Chicago Tribune, 19 de outubro de 2009
Por Chris Jones
This Is It de Michael Jackson não era para ser o fim.
"Eu sinto muito que tenha de haver um filme," diz Kenny Ortega sobre seu último longa-metragem. "Esta não é a forma como eu queria contar esta história."
Mas a morte trás a irrefutável finalidade até para um ícone global como Jackson. O que quer que esteja dito nos contratos, quais sejam os desejos dos executivos nervosos controlando o orçamento, qual seja o desejo de seus fãs leais, todas as aparições ao vivo acabam canceladas. Apenas imagens gravadas sobrevivem.
E do momento em 25 de junho quando Jackson foi pronunciado morto em Los Angeles - terminando assim as preparações finais para a série de shows em Londres que faria e que Ortega estava dirigindo - este foi um filme que Ortega, que deve a Jackson uma boa parte de sua carreira (ele dirigiu as turnês dele nos anos 90) e a quem amava do fundo de seu coração, não tinha escolha senão fazer.
Haviam pelo menos três fontes de filmagens dos ensaios para os shows, que deveriam começar em julho.
A primeira era de uma equipe com duas câmeras que estava na verdade criando um arquivo do processo para o uso pessoal de Jackson. "Michael documentava tudo," Ortega diz. "A forma como começamos a construir o show foi olhando suas gravações antigas." A segunda eram os filmes 3-D interativos que já haviam sido preparados por Jackson e Ortega, e que iriam ser exibidos nos telões de alta-definição planejados para a O2 arena. A terceira era material filmado por uma equipe separada que filmava em estilo-documentário - entrevistas e coisas do tipo - que teriam sido um adendo para a possível versão em filme dos shows ao vivo de Jackson em Londres, tivessem eles acontecido.
Então havia gravações. Havia, certamente, demanda massiva do público - existem previsões bem-consideradas de que This Is It, que entra em cartaz nos cinemas na noite de 27 de outubro e deve ser exibido por um tempo limitado de duas semanas, provavelmente terá a estréia mais lucrativa do que qualquer outro filme na história. E havia um desejo do espólio de Jackson em realizar o filme, por beneficiar seus filhos, entre outros motivos. O resultado foi um acordo de $60 milhões entre o espólio de Jackson, AEG Live e a Sony Pictures, a companhia que fez o filme - que está sendo guardado a sete chaves para manter o público interessado. Apenas curtos clipes foram lançados até o momento.
A Sony queria Ortega no leme criativo.
"Eu não levantei a minha mão para fazer este filme," disse Ortega num quarto de hotel em Chicago, na sexta-feira. "Eu nem teria sequer aparecido com esta idéia. A idéia de criar um filme destes remanescentes foi do espólio. Eu disse não. Não, obrigado. Eu não posso. Estou muito abalado. É muito cedo."
Mas rapidamente Ortega percebeu que o filme seria feito, com ele ou não. Afinal, ele não tinha os direitos da filmagem ou controle sobre o que seria feito e como.
"Esta é uma documentação sagrada do último esforço cênico de Michael Jackson," diz Ortega. "Eu estou no projeto. E colocá-lo nas mãos de outra pessoa, mesmo sensível enquanto cineasta, teria sido uma irresponsabilidade."
Então Ortega decidiu fazer o filme e usá-lo como uma forma de pagar tributo a Jackson e para mostrar ao mundo o que estes shows teriam sido se tivessem sido realizados. "Nós pegamos estes remanescentes, alguns dos quais são melhores do que outros, e criamos um mosaico que irá mostrar o que Michael tentava conquistar."
E o que era isto? Ortega diz que a lógica de Jackson para os shows era uma mistura de desejo em dar algo de volta para seus fãs, trazer atenção às várias causas ambientais e mensagens de paz queridas por Jackson, para retornar no jogo ao vivo depois de uma década de ausência e, mais do que tudo, um desejo de mostrar aos seus amados filhos o que seu pai realmente fazia para viver.
Ainda, o arco narrativo do filme é uma réplica do que seria o arco narrativo do show. Canções aparecem na mesma ordem. Ortega diz que Jackson ensaiou quase tudo do show. Os breves vídeos lançados sugerem que ele ainda era capaz das performances que o tornaram o dançarino icônico que os fãs esperavam ver.
"Só faltavam mais uns dois números," diz Ortega. "Nós estávamos prontos para Michael ensaiar Dirty Diana. Ele já havia sido parte da concepção do número. Na tarde do dia em que ele morreu, ele iria ensaiar este número. E então nós tínhamos ainda de fazer a sequência de We Are The World e Heal The World. Nós tínhamos o esqueleto, mas nós íamos ensaiar este em Londres por conta das crianças do coral envolvido." Apesar disto, Ortega diz, Jackson havia ensaiado tudo e agora pode ser visto fazendo-o.
É improvável que o filme revele muito sobre o estado mental ou de saúde de Jackson, e não contém brechas para seus detratores. Pelo contrário, o acordo da Sony com o espólio especifica a proibição de imagens que possam retratar Jackson de maneira negativa. Mas com acordo ou não, Ortega não tem interesse em tais imagens. "Michael foi uma das melhores pessoas que já conheci," diz Ortega. "Ele era inocente, mas não ingênuo. E ele havia passado por um inferno... quando Michael Jackson te convida, você investe em tomar conta dele. Nós éramos os construtores. Ele era o arquiteto. Nós tentamos fazer um filme que achamos que Michael iria gostar."
Novamente, Ortega não é ingênuo. Ele diz que haviam dias onde eles se preocupavam com a saúde de Jackson. "Nós não morávamos juntos," diz Ortega. "Nós fazíamos o nosso trabalho e íamos para casa. Eu não estava com ele 24 horas por dia. Eu perguntava a ele se ele estava comendo. Haviam dias onde eu sentia que ele não estava ficando mais forte."
Perguntado se ele acreditava que Jackson teria triunfado no O2, Ortega pausou por um momento, e então disse que ele era um diretor nervoso e que tinha apenas ficado confiante de verdade bem ao final da vida do superastro.
"Ele não estava nervoso em momento algum. Lembre-se, ele esteve fazendo isto, estes épicos, desde que era um bebê. Ele sabia que a vida tinha obstáculos, que a vida tinha dificuldades... mas nas duas últimas noites, ele entrou em uma nova engrenagem. Ele nos fez todos acreditar."
"Eu sinto muito que tenha de haver um filme," diz Kenny Ortega sobre seu último longa-metragem. "Esta não é a forma como eu queria contar esta história."
Mas a morte trás a irrefutável finalidade até para um ícone global como Jackson. O que quer que esteja dito nos contratos, quais sejam os desejos dos executivos nervosos controlando o orçamento, qual seja o desejo de seus fãs leais, todas as aparições ao vivo acabam canceladas. Apenas imagens gravadas sobrevivem.
E do momento em 25 de junho quando Jackson foi pronunciado morto em Los Angeles - terminando assim as preparações finais para a série de shows em Londres que faria e que Ortega estava dirigindo - este foi um filme que Ortega, que deve a Jackson uma boa parte de sua carreira (ele dirigiu as turnês dele nos anos 90) e a quem amava do fundo de seu coração, não tinha escolha senão fazer.
Haviam pelo menos três fontes de filmagens dos ensaios para os shows, que deveriam começar em julho.
A primeira era de uma equipe com duas câmeras que estava na verdade criando um arquivo do processo para o uso pessoal de Jackson. "Michael documentava tudo," Ortega diz. "A forma como começamos a construir o show foi olhando suas gravações antigas." A segunda eram os filmes 3-D interativos que já haviam sido preparados por Jackson e Ortega, e que iriam ser exibidos nos telões de alta-definição planejados para a O2 arena. A terceira era material filmado por uma equipe separada que filmava em estilo-documentário - entrevistas e coisas do tipo - que teriam sido um adendo para a possível versão em filme dos shows ao vivo de Jackson em Londres, tivessem eles acontecido.
Então havia gravações. Havia, certamente, demanda massiva do público - existem previsões bem-consideradas de que This Is It, que entra em cartaz nos cinemas na noite de 27 de outubro e deve ser exibido por um tempo limitado de duas semanas, provavelmente terá a estréia mais lucrativa do que qualquer outro filme na história. E havia um desejo do espólio de Jackson em realizar o filme, por beneficiar seus filhos, entre outros motivos. O resultado foi um acordo de $60 milhões entre o espólio de Jackson, AEG Live e a Sony Pictures, a companhia que fez o filme - que está sendo guardado a sete chaves para manter o público interessado. Apenas curtos clipes foram lançados até o momento.
A Sony queria Ortega no leme criativo.
"Eu não levantei a minha mão para fazer este filme," disse Ortega num quarto de hotel em Chicago, na sexta-feira. "Eu nem teria sequer aparecido com esta idéia. A idéia de criar um filme destes remanescentes foi do espólio. Eu disse não. Não, obrigado. Eu não posso. Estou muito abalado. É muito cedo."
Mas rapidamente Ortega percebeu que o filme seria feito, com ele ou não. Afinal, ele não tinha os direitos da filmagem ou controle sobre o que seria feito e como.
"Esta é uma documentação sagrada do último esforço cênico de Michael Jackson," diz Ortega. "Eu estou no projeto. E colocá-lo nas mãos de outra pessoa, mesmo sensível enquanto cineasta, teria sido uma irresponsabilidade."
Então Ortega decidiu fazer o filme e usá-lo como uma forma de pagar tributo a Jackson e para mostrar ao mundo o que estes shows teriam sido se tivessem sido realizados. "Nós pegamos estes remanescentes, alguns dos quais são melhores do que outros, e criamos um mosaico que irá mostrar o que Michael tentava conquistar."
E o que era isto? Ortega diz que a lógica de Jackson para os shows era uma mistura de desejo em dar algo de volta para seus fãs, trazer atenção às várias causas ambientais e mensagens de paz queridas por Jackson, para retornar no jogo ao vivo depois de uma década de ausência e, mais do que tudo, um desejo de mostrar aos seus amados filhos o que seu pai realmente fazia para viver.
Ainda, o arco narrativo do filme é uma réplica do que seria o arco narrativo do show. Canções aparecem na mesma ordem. Ortega diz que Jackson ensaiou quase tudo do show. Os breves vídeos lançados sugerem que ele ainda era capaz das performances que o tornaram o dançarino icônico que os fãs esperavam ver.
"Só faltavam mais uns dois números," diz Ortega. "Nós estávamos prontos para Michael ensaiar Dirty Diana. Ele já havia sido parte da concepção do número. Na tarde do dia em que ele morreu, ele iria ensaiar este número. E então nós tínhamos ainda de fazer a sequência de We Are The World e Heal The World. Nós tínhamos o esqueleto, mas nós íamos ensaiar este em Londres por conta das crianças do coral envolvido." Apesar disto, Ortega diz, Jackson havia ensaiado tudo e agora pode ser visto fazendo-o.
É improvável que o filme revele muito sobre o estado mental ou de saúde de Jackson, e não contém brechas para seus detratores. Pelo contrário, o acordo da Sony com o espólio especifica a proibição de imagens que possam retratar Jackson de maneira negativa. Mas com acordo ou não, Ortega não tem interesse em tais imagens. "Michael foi uma das melhores pessoas que já conheci," diz Ortega. "Ele era inocente, mas não ingênuo. E ele havia passado por um inferno... quando Michael Jackson te convida, você investe em tomar conta dele. Nós éramos os construtores. Ele era o arquiteto. Nós tentamos fazer um filme que achamos que Michael iria gostar."
Novamente, Ortega não é ingênuo. Ele diz que haviam dias onde eles se preocupavam com a saúde de Jackson. "Nós não morávamos juntos," diz Ortega. "Nós fazíamos o nosso trabalho e íamos para casa. Eu não estava com ele 24 horas por dia. Eu perguntava a ele se ele estava comendo. Haviam dias onde eu sentia que ele não estava ficando mais forte."
Perguntado se ele acreditava que Jackson teria triunfado no O2, Ortega pausou por um momento, e então disse que ele era um diretor nervoso e que tinha apenas ficado confiante de verdade bem ao final da vida do superastro.
"Ele não estava nervoso em momento algum. Lembre-se, ele esteve fazendo isto, estes épicos, desde que era um bebê. Ele sabia que a vida tinha obstáculos, que a vida tinha dificuldades... mas nas duas últimas noites, ele entrou em uma nova engrenagem. Ele nos fez todos acreditar."
Traduzido por Bruno Couto Pórpora.