terça-feira, 25 de novembro de 2014

O que 45 minutos com Michael Jackson me Ensinaram (HP, Outubro 2014)

Huffington Post, 28 de outubro de 2014
Por Jody Michael

Quando eu tinha 16 anos, tive uma conversa de 45 minutos com Michael Jackson. Como você pode imaginar, a experiência foi emocionante. Mas o que eu desconhecia na época era como essa breve conversa iria moldar a trajetória da minha vida.

Era primavera de 1974 quando eu soube que a minha banda favorita, o Jackson 5, estava vindo para Chicago. Eu imediatamente enviei meu pedido de ingressos pelo correio. Quando eles chegaram, não pude acreditar na minha sorte: consegui assentos na primeira fileira! Daquele momento em diante, tudo o que eu podia pensar era em conhecer Michael.

Quando o dia finalmente chegou, meu pai levou a minha melhor amiga, Linda, e eu para o subúrbio e nos deixou no local do concerto. Nós encontramos os nossos lugares, fortuitamente localizados junto à mãe de Michael, Katherine. Ela foi doce e amigável e após eu ter começado a contar sobre o quanto amava os seus filhos, ela fez com que todo o grupo assinasse o meu programa da turnê. Após o show, com o programa em mãos, eu disse a Linda que nós TÍNHAMOS que conhecer o Michael.

Nosso plano brilhante era simples: ficar após o show e esperar por ele do lado de fora. Infelizmente, cerca de 100 outras pessoas tiveram o mesmo plano brilhante, mas estávamos determinadas. Durante as próximas duas horas, o grupo passou a diminuir até que ficamos só nós duas. Nós sabíamos, simplesmente sabíamos em nossos corações, que Michael ainda estava dentro do teatro. Eventualmente, o gerente do local saiu e perguntou o que estávamos fazendo; eu respondi com naturalidade, "Estamos esperando para conhecer Michael." Ele nos disse que eles haviam ido embora horas atrás e eu, com confiança, respondi, "É o seu trabalho nos dizer que ele não está aí. Eu sei que ele está e nós não vamos sair daqui."

Finalmente, farto das adolescentes obstinadas, ele destrancou o teatro e nos deixou vasculhar o local. Não havia um membro sequer da família Jackson a ser encontrado. Ficamos desanimadas.

Quando ele nos perguntou como tínhamos planejado para chegar em casa, percebemos que o trem de volta para a cidade há muito havia terminado sua última viagem da noite. No meio de toda a animação, tínhamos perdido completamente a noção de tais questões práticas. Ele foi gentil o suficiente para nos dar uma carona. Na volta para casa, ficamos alheias ao motorista; Linda e eu só falávamos sobre a nossa tentativa fracassada de conhecer Michael e do castigo que nos aguardava em casa.

Logo antes de nos deixar, o gerente da casa de shows teve piedade de nós e nos disse onde os Jacksons estavam hospedados. Senti toda a onda de excitação e esperança novamente, assim como senti quando os ingressos chegaram. Mesmo ficando de castigo por uma semana não diminuiu o meu humor ou minha determinação.

Determinada a conhecer o Michael, logo no dia seguinte eu desafiei as ordens do meu pai e corri para o hotel após a aula. Eu sentei no saguão esperando pacientemente por cinco horas. Quando era óbvio que o show já havia começado e Michael não estava à vista, eu abordei o homem da recepção e escutei, "Eu não posso confirmar ou negar que o Jackson 5 esteja hospedado aqui." Depois de muito incomodar, ele finalmente salientou que, se um grupo musical famoso estivesse hospedado no hotel, eles provavelmente não iriam sair pelo saguão.

Arrasada pela sóbria percepção de que eu o havia perdido novamente, eu sentei e escrevi uma carta sincera para Michael explicando o quanto eu havia tentado, o quanto havia esperado para conhecê-lo e em quantos problemas eu tinha me envolvido nas minhas tentativas de conexão com ele. Quando eu tentei entregá-la ao homem da recepção, ele se recusou a levá-la. Relaxada, entrei no elevador e parei em todos os andares. Quando cheguei ao topo, um gigantesco guarda avisou, "Eu acho que você está no andar errado." Bingo! Eu sabia que estava exatamente onde precisava estar. Depois de muita persuasão, eu finalmente o convenci a levar a carta. Então fui para casa e fiquei de castigo. Mais uma vez.

Mas tudo valeu a pena porque, naquela mesma noite, o telefone tocou às duas horas da manhã. Eu mal estava acordada quando ouvi meu pai responder e dizer, "Michael? Michael quem?" Eu pulei da cama e gritei para ele não desligar. Ele olhou para mim como se eu fosse uma pessoa louca e disse, "Você diga para esse Michael Jackson, seja ele quem for, para nunca mais ligar aqui novamente a esta hora!"

Eu peguei o telefone e passei 45 minutos falando com Michael Jackson. Ele era afável e gentil - era como falar com um amigo. Nós tínhamos a mesma idade e a maior parte de nossa conversa foi focada na sua curiosidade sobre a vida de um adolescente normal. Ele perguntou sobre a escola e minhas experiências cotidianas; nós nos conectamos através de nossas lutas com nossos pais rigorosos. Foi uma conversa íntima entre duas crianças.

À medida que a conversa se desenrolava, eu me lembro de pensar, "Ninguém vai acreditar nisto. Eu tenho que ter uma prova." Então eu pensei, "Não". Intuitivamente, eu sabia que pedir uma foto personalizada como prova iria estragar o momento. A conversa foi tão autêntica e pura. Eu não pedi.

Conversar com Michael Jackson foi minha primeira grande meta - algo tão grande e tão improvável que a maioria das pessoas não se incomodaria de ir atrás. Sem que eu soubesse na época, aquela ligação de 45 minutos foi uma das conversas mais importantes da minha vida. Ela me moldou para ser destemida e obstinada em busca dos meus objetivos.

Muitas vezes, nós aceitamos "não" como um sinal de que não somos inteligentes o suficiente, poderosos o suficiente ou capazes o suficiente. Nós criamos e contamos a nós mesmos histórias que nos limitam. A trajetória do nosso futuro muda - muitas vezes de forma dramática - quando o "não" não serve mais como um absoluto, e nós mudamos as nossas histórias para apoiar a ação que precisamos para seguir em frente e avançar.



 Traduzido por Bruno Couto Pórpora