sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Michael Jackson Fala Para Barbara Walters (20/20, Setembro 1997)

Entrevista para o programa 20/20, em 7 de setembro de 1997
Conduzida por Barbara Walters

Barbara: Até semana passada as pessoas mais fotografadas do mundo eram a Princesa Diana e Michael Jackson. Agora apenas um fica para falar sobre o que significa viver sob esse tipo de exame. Desde as acusações de abuso sexual infantil feitas contra Michael Jackson há quatro anos atrás, ele tem sido, se possível, até mais perseguido. Aliás, nós checamos o secretário do promotor em Los Angeles e Santa Barbara e descobrimos que não há caso ativo contra o Sr. Jackson hoje.

O próprio Michael Jackson é tímido em dar entrevistas, mas no meu caminho para casa cobrindo o funeral da Princesa Diana, eu o encontrei em Paris para discutir sobre os paparazzis e suas lembranças pessoas da Princesa.

Quando se trata de paparazzis, Michael Jackson diz que sentia um elo com a Princesa Diana. Os paparazzis têm sido parte de sua vida desde que ele era um pequeno garoto, o mais novo do Jackson 5. Ele tem sido um superstar por 3 décadas. Com 39 anos, ele continua a cantar e dançar pelo mundo todo e os paparazzis o seguem pelo mundo todo. Ele está em uma turnê européia tocando pelos últimos cinco meses para uma estimativa de 2 milhões de pessoas. Na noite em que a Princesa Diana morreu, Michael Jackson cancelou seu show, mas seus dois últimos shows foram dedicados a ela. Ele não finge que eram amigos íntimos. Ela era uma fã.

Michael: Eu a conheci em um... humm... show... em Londres. Ela foi bem gentil, muito doce, muito amável.

Barbara: Sobre o que vocês dois conversaram?

Michael: Eu escrevi uma canção chamada Dirty Diana. Não era sobre a Lady Diana. Era sobre um certo tipo de garotas que passeiam pelos shows e clubes, você sabe, eles chamam elas de groupies.

Barbara: Groupies.

Michael: Eu vivi com isso toda a minha vida. Essas garotas... elas fazem tudo com a banda, você sabe, tudo que você pode imaginar. Então eu escrevi uma música chamada Dirty Diana. Mas eu tirei ela do show em honra à majestade. Ela veio até mim e disse, "Você vai cantar Dirty Diana?" Então, eu disse, "Não, eu tirei do show por causa sua." Ela disse, "Não! Eu quero que você cante... cante a canção."

Barbara: Então ela tinha um senso de humor com você?

Michael: Sim, é claro. E ela me disse que era uma honra me conhecer. E eu disse, "é uma honra conhecer você."

Barbara: Como você ficou sabendo da morte dela?

Michael: Um... eu acordei e meu doutor me deu a notícia. E eu cai no chão de dor, e eu comecei a chorar. A dor... eu senti dor interior, no meu estômago e no meu peito. Então eu disse, "eu não consigo mais agüentar isso... é muito." Apenas a mensagem e o fato de que eu conhecia a personalidade dela. Então no topo disso eu disse, "Tem mais alguém... muito em breve... eu sinto chegando... tem mais um... tem mais um vindo e eu rezo para não ser eu... por favor não deixe ser eu." E então Madre Teresa morreu...

Barbara: Você é médium... é isso que você está dizendo?

Michael:
 Eu não quero dizer isso, mas eu já fiz isto antes.

Barbara: E você pensou que pode ser você?

Michael: Sim. Eu tenho vivido este tipo de vida a minha vida toda. A mídia de tablóide... este tipo de mídia... não a mídia... os tablóides, os paparazzis, esse tipo. Eu tenho vivido assim, me escondendo, fugindo. Você não pode ir pra lá porque eles estão lá... então vamos neste caminho e fingir que estamos indo pra lá... e vamos para lá. Alguém devia dizer, "Espere! Pare! Essa pessoa merece sua privacidade. Você não pode ir lá!" Eu vou ao mundo inteiro fugindo e me escondendo. Você não pode... eu não posso andar no parque... eu não posso ir à uma loja... você não pode... eu tenho que me esconder no quarto. Você sente como se estivesse em uma prisão.

Barbara: E qual é a coisa mais invasiva? Qual a pior?

Michael: Eles têm sempre estado... eles chegam ao ponto de esconder coisas. Eles escondem uma máquina no banheiro... Tch, tch, tch, tch... e você pensa, "Oh meu Deus!" Eles já fizeram isso.

Barbara: Quando você entrou neste hotel você teve de entrar, ou sentiu que deveria entrar pela cozinha.

Michael: Eu faço isso há anos. Em muitos hotéis, eu nunca vi a porta de entrada. Nunca.

Barbara: Você já tentou ultrapassar os paparazzis?

Michael: Despistá-los?

Barbara: Sim.

Michael: 
Eles seguem você. Eles seguem você naquelas lambretas, "Vruuum, vrumm."

Barbara: Passando na sua frente?

Michael: Sim. E eu tenho que dizer ao motorista... eu digo, "vai devagar." Eu vou para a frente e digo, "você vai nos matar." Eu digo, "diminua." Eu já fiz isso muitas vezes, "você vai nos matar." Então ele sai do carro e começa a gritar com essas pessoas.

Barbara: Você sabe, tem um argumento de que você confia na publicidade para vender seus álbuns... para seus shows, o que você quer.

Michael: Quando eu aprovo algo, sim.

Barbara: Mas você não pode sempre controlar a imprensa. Você não pode aprovar tudo. Você não pode convidá-los sempre e sempre, e então em um certo ponto, se desfaz deles.

Michael: Sim, você pode.

Barbara: Como você faz isso? Qual é a maneira?

Michael: Fazendo isto. Este é o momento deles para isso... e isto você não deveria fazer. Você não deveria dizer, "Ele é um animal... ele é..." Você não deveria dizer, "Ele é o Jacko." Eu não sou um 'Jacko'. Eu sou um Jackson.

Barbara: Como você se sente quando eles te chamam...

Michael: Sim, Wacko Jacko, de onde veio isso? Algum tablóide inglês. Eu tenho um coração e eu tenho sentimentos. Eu sinto isso quando você faz isso para mim. Não é legal. Não faça. Eu não sou um "wacko".

Barbara: Estes são aqueles que você diria que você dá atenção.

Michael: Não, eu não dou.

Barbara: Bem, as máscaras, o comportamento misterioso.

Michael: Não... não há comportamento misterioso. Há um momento, quando eu faço um show... eu gosto de ter tantas pessoas quantas gostariam de estar lá e aproveitar o show. E há um momento, quando você quer sua privacidade... quando você coloca seu pijama e vai dormir, desliga a luz e deita, este é seu espaço privado. Você vai ao parque. Eu não posso ir ao parque, por isso eu criei meu próprio parque em Neverland... minha própria piscina... meu cinema... meu parque... é tudo para me divertir.

Barbara: Eu não quero soar grossa. Eu vou ser apenas direta com você. Mas você é ao menos excêntrico para dizer. A maneira como você se veste, sua aparência, tudo isso dá atenção. Toda a sua vida enquanto você cresceu... maior que a vida... mais extremo. Você não acha que isso atrai os paparazzi?

Michael: Não. Não, talvez eu goste de viver desta maneira... eu gosto de me vestir desta maneira. Eu não quero paparazzis, sério. Mas se eles vierem, sejam gentis, escrevam as coisas corretas... as coisas que devem ser escritas.

Barbara: Michael, é o papel do jornalista... ou da imprensa de ser gentil?

Michael: De ser gentil?

Barbara: Porque a imprensa tem que olhar dentro das coisas, ser dura. Não pode ser sempre gentil.

Michael: (risadas) O que você viu... o que aconteceu com Lady Diana... me diga. Deveria haver alguns limites, alguma forma. A estrela necessita de espaço. De um tempo para relaxar. Ela tem um coração... ela é humana.

Barbara: Você cancelou o show que estava prestes a fazer quando ouviu sobre a morte de Diana.

Michael: Sim.

Barbara: E quando você finalmente fez o show, você dedicou a ela. O que você disse?

Michael: No meu coração eu estava dizendo, "Eu amo você Diana. E brilhe para sempre, porque você é a verdadeira princesa do povo." E em minhas palavras eu não disse isso, mas eu disse por três minutos enquanto uma grande foto aparecia nos telões... Sony, telas bem grandes... e a foto dela estava lá brilhando... e a platéia foi à loucura. E eu cantei a cançãoSmile e Gone Too Soon.

Barbara: Cante um pedaço da letra pra nós, se você puder.

Michael: "Shiny and sparkly, and splendedly bright, here one day, gone one night...Gone too soon."

Barbara: Você disse, "Eu cresci em um aquário. Eu não vou deixar isso acontecer com o meu filho." No entanto, quando seu filho nasceu, você vendeu as fotos para o National Enquirer e outros tablóides europeus. Por que você fez isso?

Michael: Por que?

Barbara: Por que?

Michael: Porque havia uma corrida. Haviam algumas fotos ilegais sendo vendidas. Ilegalmente, alguém tinha tirado fotos de um bebê... milhões de dólares... dizendo, "aqui está o filho do Michael."

Barbara: E não era, como eu me lembro.

Michael: E não era. Então, eu tirei fotos do bebê. Eu disse, "eles estão me forçando a tirar fotos dele." Haviam helicópteros voando sobre a minha casa... voando sobre o hospital, hum, máquinas e satélites por todo lugar. Até o hospital disse, "Michael, nós já tivemos todo tipo de celebridade aqui... mas nunca tivemos isso. Isto é inacreditável." Então eu disse, "aqui, toma." E eu dei o dinheiro para caridade.

Barbara: Então ao invés de... o que você está dizendo é... o que você fez foi tirá-los do seu pé.

Michael: Sim... e agora eles querem fazer isso de novo... e eu não quero... talvez eu não queria exibir ele para o mundo desta forma. Eu quero que ele tenha algum espaço... onde ele possa ir para a escola. Eu não quero que ele seja chamado de "Wacko Jacko", isto não é legal. Eles chamam o pai desta forma. Isto não é legal... certo?

Barbara: Você disse que não quer que seu filho seja chamado de "filho do wacko jacko". Como você irá prevenir isto, para eles não fazerem isso a ele?

Michael: É isto... é a idéia. Talvez você devesse bolar um plano para me ajudar.

Barbara: Você é o pai dele.

Michael: Aí está. Eles criaram isto. Será que eles já pensaram que eu teria um filho um dia... que eu tenho um coração? Está machucando o meu coração. Por que passar para ele?

Barbara: Você gosta de ser pai?

Michael: Eu amo!!

Barbara: Você está muito envolvido com ele?

Michael: (Ri) Sim!

Barbara: Você quer ter mais filhos?

Michael: Sim (risada envergonhada).

Barbara: Você está nos holofotes desde que era um bebê.

Michael: Sim.

Barbara:
 Se o seu filho mostrar algum talento - aliás, ele mostra algum talento aos nove meses.

Michael: 
Bem, eu vou te dizer uma coisa... quando ele está chorando, para fazer ele parar, eu tenho que fazer uma coisa.

Barbara: O que?

Michael: Eu tenho que ficar na frente dele... e dançar.

Barbara: Sério?

Michael: Sim. E ele pára de chorar. Suas lágrimas se transformam em riso, e ele fica feliz. (bate palmas) Ele sorri.

Barbara: E você faz o seu moonwalk com ele?

Michael: Sim. Eu faço todo tipo de movimentos (imita as danças) (ri).

Barbara: E então ele pára de chorar?

Michael: E então ele pára de chorar!

Barbara: Você deve dançar bastante.

Michael: (Ri) Sim, eu danço bastante.

Barbara: Michael, se este garotinho dizer, "Papai, eu quero subir no palco."

Michael: (Ri a bate na perna)

Barbara: Depois de tudo o que você passou?

Michael: Eu diria, "Espere aí. Espere um pouco. Se você quer ir naquele caminho, espere isso... espere isso... espere aquilo." (conta nos dedos)

Barbara: Você colocaria todas as conseqüências?

Michael: Eu colocaria todas as conseqüências. Eu diria, "Veja você vai passar por tudo isso, (aponta para uma câmera), por tudo isso (aponta para outra câmera) e por isso (aponta para a terceira câmera) Você está pronto para fazer isto?" "Sim, mal posso esperar." Então eu diria, "Vá... e faça melhor do que eu fiz."

Barbara: Mas saiba no que você está dentro...

Michael: Saiba no que você está dentro.

Barbara: 
Nossa entrevista terminou. Nós não dissemos a ninguém que estava acontecendo, nem ao Hotel Paris. Mas quando Jackson tentou espiar atrás da porta, havia uma enorme multidão... já esperando.

Hugh Downs: Barbara, nós sabemos agora que Diana não teve proteção adequada naquele último dia. Que tipo de proteção Michael Jackson tem?

Barbara:
 Bem, nós vimos ao menos quatro guarda-costas... e ele precisava deles. Aliás, eu falei com uma superstar feminina e ela me disse que quando ela sai ela leva quatro guarda-costas, ao menos... e um carro em sua frente, e um carro atrás.

Hugh: É o que eles realmente precisam, não?

Barbara:
 Infelizmente, sim.

Hugh:
 Agora, você me disse que ele falou porque ele só usa uma luva.

Barbara: Sim.

Hugh: Qual o segredo?

Barbara: Bem, ele tem um senso de humor, como eu acho que você pôde ver. Ele disse, "Por que uma luva? Mais legal do que duas!"


Transcrição traduzida por Bruno Couto Pórpora