne: Tendo dançado no palco com ele nas turnês Dangerous e HIStory, ele era um mestre de um dançarino do improviso, o melhor que eu já vi, e havia muito espaço para ele ter experiências diferentes a cada noite. Haviam os momentos que ele chamava de pedaços, onde era esperado dele uma coreografia unida aos dançarinos, e é isto que enfocávamos nos ensaios, mas havia claramente espaço para ele ter sua própria experiência, então era fresco e novo para ele todas as noites.
Ortega: E ele sempre queria que você estivesse vigilante. Quando você trabalhava com Michael Jackson, você tinha que se ligar na tomada. Você não era a banda ou os cantores ou os dançarinos; você era uma extensão de Michael Jackson. Era um organismo, e você vê no filme. Há um momento onde ele diz, "Não, pare. Aconteceu muito rápido. Olhem pra mim!" ou alguém começaria a falar e ele diria, "Apenas preste atenção em mim. Eu te levarei até lá." O que acontecia é que Michael era o condutor, e em qualquer momento ele poderia começar a improvisar. Ele ia brincar com a platéia e ele diz, "Eu posso querer apenas balançar meus ombros. Eu posso querer apenas abrir meu casaco." Então o que basicamente estava acontecendo era que todos estavam entrando no ritmo, se ligando na tomada, e você até vê ele num momento onde ele faz uma parada e hesita um pouco para ver se alguém vai começar a música, um pequeno teste de passividade/agressividade... e ninguém começa, e então ele abre esse sorriso no rosto e sabe que está no comando e que todos o observam e estão prestando atenção, e então ele acena e tudo começa. Michael tinha aquela habilidade de, em qualquer noite, em qualquer horário, poder se ligar. Ele tinha de estar pronto e o coreógrafo também...
CS: Isso soa muito como James Brown. Eu já assisti a gravações de shows dele e você fica realmente maravilhado em como a banda dele conseguia acompanhá-lo, porque não havia maneira deles saberem o que ele faria em seguida.
Bearden: É engraçado que você diga isso porque nós conversamos muito sobre isso na verdade, e foi aí de onde ele conseguiu muita coisa assim. É mais ou menos como James Brown e Jackie Wilson e todas as coisas que ele absorveu quando era garoto. Quando ele e os irmãos tocavam no Regal em Chicago, ele ficava depois dos bastidores do palco apenas os ouvindo e os olhando e estudando e até mesmo aos 8 anos, ele já estava fazendo esses passos.
CS: Este filme não é um filme-concerto tanto quanto é um filme de bastidores...
Ortega: Quando nós começamos a fazer o filme, nós pensamos que ele seria uma espécie de documentário, e nisto que seria nós faríamos o melhor para contar a história do maior show que nunca será assistido. Eu sempre bato meu pé quando alguém tenta se dirigir a ele como um filme-concerto, eu falo "Não diga isso". Porque nós estávamos num processo de trabalho. Nós nunca conseguimos transformá-lo num show, o show que tínhamos como meta, no entanto, o filme em algum ponto começou a se formar por si próprio, e nós acabamos terminando com 111 minutos quase inteiros musicais. O som do filme é extraordinário. Michael trabalhou com Paul Masi, vencedor do Oscar que fez a mixagem de Shine a Light, o filme do Scorcese com os Rolling Stones. De verdade, é como um mosaico que mora no centro de ser um documentário e um filme-concerto.
CS: Você acha que um filme assim teria acontecido se Michael Jackson ainda estivesse vivo? Ele teria permitido que tantas imagens de bastidores fossem exibidas?
Ortega: Nós não achamos nenhum filme lançado que tivesse sido assim. Nós tentamos. Nós realmente queríamos encontrar um, queríamos que alguém nos mostrasse alguma coisa, para nos ajudar. Teria sido legal ter uma referência, e eu quero dizer, "Não, eu acho que não."
Bearden: Sim, alguém me perguntou isto antes e não há referência, porque até mesmo Shine a Light e todos esses tipos de filmes musicais, o artista pôde ir à estréia e assistir. Nunca houve a intenção para fazer de This Is It um filme.
Ortega: E quanto ao fato de que não havia ninguém na arena enquanto filmávamos.
CS: Eu ouvi alguns aplausos durante certos momentos então obviamente alguém deve ter entrado de penetra.
Ortega: 11 dançarinos e alguns membros da equipe que foram privilegiados de presenciar o momento.
Bearden: Você já viu o Michael em algum video numa arena daquela tamanho sem alguém dentro?
CS: Eu quero falar sobre o legado do Michael. Obviamente, ele fez e vendeu muitos discos, e agora todo mundo está percebendo que perdemos alguém grande. Você pode falar sobre este legado e sobre onde você sente que ele irá a partir daqui? Você acha que sua morte fará com que mais pessoas descubram sua música?
Payne: Eu penso que sim. Eu acho que, obviamente, a base de fãs do Michael que esteve com ele todos estes anos estava determinada a lotar o O2 para estar lá com seu herói, mas eu acho que claro, por causa de sua morte inesperada, há muito mais curiosidade em torno do projeto. Eu acredito que ele possivelmente poderá atingir muito mais pessoas do que teria. Infelizmente perdemos ele fisicamente no processo, mas eu acredito que ele ficaria feliz por uma platéia maior poder escutar e ver as mensagens que eram tão próximas e queridas no seu coração em todos estes anos que motivaram ele a querer voltar ao palco.
Ortega: E nós tínhamos tantos motivos por trás de tudo o que estávamos fazendo. Todo mundo que trabalhou neste projeto, assim que perdemos Michael, meio que sabia imediatamente que ele nos deixou com esta responsabilidade. Sua música sempre estará aí. Seus curta-metragens sempre estarão aí. Você pode ver Dangerous, você pode alugar HIStory ou Thriller, mas as razões as quais fizeram Michael querer sair e fazer esta série e além - levar o show à Índia, ao Japão, levá-lo ao redor do mundo - eram muitas, e elas eram profundas e eram sinceras, e ele ficava muito emotivo por conta de algumas delas. Nós estávamos lá todos os dias, indo para realmente apreciar e valorizar o porque Michael estava fazendo isto a este ponto de sua vida. Agora ele se foi e eu sei que falo por todos nós aqui e todo mundo envolvido, nós sabemos que parte do legado que temos que manter é fazer tudo o que possamos para relembrar às pessoas estas mensagens que eram tão importantes pro Michael. É assim que você mantém alguém vivo. É deste modo que o legado continua, e até cresce, que todos nós: seus fãs, as pessoas criativas que foram privilegiadas o suficiente para trabalhar com ele, temos de lembrar que temos nossa parte a cumprir. Temos uma responsabilidade a cumprir.
Payne: Eu espero que, se as pessoas assistirem a este filme, e forem capazes de conectar com Michael novamente e de ouvir suas mensagens que eram tão queridas por ele, se cada uma delas sair e fizer uma coisa todos os dias, então aquilo o terá feito feliz. Eu acredito que começar a partir daqui pode causar uma grande mudança, e isto seria um triunfo.
CS: Eu queria que tivesse tido um filme assim quando Elvis Presley faleceu ou quando John Lennon foi baleado, porque isto coloca o enfoque de volta na música. Eu não o vi em IMAX então como que a gravação foi traduzida para o formato maior, porque ela é obviamente bem crua.
Ortega: Sim... primeiramente, nosso produtor de pós-produção chegou saltitando. Chantal Feghali, uma maravilhosa co-produtora/supervisora de pós-produção, ela entrou e disse "Nós conseguimos o IMAX!" e nós meio que olhamos pra ela e dissemos, "O quê?!?" Porque é arenoso, é cru, não é sempre tão bonito.
Bearden: Não foi feito com a intenção de ser um filme.
Ortega: Mas na verdade, todos os caras que foram a Seattle para trabalhar nele voltarem pra gente dizendo, "Vocês vão ficar loucos." Sabe na noite do Halloween? Nós vamos ver em IMAX, eles vão projetar especialmente gente. Eu ainda nem tinha contado pra vocês.
Bearden: É verdade? Uou.
Ortega: Eu não sei se você sabe mas nós teremos 15 estréias mundiais acontecendo simultaneamente, o que me foi dito que é algo completamente único e de Los Angeles nós vamos ser meio que a base da exibição, ligada em todas essas 15 estréias ao redor do mundo, com telões em todo lugar, em Leicester Square em Londres, esperam que milhares de pessoas cheguem à uma da manhã. Nas ruas, eles vão ter telões enormes. Todo mundo no planeta ao mesmo horário. Estamos falando sobre grandes cidades como Sidney e Tokyo e Londres e...
Bearden: Até Bermuda!
Ortega: Bermuda, Munique, é bem excitante.
CS: Em relação aos seus próprios planos, Kenny, você irá voltar a trabalhar em Footloose agora que você terminou este projeto
Ortega: Uou! Você sabe, eu preciso tomar um minuto. Eu realmente preciso fazer uma pausa. Eu não tive a chance ainda de realmente ter um tempo sozinho para pensar que Michael não está mais aqui. Que o telefone não vai mais tocar com alguma idéia nova, que eu não vou mais sentar com ele para conversar sobre os filmes que estávamos planejando. Estas coisas, eu tive de deixar guardadas e me concentrar apenas na criação do filme, e eu acho que antes de eu fazer qualquer outra coisa, eu quero ter um bom tempo sozinho, e algum tempo com a minha família. Porque muito aconteceu, e vai impactar a minha vida. Michael e eu não estávamos apenas fazendo This Is It - o que seria o suficiente porque já é com o Michael. Digo, você acaba saindo do outro lado disto, tendo estado em uma jornada como nenhuma outra. Michael e eu também tínhamos projetos de filmes em mente, então isto muda o curso da minha vida, e eu meio que preciso parar um pouco e analisar isto. Footloose está saindo. Há outros projetos em desenvolvimento que vão sair. O que é certo é que eu vou dar um tempo agora.
Bearden: Eu faço coro ao que Kenny diz. Eu não tive tempo ainda de processar tudo. Nós fomos direto da morte de Michael para o memorial para os tributos propostos e para a criação do filme, para o funeral. Como ele disse, eu ainda vou sentir falta do tempo que eu tinha a sós com Michael, de conversar sobre coisas simples como grãos de areia ou qualquer coisa boba sobre a qual conversávamos, mas o que eu vou fazer em seguida é a direção musical do novo talk show do George Lopez que vai sair na TBS, quatro noites por semana, começando em 9 de novembro. O que eu fui capaz de fazer foi conseguir dois caras que estavam na banda do Michael e que não estavam trabalhando - quando Michael morreu, eles não tinham mais trabalho - então eu consegui colocá-los na equipe, o que me deixou muito feliz. Eu ainda vou precisar de um tempo sozinho com minha família e eu vou tomar este tempo, mas eu vou abraçar este projeto, e George foi gentil o suficiente para esperar até o filme sair.
Payne: Felizmente, tivemos a oportunidade de participar deste filme com Kenny liderando o caminho, e ajudando uns aos outros, foi como começou o processo de cura para nós. Ajudou muito e foi catártico poder sentar e assistir àquelas imagens e ainda estar com Michael. Eu espero que seus fãs se sintam dessa maneira, também, que eles o terão novamente por um tempo para celebrá-lo. Eu acho que o mundo já teve seu luto por um bom tempo, e eu não estou sugerindo que devemos esquecê-lo, mas eu acho que é hora de celebramos ele. Eu acho que ele iria querer se conectar com seus fãs, espalhar as mensagens e sorrir de lá do paraíso por ver que mudanças estão acontecendo por conta de seu trabalho.

Traduzido por Bruno Couto Pórpora.