MoviesOnline, outubro de 2009
A MoviesOnline sentou para conversar com o produtor/diretor Kenny Ortega sobre seu novo filme, o altamente esperado This Is It de Michael Jackson. O filme oferece aos fãs de Jackson e amantes da música do mundo todo um olhar raro aos bastidores do artista enquanto ele criava e ensaiava para os seus shows esgotados que teriam acontecido no começo do último verão na O2 Arena, em Londres.
As platéias terão um vislumbre privado e privilegiado de Jackson como ele nunca foi visto antes. Em um rápido resumo, This Is It é a última documentação de Michael Jackson em ação, captando o cantor, dançarino, cineasta, arquiteto, gênio creativo, e grande artista em trabalho enquanto ele e seus colaboradores atingem suas metas para Londres, o O2 e a história.
Chamado de O Maestro de 1 Bilhão de Dólares pela Daily Variety, Kenny Ortega conquistou os longa-metragens, televisão, palco, shows e gigantescos eventos ao vivo como as Olimpíadas com igual excelência. Como diretor e parceiro criativo de Michael Jackson em This Is It assim como nas últimas turnês de Jackson, Dangerous e HIStory, Ortega tem sido amigo e colaborador de Michael Jackson por cerca de 20 anos.
O vencedor de vários prêmios Emmy dirigiu e visualizou a franquia de um bilhão de dólares da Disney, High School Musical, tanto para a televisão como para o cinema. Ortega dirigiu a Best Of Both Worlds Tour de Hannah Montana/Miley Cyrus com participação dos Jonas Bros. Ele também dirigiu com grande aclamação as cerimônias de abertura e encerramento das Olimpíadas de 2002 em Salt Lake City, Utah.
Kenny Ortega é uma pessoa fabulosa e nós estamos agradecidos por seu tempo. Aqui está o que ele tinha para nos contar sobre seu novo filme e sua histórica colaboração com Michael Jackson.
Q: Você tem dormido?
KO: Sabe, eu não tenho dormido nada nos últimos meses. Não tenho. Durante os ensaios, eu trabalhava até bem tarde e então nós fizemos o memorial e então começamos o filme e no filme eram 14 horas por dia, sete dias por semana, toda semana desde que nós começamos até nós o entregarmos. Nós acabamos de voltar de 10 dias na estrada começando em Chicago com a Oprah e aqui de volta para a estréia. Tem sido um verdadeiro redemoinho. Tipo o vento de ontem à noite, eu pensava "nada de novo pra mim."
Q: Sincronizar na pós foi um pesadelo?
KO: Não um pesadelo. Felizmente, tudo estava sendo gravado. Tínhamos nossos caras no monitor. Você sabe, quando Michael está falando, quando ele diz, 'Eu não estou tentando ser difícil. Eu percebo que vocês estão fazendo seu trabalho mas eu estou tendo um problema. É como se alguém me apunhalasse no ouvido.' Ele está falando com os caras dos monitores que estavam lá filmando tudo. Mas nem tudo foi gravado onde tínhamos sistemas diferentes. Algumas coisas estavam apenas em duas faixas então não tínhamos como trazer a voz de Michael para fora o quanto gostaríamos. Nós fizemos nosso melhor e em alguns momentos a gravação estava tão boa quanto se tivesse sido feita num estúdio onde você possa mexer e mixar, então pudemos ter uma variação melhor. Mas tudo o que você ouve estava acontecendo bem ali. É a banda de Michael tocando toda a música. Não são discos. Ele queria como nos discos e deixou aquilo bem claro, mas aqueles eram seus cantores cantando ao vivo. Era a banda dele tocando ao vivo. Era o Michael ali, obviamente. Se alguém precisa esclarecer isto de vez, digo, você o viu ali. Ele apenas começaria a improvisar e a cantar do nada e, de repente, a banda começava e dava início ao ensaio. Isso é o quão orgânico o processo foi para nós.
Q: Ele já havia cantado antes canções do Jackson 5 como adulto?
KO: Ah, sim. Desde que eu comecei a trabalhar com ele, o que foi nas turnês Dangerous e HIStory, e muitos shows de apresentação única que fizemos, na Coréia e na Alemanha, muitos lugares, JFK Stadium em D.C., Michael adorava pagar tributo a estes anos, às canções e aos seus irmãos acima de tudo.
Q: A crueza do material acentua o fato de que ele não foi feito com a intenção de ser exibido.
KO: Não foi, não foi. Mas também, nós tínhamos três rolos de filmagens com os quais trabalhamos. Você viu os grandes filmes que incorporamos na forma de contar a história. Eram 10 curta-metragens que Michael e eu desenvolvemos e produzidos juntos que incorporamos no show. Então estes foram feitos com a intenção de ser parte do show. Estes foram feitos para o show ao vivo e finalmente, quando filmássemos o show ao vivo em Londres - o que aconteceria -, eles fariam parte do filme. E também tínhamos o material de bastidores, entrevistas, o making of, porque Michael tinha a intenção de filmar os shows em Londres, então ele queria ter uns bastidores legais para poder agregar a isto. É daí que você tem os dançarinos e os membros da banda dando declarações. E então você tem o que eu chamo de filmagem miraculosa que é a filmagem que nós usamos. Era uma ferramenta para nós, filmar os ensaios para que pudéssemos a qualquer momento voltar e olhar para alguma coisa e dizer, 'Porque nós não abrimos isto musicalmente ou você sabe o que nós deveríamos fazer aqui com as luzes? Ou porque não trazer os dançarinos neste momento?' Nos ofereceu a oportunidade de meio que olhar de longe e ser capaz de fazer ajustes criativos. Nós fazemos isso desde que começamos a trabalhar juntos. Nós não ligamos sempre as câmeras e havia apenas dois cinegrafistas, às vezes um. Você pode imaginar a complicação de tentar contar uma história e montar este filme. Havia momentos onde eu estava no chão, me contorcendo e gritando porque nós não desenhamos isto para ser filmado como cinema. Nós nunca planejamos isto. Não havia roteiro. Eu não disse, 'E agora vá para o close-up e podemos fazer mais uma tomada daquela?' Nunca aconteceu nada disso.
Q: Algum número musical foi deixado de fora por não ter sido filmado?
KO: Mmhmm, sim, sim. No dia em que Michael morreu, nós o estávamos esperando para ensaiar o final de Dirty Diana, onde ele entrava nesta ilusão e, na frente dos seus olhos, subia e fumaça e ele aparecia do outro lado do palco na grua, voando pela platéia para começar Beat It. Ele estava muito empolgado com isso. Na noite anterior, ele disse para mim que estava muito feliz. Ele viu o sonho se tornar realidade no palco. A única coisa que ele queria que eu dissesse a qualquer um da equipe criativa era, 'Eu os amo. Todo mundo está fazendo um grande trabalho. Eu amo você, Kenny. Te vejo amanhã. Obrigado'. Ele foi embora e estávamos revigorados. Nós voltamos no dia seguinte e estávamos todos no palco, muito animados trabalhando com a equipe de ilusionistas, com os nosso técnicos. Tínhamos a nossa dançarina aerealista, Danielle, no palco e Tony Testa, um dos nosso coreógrafos associados, fazia stand-in pro Michael. Nós estávamos deixando tudo pronto para ele chegar e começar a ensaiar o que seria um dos dias favoritos dele, porque ele amava ilusão. Quando nós descobrimos, tudo parou.
Q: O seu passado com Abracadabra ajudou a reinventar Thriller?
KO: Não prejudicou. Não prejudicou, mas também veio do meu passado em amar o Thriller do Michael Jackson e de ser um grande fã de todo o seu trabalho em curta-metragens. Mas foi uma das primeiras idéias sobre as quais Michael e eu conversamos, que era criar uma experiência em 3-D na arena para os fãs. É claro, as pessoas falaram, "O que?" A tecnologia, eles estavam correndo para terminá-la. Nós tínhamos o primeiro telão de 3D em HD e nós que estávamos criando estes filmes. Haviam pessoas que nem tinham certeza se iria funcionar. Quando nós testamos pela primeira vez o 3D no telão na arena, foi de arrepiar. E então planejamos outras coisas porque Michael teve várias idéias. Nós tínhamos o Michael Curry que fez o design de O Rei Leão, e foi um dos designers do nosso cenário e das marionetes. Nós tínhamos personagens gigantes com iluminação que desceriam do teto e voariam pela cabeça das pessoas. Michael estava tão animado com tudo isso. Ele gostava de chamar isto de experiência 4-D. Então, você iria ter um filme em 3-D, o elenco no palco e então fumaça saindo do lado do palco até a platéia e todos estes elementos surgindo perto das pessoas, que estariam usando os óculos 3-D.
Q: Você quis adicionar alguma coisa que refletisse o fundo emocional?
KO: Sabe, o único motivo pelo qual eu não fiz isto foi porque eu não queria ninguém dizendo que nós forjamos alguma coisa. Nós não forjamos. Não há absolutamente nada neste filme que não foi criado a partir do momento em que Michael anunciou que ia fazer os shows até o dia em que Michael morreu. Nós não queríamos tocar nisto. Foi como eu o nomei, uma documentação final e segrada e se nós voltássemos para filmar a banda ou qualquer outra coisa, então nós damos a chance para as pessoas chegarem e dizerem, "Não foi assim que realmente aconteceu. Eles tentaram pintar de forma diferente." No entanto, no DVD, há um número tremendo, eu diria, três ou quatro horas de informação que não está no filme, que vem também daquela fonte, mas agora também com informações de depois daquele momento. Então para os extras nós voltamos e conversamos sobre a experiência de trabalhar com Michael e nós completamos algumas idéias que Michael abençoou e assinou e que não tivemos tempo de terminar no momento em que Michael morreu. Então você vai ter uma noção ainda maior de como seria tudo e poderá entender os detalhes de todos os elementos que planejávamos para o show.
Q: Como você acha que Michael gostaria de ser lembrado como um artista e como uma pessoa?
KO: Eu acho que as pessoas estavam dizendo ontem à noite. Elas ecoaram tudo o que eu senti no meu coração. As pessoas vinham pra mim e diziam, 'Nós não conseguimos. Nós não conseguimos conforto na CNN. Nós não tivemos a chance de dizer adeus apropriadamente na CNN'. Não querendo dizer que eles foram irresponsáveis. Era apenas a informação que não estava lá e as pessoas diziam que não apenas nós temos a chance destes momentos finais com Michael o artista, mas também acabamos conhecendo-o melhor do que nunca como um homem. Você passa a realmente apreciar sua bondade e gentileza e sua generosidade e o espírito de colaboração maravilhoso que ele tinha e o modo como ele trabalhava com as pessoas, nunca querendo ofender ninguém. Meu Deus, se ele pensasse que havia envergonhado alguém, aquilo acabava com ele. É por isto que você sempre vê ele, ainda nos momentos mais frustrantes, ele diria, 'Com o amor. É por isso que nós ensaiamos' porque ele apreciava tanto todos nós. Ele disse para mim, 'Kenny, saia e vá encontrar os melhores artistas do mundo. Convide-os a virem e a se juntar à nossa jornada e então vamos inspirá-los a irem a lugares que eles nunca foram antes.' Então Michael sabia quem estava na frente dele e ele tinha a maior admiração e respeito por todo mundo. Mesmo que ele tivesse uma pequena briga ou desentendimento com alguém, ele nunca queria que chegasse ao ponto da pessoa acabar pensando que ele não se importava com ela ou não a respeitava.
Q: Ele não deveria ter feito musicais?
KO: Sim, nós íamos fazer uns dois filmes. Antes mesmo de sabermos que iríamos fazer This Is It, Michael e eu estávamos no estágio inicial em conversações para fazer um musical de Legs Diamond e um longa-metragem 3-D de Thriller. Michael não planejava se aposentar do show business. Ele não ia se aposentar. Entretanto, isto é o que ele chamava de sua cortina final para turnês ao vivo. O que ele pensava era que ele ia fazer os 50 shows em Londres e então ele disse pra mim, 'Se der certo e eu ainda me sentir bem e ainda tiver a energia, eu amaria ir para a África. Eu amaria ir para a Índia. Eu amaria ir para o Japão.' Travis (Payne) e eu vimos isto. Michael pretendia sair com seus filhos e ver todo o resto do mundo, dividir a experiência com eles, conhecer os fãs, dar mais uma grande reverência e então ele queria desligar da tomada a idéia de se apresentar ao vivo porque ele me disse, 'Eu não quero estar por aí me apresentando quando eu não posso mais fazer com a integridade com a qual eu sou conhecido. Entretanto, vamos fazer filmes e grandes álbuns e desenvolver projetos juntos.' Então ele estava animado para tanto mais. Ele tinha tanta coisa dentro de si ainda.
Q: O que você descobriu sobre Michael e si mesmo e a amizade de vocês fazendo isto?
KO: Bem, você sabe, Michael me deu tanta confiança. Desde o momento em que começamos, é como se ele tivesse jogado argila no meio da mesa e dissesse, "Coloque suas mãos com as minhas nela." Ele amava criar comigo. Amava. Ele amava lutar com idéias. O que estivesse fixado na parede no dia seguinte, nós nem nos lembrávamos mais de quem havia sido a idéia. Nós não ligávamos. Era uma parceria tão grande. Era tão fácil, tão livre de ego, e era tão fiel ao modo de contar a história. Michael já havia há uns dois anos sido entretido por tantas pessoas com idéias e ele me ligava de vez em quando, nós íamos jantar, conversávamos no telefone. Ele vinha me visitar no set e dizia, 'Não há nada que tenha propósito o suficiente para que eu queria sair e fazer', se referindo aos shows ao vivo. Ele dizia, 'Continue pensando'. Eu estava fazendo meus filmes e de repente eu recebi esta ligação, depois de dois anos de conversas sobre a possibilidade de fazermos alguma coisa ao vivo, e ele disse, 'Kenny, este é o momento (this is it).' Eu juro, foi o que ele disse. 'Este é o momento'. Então durante a conversa, ele disse tipo umas cinco vezes e eu ri e disse, 'Você deveria chamá-la de turnê This Is It porque você não pára de dizer.' O que aconteceu foi que quando nos juntamos logo depois disto, antes de qualquer idéia conceitual, ele começou a me falar sobre as razões pelas quais ele queria sair e fazer o show. Aqui está o porque precisamos fazer isto e agora vamos criar o show que dá valor a estas razões. É isso que eu vou levar comigo. A compreensão dele de responsabilidade, que não era o suficiente apenas sair e fazer porque ele podia. Tinha de ser importante. Tinha de ter uma razão, "raison d'etre" como o Gene Kelly costumava dizer pra mim o tempo todo. Qual a razão que existe para me inspirar para acordar todo os dias e querer vestir meu figurino e subir no palco e ser Michael Jackson.
Q: Como você responde ao site This Is Not It? Você vai tomar ações legais?
KO: Não irei. Quero dizer, o modo que eu vejo é que eles são fãs. Todo mundo está lidando com a perda. Há alguns fãs aí que estão apenas procurando algo para apontar, para apontar a razão a qual não temos mais o Michael, culpar alguém. Tudo o que eu quero dizer é que Michael não viveu assim. Este não é o espírito de Michael Jackson. Michael não presumia. Havia um número horrososo de pessoas que presumiam sobre Michael Jackson. Elas criavam histórias e especulavam e até o perseguiam e o desmoralizavam. Eu só queria dizer a qualquer um, se você não sabe do que está falando, se você não estava lá, se você não tem a informação, não coloque esta informação - não coloque. Não faça isso. Assista ao filme. Olhe o filme. O filme fala por si só. É Michael. É o Michael falando, Michael fazendo, Michael dividindo. É bem honesto, cru e desprotegido. Aquele Michael queria estar ali. Ele estava fazendo isto. Isto o nutria. O envigorava. O excitava. Ele queria fazer isto mais do que qualquer coisa exceto por passar tempo com seus filhos. Isto é o que ele queria fazer.
Q: Como você procura artistas para participar?
KO: Colaboradores e pessoas que não tenham medo de entrar em uma jornada que vai mexer com suas cabeças e que estão menos preocupadas sobre uma idéia ser delas e mais preocupadas em serem parte de um time que chega a algo especial.
Q: O que está acontecendo no mundo do High School Musical?
KO: Eu não vou fazer o High School Musical 4, mas eu ouvi que talvez eles façam com um novo elenco.
Q: O que aconteceu com todos os cenários?
KO: Tudo está aguardando. Alguns são espetaculares. De alguma forma, talvez no futuro, nós possamos usá-los para alguma idéia. Eu não sei. Eu apenas espero que não acabem ficando guardado atrás de portas trancadas.
This Is It abre nos cinemas no dia 28 de outubro.
As platéias terão um vislumbre privado e privilegiado de Jackson como ele nunca foi visto antes. Em um rápido resumo, This Is It é a última documentação de Michael Jackson em ação, captando o cantor, dançarino, cineasta, arquiteto, gênio creativo, e grande artista em trabalho enquanto ele e seus colaboradores atingem suas metas para Londres, o O2 e a história.
Chamado de O Maestro de 1 Bilhão de Dólares pela Daily Variety, Kenny Ortega conquistou os longa-metragens, televisão, palco, shows e gigantescos eventos ao vivo como as Olimpíadas com igual excelência. Como diretor e parceiro criativo de Michael Jackson em This Is It assim como nas últimas turnês de Jackson, Dangerous e HIStory, Ortega tem sido amigo e colaborador de Michael Jackson por cerca de 20 anos.
O vencedor de vários prêmios Emmy dirigiu e visualizou a franquia de um bilhão de dólares da Disney, High School Musical, tanto para a televisão como para o cinema. Ortega dirigiu a Best Of Both Worlds Tour de Hannah Montana/Miley Cyrus com participação dos Jonas Bros. Ele também dirigiu com grande aclamação as cerimônias de abertura e encerramento das Olimpíadas de 2002 em Salt Lake City, Utah.
Kenny Ortega é uma pessoa fabulosa e nós estamos agradecidos por seu tempo. Aqui está o que ele tinha para nos contar sobre seu novo filme e sua histórica colaboração com Michael Jackson.
Q: Você tem dormido?
KO: Sabe, eu não tenho dormido nada nos últimos meses. Não tenho. Durante os ensaios, eu trabalhava até bem tarde e então nós fizemos o memorial e então começamos o filme e no filme eram 14 horas por dia, sete dias por semana, toda semana desde que nós começamos até nós o entregarmos. Nós acabamos de voltar de 10 dias na estrada começando em Chicago com a Oprah e aqui de volta para a estréia. Tem sido um verdadeiro redemoinho. Tipo o vento de ontem à noite, eu pensava "nada de novo pra mim."
Q: Sincronizar na pós foi um pesadelo?
KO: Não um pesadelo. Felizmente, tudo estava sendo gravado. Tínhamos nossos caras no monitor. Você sabe, quando Michael está falando, quando ele diz, 'Eu não estou tentando ser difícil. Eu percebo que vocês estão fazendo seu trabalho mas eu estou tendo um problema. É como se alguém me apunhalasse no ouvido.' Ele está falando com os caras dos monitores que estavam lá filmando tudo. Mas nem tudo foi gravado onde tínhamos sistemas diferentes. Algumas coisas estavam apenas em duas faixas então não tínhamos como trazer a voz de Michael para fora o quanto gostaríamos. Nós fizemos nosso melhor e em alguns momentos a gravação estava tão boa quanto se tivesse sido feita num estúdio onde você possa mexer e mixar, então pudemos ter uma variação melhor. Mas tudo o que você ouve estava acontecendo bem ali. É a banda de Michael tocando toda a música. Não são discos. Ele queria como nos discos e deixou aquilo bem claro, mas aqueles eram seus cantores cantando ao vivo. Era a banda dele tocando ao vivo. Era o Michael ali, obviamente. Se alguém precisa esclarecer isto de vez, digo, você o viu ali. Ele apenas começaria a improvisar e a cantar do nada e, de repente, a banda começava e dava início ao ensaio. Isso é o quão orgânico o processo foi para nós.
Q: Ele já havia cantado antes canções do Jackson 5 como adulto?
KO: Ah, sim. Desde que eu comecei a trabalhar com ele, o que foi nas turnês Dangerous e HIStory, e muitos shows de apresentação única que fizemos, na Coréia e na Alemanha, muitos lugares, JFK Stadium em D.C., Michael adorava pagar tributo a estes anos, às canções e aos seus irmãos acima de tudo.
Q: A crueza do material acentua o fato de que ele não foi feito com a intenção de ser exibido.
KO: Não foi, não foi. Mas também, nós tínhamos três rolos de filmagens com os quais trabalhamos. Você viu os grandes filmes que incorporamos na forma de contar a história. Eram 10 curta-metragens que Michael e eu desenvolvemos e produzidos juntos que incorporamos no show. Então estes foram feitos com a intenção de ser parte do show. Estes foram feitos para o show ao vivo e finalmente, quando filmássemos o show ao vivo em Londres - o que aconteceria -, eles fariam parte do filme. E também tínhamos o material de bastidores, entrevistas, o making of, porque Michael tinha a intenção de filmar os shows em Londres, então ele queria ter uns bastidores legais para poder agregar a isto. É daí que você tem os dançarinos e os membros da banda dando declarações. E então você tem o que eu chamo de filmagem miraculosa que é a filmagem que nós usamos. Era uma ferramenta para nós, filmar os ensaios para que pudéssemos a qualquer momento voltar e olhar para alguma coisa e dizer, 'Porque nós não abrimos isto musicalmente ou você sabe o que nós deveríamos fazer aqui com as luzes? Ou porque não trazer os dançarinos neste momento?' Nos ofereceu a oportunidade de meio que olhar de longe e ser capaz de fazer ajustes criativos. Nós fazemos isso desde que começamos a trabalhar juntos. Nós não ligamos sempre as câmeras e havia apenas dois cinegrafistas, às vezes um. Você pode imaginar a complicação de tentar contar uma história e montar este filme. Havia momentos onde eu estava no chão, me contorcendo e gritando porque nós não desenhamos isto para ser filmado como cinema. Nós nunca planejamos isto. Não havia roteiro. Eu não disse, 'E agora vá para o close-up e podemos fazer mais uma tomada daquela?' Nunca aconteceu nada disso.
Q: Algum número musical foi deixado de fora por não ter sido filmado?
KO: Mmhmm, sim, sim. No dia em que Michael morreu, nós o estávamos esperando para ensaiar o final de Dirty Diana, onde ele entrava nesta ilusão e, na frente dos seus olhos, subia e fumaça e ele aparecia do outro lado do palco na grua, voando pela platéia para começar Beat It. Ele estava muito empolgado com isso. Na noite anterior, ele disse para mim que estava muito feliz. Ele viu o sonho se tornar realidade no palco. A única coisa que ele queria que eu dissesse a qualquer um da equipe criativa era, 'Eu os amo. Todo mundo está fazendo um grande trabalho. Eu amo você, Kenny. Te vejo amanhã. Obrigado'. Ele foi embora e estávamos revigorados. Nós voltamos no dia seguinte e estávamos todos no palco, muito animados trabalhando com a equipe de ilusionistas, com os nosso técnicos. Tínhamos a nossa dançarina aerealista, Danielle, no palco e Tony Testa, um dos nosso coreógrafos associados, fazia stand-in pro Michael. Nós estávamos deixando tudo pronto para ele chegar e começar a ensaiar o que seria um dos dias favoritos dele, porque ele amava ilusão. Quando nós descobrimos, tudo parou.
Q: O seu passado com Abracadabra ajudou a reinventar Thriller?
KO: Não prejudicou. Não prejudicou, mas também veio do meu passado em amar o Thriller do Michael Jackson e de ser um grande fã de todo o seu trabalho em curta-metragens. Mas foi uma das primeiras idéias sobre as quais Michael e eu conversamos, que era criar uma experiência em 3-D na arena para os fãs. É claro, as pessoas falaram, "O que?" A tecnologia, eles estavam correndo para terminá-la. Nós tínhamos o primeiro telão de 3D em HD e nós que estávamos criando estes filmes. Haviam pessoas que nem tinham certeza se iria funcionar. Quando nós testamos pela primeira vez o 3D no telão na arena, foi de arrepiar. E então planejamos outras coisas porque Michael teve várias idéias. Nós tínhamos o Michael Curry que fez o design de O Rei Leão, e foi um dos designers do nosso cenário e das marionetes. Nós tínhamos personagens gigantes com iluminação que desceriam do teto e voariam pela cabeça das pessoas. Michael estava tão animado com tudo isso. Ele gostava de chamar isto de experiência 4-D. Então, você iria ter um filme em 3-D, o elenco no palco e então fumaça saindo do lado do palco até a platéia e todos estes elementos surgindo perto das pessoas, que estariam usando os óculos 3-D.
Q: Você quis adicionar alguma coisa que refletisse o fundo emocional?
KO: Sabe, o único motivo pelo qual eu não fiz isto foi porque eu não queria ninguém dizendo que nós forjamos alguma coisa. Nós não forjamos. Não há absolutamente nada neste filme que não foi criado a partir do momento em que Michael anunciou que ia fazer os shows até o dia em que Michael morreu. Nós não queríamos tocar nisto. Foi como eu o nomei, uma documentação final e segrada e se nós voltássemos para filmar a banda ou qualquer outra coisa, então nós damos a chance para as pessoas chegarem e dizerem, "Não foi assim que realmente aconteceu. Eles tentaram pintar de forma diferente." No entanto, no DVD, há um número tremendo, eu diria, três ou quatro horas de informação que não está no filme, que vem também daquela fonte, mas agora também com informações de depois daquele momento. Então para os extras nós voltamos e conversamos sobre a experiência de trabalhar com Michael e nós completamos algumas idéias que Michael abençoou e assinou e que não tivemos tempo de terminar no momento em que Michael morreu. Então você vai ter uma noção ainda maior de como seria tudo e poderá entender os detalhes de todos os elementos que planejávamos para o show.
Q: Como você acha que Michael gostaria de ser lembrado como um artista e como uma pessoa?
KO: Eu acho que as pessoas estavam dizendo ontem à noite. Elas ecoaram tudo o que eu senti no meu coração. As pessoas vinham pra mim e diziam, 'Nós não conseguimos. Nós não conseguimos conforto na CNN. Nós não tivemos a chance de dizer adeus apropriadamente na CNN'. Não querendo dizer que eles foram irresponsáveis. Era apenas a informação que não estava lá e as pessoas diziam que não apenas nós temos a chance destes momentos finais com Michael o artista, mas também acabamos conhecendo-o melhor do que nunca como um homem. Você passa a realmente apreciar sua bondade e gentileza e sua generosidade e o espírito de colaboração maravilhoso que ele tinha e o modo como ele trabalhava com as pessoas, nunca querendo ofender ninguém. Meu Deus, se ele pensasse que havia envergonhado alguém, aquilo acabava com ele. É por isto que você sempre vê ele, ainda nos momentos mais frustrantes, ele diria, 'Com o amor. É por isso que nós ensaiamos' porque ele apreciava tanto todos nós. Ele disse para mim, 'Kenny, saia e vá encontrar os melhores artistas do mundo. Convide-os a virem e a se juntar à nossa jornada e então vamos inspirá-los a irem a lugares que eles nunca foram antes.' Então Michael sabia quem estava na frente dele e ele tinha a maior admiração e respeito por todo mundo. Mesmo que ele tivesse uma pequena briga ou desentendimento com alguém, ele nunca queria que chegasse ao ponto da pessoa acabar pensando que ele não se importava com ela ou não a respeitava.
Q: Ele não deveria ter feito musicais?
KO: Sim, nós íamos fazer uns dois filmes. Antes mesmo de sabermos que iríamos fazer This Is It, Michael e eu estávamos no estágio inicial em conversações para fazer um musical de Legs Diamond e um longa-metragem 3-D de Thriller. Michael não planejava se aposentar do show business. Ele não ia se aposentar. Entretanto, isto é o que ele chamava de sua cortina final para turnês ao vivo. O que ele pensava era que ele ia fazer os 50 shows em Londres e então ele disse pra mim, 'Se der certo e eu ainda me sentir bem e ainda tiver a energia, eu amaria ir para a África. Eu amaria ir para a Índia. Eu amaria ir para o Japão.' Travis (Payne) e eu vimos isto. Michael pretendia sair com seus filhos e ver todo o resto do mundo, dividir a experiência com eles, conhecer os fãs, dar mais uma grande reverência e então ele queria desligar da tomada a idéia de se apresentar ao vivo porque ele me disse, 'Eu não quero estar por aí me apresentando quando eu não posso mais fazer com a integridade com a qual eu sou conhecido. Entretanto, vamos fazer filmes e grandes álbuns e desenvolver projetos juntos.' Então ele estava animado para tanto mais. Ele tinha tanta coisa dentro de si ainda.
Q: O que você descobriu sobre Michael e si mesmo e a amizade de vocês fazendo isto?
KO: Bem, você sabe, Michael me deu tanta confiança. Desde o momento em que começamos, é como se ele tivesse jogado argila no meio da mesa e dissesse, "Coloque suas mãos com as minhas nela." Ele amava criar comigo. Amava. Ele amava lutar com idéias. O que estivesse fixado na parede no dia seguinte, nós nem nos lembrávamos mais de quem havia sido a idéia. Nós não ligávamos. Era uma parceria tão grande. Era tão fácil, tão livre de ego, e era tão fiel ao modo de contar a história. Michael já havia há uns dois anos sido entretido por tantas pessoas com idéias e ele me ligava de vez em quando, nós íamos jantar, conversávamos no telefone. Ele vinha me visitar no set e dizia, 'Não há nada que tenha propósito o suficiente para que eu queria sair e fazer', se referindo aos shows ao vivo. Ele dizia, 'Continue pensando'. Eu estava fazendo meus filmes e de repente eu recebi esta ligação, depois de dois anos de conversas sobre a possibilidade de fazermos alguma coisa ao vivo, e ele disse, 'Kenny, este é o momento (this is it).' Eu juro, foi o que ele disse. 'Este é o momento'. Então durante a conversa, ele disse tipo umas cinco vezes e eu ri e disse, 'Você deveria chamá-la de turnê This Is It porque você não pára de dizer.' O que aconteceu foi que quando nos juntamos logo depois disto, antes de qualquer idéia conceitual, ele começou a me falar sobre as razões pelas quais ele queria sair e fazer o show. Aqui está o porque precisamos fazer isto e agora vamos criar o show que dá valor a estas razões. É isso que eu vou levar comigo. A compreensão dele de responsabilidade, que não era o suficiente apenas sair e fazer porque ele podia. Tinha de ser importante. Tinha de ter uma razão, "raison d'etre" como o Gene Kelly costumava dizer pra mim o tempo todo. Qual a razão que existe para me inspirar para acordar todo os dias e querer vestir meu figurino e subir no palco e ser Michael Jackson.
Q: Como você responde ao site This Is Not It? Você vai tomar ações legais?
KO: Não irei. Quero dizer, o modo que eu vejo é que eles são fãs. Todo mundo está lidando com a perda. Há alguns fãs aí que estão apenas procurando algo para apontar, para apontar a razão a qual não temos mais o Michael, culpar alguém. Tudo o que eu quero dizer é que Michael não viveu assim. Este não é o espírito de Michael Jackson. Michael não presumia. Havia um número horrososo de pessoas que presumiam sobre Michael Jackson. Elas criavam histórias e especulavam e até o perseguiam e o desmoralizavam. Eu só queria dizer a qualquer um, se você não sabe do que está falando, se você não estava lá, se você não tem a informação, não coloque esta informação - não coloque. Não faça isso. Assista ao filme. Olhe o filme. O filme fala por si só. É Michael. É o Michael falando, Michael fazendo, Michael dividindo. É bem honesto, cru e desprotegido. Aquele Michael queria estar ali. Ele estava fazendo isto. Isto o nutria. O envigorava. O excitava. Ele queria fazer isto mais do que qualquer coisa exceto por passar tempo com seus filhos. Isto é o que ele queria fazer.
Q: Como você procura artistas para participar?
KO: Colaboradores e pessoas que não tenham medo de entrar em uma jornada que vai mexer com suas cabeças e que estão menos preocupadas sobre uma idéia ser delas e mais preocupadas em serem parte de um time que chega a algo especial.
Q: O que está acontecendo no mundo do High School Musical?
KO: Eu não vou fazer o High School Musical 4, mas eu ouvi que talvez eles façam com um novo elenco.
Q: O que aconteceu com todos os cenários?
KO: Tudo está aguardando. Alguns são espetaculares. De alguma forma, talvez no futuro, nós possamos usá-los para alguma idéia. Eu não sei. Eu apenas espero que não acabem ficando guardado atrás de portas trancadas.
This Is It abre nos cinemas no dia 28 de outubro.
Traduzido por Bruno Couto Pórpora