quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

O Susto de Michael Jackson (People, Fevereiro 1984)

People, 13 de fevereiro de 1984
Por Carl Arrington

A sensação do pop, Michael Jackson, sobrevive a acidente com queimaduras sérias e planeja livro de memórias com Jackie Onassis

Atiraram em Michael Jackson. Esta foi a primeira reação daqueles que estavam perto, quando ele segurou as costas de sua cabeça e gritou. Não foi uma ferida de bala que o fez gritar, embora tenha sido quase tão grave quanto: a cabeça de Jackson estava pegando fogo.

Este espetáculo de horror aconteceu na semana passada, perante milhares de fãs chocados no Shrine Auditorium de Los Angeles onde Michael, 25, e seus irmãos estavam filmando um comercial para a Pepsi. Aconteceu durante uma das últimas cenas após quatro dias agitados de filmagens sob a direção do mago do vídeo, Bob Giraldi. Giraldi havia ordenado outro take da iluminada sequência de abertura. Entre a iluminação, Michael aparecia no topo de uma escadaria e começava sua deslumbrante dança até o chão, onde os outros Jacksons estavam alinhados.

No meio de sua descida ele sentiu algo quente, mas imaginou que fossem as luzes dos holofotes. Os efeitos especiais pirotécnicos explodiam ao redor dele enquanto ele dava piruetas ao som de uma versão efervescente de Billie Jean. De repente, ele sentiu uma pontada de dor e gritou. O primeiro a responder foi Miko Brando, 22, filho de Marlon e assessor da segurança de Jackson. "Eu corri, o abracei e passei minhas mãos em seu cabelo," conta Brando, que queimou seus próprios dedos no processo. Em cerca de segundos o fogo foi contido, e Michael foi rodeado por uma multidão de guarda-costas, Jacksons e técnicos. Um fã de pensamento rápido apanhou um pouco de gelo, pegou a camiseta para fazer uma compressa gelada e aplicou no ferimento. Alguns minutos depois, os paramédicos chegaram e levaram Michael rapidamente para a sala de emergência do centro médico Cedars-Sinai.

O acidente ocorreu pouco depois das 6 da noite e os primeiros comunicados à imprensa local diziam que Michael havia sido "severamente queimado e estava em estado grave". Na verdade, graças ao tratamento de emergência com gelo, ele esteve alerta o suficiente para dizer aos paramédicos da ambulância que ele queria colocar sua luva brilhante quando fosse levado para dentro do hospital com a cadeira de rodas. A equipe médica checou seus sinais vitais e inspecionaram o ferimento. O fogo havia causado uma queimadura de segundo grau do tamanho de uma palma em sua cabeça, queimadura esta que cerca outra de terceiro grau, do tamanho do buraco de um disco de 45 rotações. Um creme antisséptico foi aplicado (sulfadiazina de prata) e ofereceram a ele calmantes, o que ele recusou por conta de sua opinião sobre narcóticos. Mais tarde ele aceitou um analgésico leve.

A notícia do acidente chegou logo ao Dr. Steven Hoefflin, o médico pessoal e cirurgião plástico de Jackson, que correu para o Cedars-Sinai. "Foi um grande choque para Michael, e quando eu cheguei lá ele estava entorpecido", conta Hoefflin. "Depois de examiná-lo e dizer a ele que tudo ficaria bem, ele se sentiu muito melhor." Hoefflin, que já remodelou cosmeticamente o nariz de Jackson, decidiu mover seu paciente famoso para ser tratado do outro lado da cidade, no Centro de Queimaduras do Centro Médico Brotman em Culver City. Acompanhado por seus pais, seu irmão Randy, dois guarda-costas e Hoefflin, Michael chegou por volta das 8:15 da noite. Já assentado no quarto 3307, ele virou paciente da enfermeira Kathy McGrath, 29, que se lembra que "ele ainda estava bem abalado e frio, então nós colocamos uns cinco cobertores nele".

Logo os fãs começaram a se juntar no hospital e a ocupar a área de espera da emergência. As linhas de telefone foram inundadas com ligações e seis membros voluntários da equipe do hospital cuidaram dos inesgotáveis telefonemas. A segurança ao longo do hospital foi reforçada e um guarda colocado em cada entrada do centro de queimaduras. "Praticamente todo mundo que trabalha no hospital arranjou uma desculpa para visitar o andar," conta o supervisor do centro de queimaduras, Pat Lavalas.

Michael, enquanto isso, fazia uma recuperação rápida. Em cerca de algumas horas, ele já estava pedindo pelo videocassete. Por conta do pessoal do hospital não ter a chave para o gabinete onde estava o videocassete do hospital, eles acabaram quebrando o cadeado para pegar o eletrônico e encontraram cerca de 10 fitas para Jackson. Ele selecionou Contatos Imediatos do Terceiro Grau, dirigido pelo seu amigo Steven Spielberg, e ficou acordado assistindo até cerca de 1 da manhã. Então, após terem lhe dado um remédio para dormir, ele teve uma noite tranquila.

Michael acordou com um café da manhã com frutas e suco e uma espiral de mensagens de amigos e fãs. Diana Ross ligou. Assim como Liza Minnelli. O telegrama favorito de Jackson dentre milhares foi o de uma garota que disse, "Eu ouvi dizer que você era quente, Michael, mas isto é ridículo."

No momento que Hoefflin chegou no dia seguinte, Jackson havia assistido American Bandstand na TV e, segundo uma enfermeira, "estava cantarolando na cama enquanto os médicos o examinavam."

Ao invés da vestimenta típica de hospital, ele optou por um uniforme de enfermeiro na cor turquesa. As enfermeiras também customizaram uma atadura para a cabeça que podia ser camuflada com o chapéu. "Você vai começar uma nova onda aqui em 1984-o look com redes", disse a enfermeira Jan Virgil para Michael. "Ele riu e disse que queria parecer francês".

Jackson havia visitado o centro de tratamento de queimados anteriormente, visitando pacientes lá em duas ocasiões. Foi ainda no mês passado, de fato, que Jackson ligou para Keith Perry, um mecânico de 23 anos que sofreu queimaduras de terceiro grau em 95% do seu corpo. Perry havia passado por sua décima quarta operação quando Michael chegou e foi colocado em um quarto contíguo. Outra paciente severamente queimada com quem ele esteve em frequente contato foi a costureira de 41 anos, Bessie Henderson. "Bessie havia passado por muitas operações e estava muito deprimida," conta Hoefflin, que também é o cirurgião plástico dela. "Quando Michael começou a ligar, ela mudou e agora está muito melhor."

Alguns dos pacientes não estavam cientes de que havia uma celebridade entre eles, até que Michael, usando meias brancas e apenas uma luva com lantejoulas, apareceu e visitou Keith, Bessie e os outros seis pacientes do centro de tratamento de queimados. Um dos pacientes não conseguia acreditar que havia recebido uma visita de Michael Jackson, então o cantor retornou para provar que não era apenas um sonho. Outro paciente queria saber porque Michael usava a luva. "Desta forma," ele explicou, "eu nunca estou fora do palco." Com a permissão do seu médico, Michael decidiu deixar o hospital depois de uma estadia de menos de um dia, e continuar o tratamento em casa.

Acompanhado por sua comitiva e vestindo um fedora preto, com roupa de hospital por cima de seu traje esportivo, Michael foi levado de cadeira de rodas até um carro particular. No caminho, ele parou para tirar fotos com vários visitantes. "Ele vai ser maior que Elvis Presley," disse uma mulher na casa dos 50 anos. "Maior do que quem?" perguntou um dos pré-adolescentes que se juntaram para ver o ídolo.

Praticamente todo o centro de tratamento de queimados conseguiu um souvenir, com o seu paciente famoso posando para fotos e autografando fitas K7, álbuns Thriller e fotos. E embora Jackson não tenha dançado, Hoefflin sabia que aquilo não duraria muito. "Dizer a Michael para não dançar," falou o cirurgião, "é como dizer a ele para não respirar."

Jackson planeja participar de uma mega-festa que a CBS e a Epic Records irão realizar em sua homenagem no Museu Americano de História Natural, nesta semana em Nova York, e ele deve voltar em plena forma para a premiação do Grammy (ele foi indicado para uma dúzia de prêmios) no dia 28 de fevereiro. "Michael está saudável e em boa forma," conta Hoefflin. "Isto já vai ajudar para que seja uma breve recuperação." É muito cedo para julgar se ele precisará de alguma cirurgia reconstrutora.

A causa exata do acidente no Shrine Auditorium ainda deve ser determinada. Testemunhas dizem que foi uma faísca de um dos efeitos especiais que inflamou o seu cabelo. "Michael estava exausto quando aquilo aconteceu," conta Hoefflin. "Foi no final de uma semana onde ele estava tentando filmar um comercial, fazendo planos para uma megaturnê nacional e terminando um álbum com seus irmãos".

Até o momento não houve processo, embora os executivos de Jackson e da Pepsi estejam revisando as filmagens do incidente cautelosamente para determinar se houve negligência. O patrocínio com a Pepsi para dois comerciais é declaradamente o contrato de negócios mais lucrativo da história a envolver celebridades, garantindo aos Jacksons ao menos $5 milhões. A família teve de ser convencida para fazer negócio porque, de acordo com uma fonte próxima, fazer propaganda de um produto "não é uma decisão que todo artista se sentiria imediatamente confortável em tomar."

Embora seja uma empreitada decididamente menos lucrativa, Michael também planeja uma autobiografia. E para isso, ele terá a ajuda da mais celebrada editora do ramo: Jackie Onassis. A Senhora O. foi apresentada ao Sr. J há muitos anos atrás em um evento dos Kennedy, em Nova York; tanto Caroline e John Jr. são fãs do cantor desde os dias do Jackson Five. Jackie e Michael se encontraram novamente no último Outubro, na Califórnia - desta vez, conta o assessor de Jackson, Steve Manning, "para realmente conhecerem um ao outro."

Duas semanas atrás, a firma de Jackie, Doubleday, anunciou um contrato de mais de $300.000 com Jackson - e nomeou Jackie como editora dele. As memórias de Michael, que deverá conter cerca de 200 fotos de sua coleção particular, deve ser lançada na primavera de 1985. Jackson também deve estrelar em um novo filme de Peter Pan com direção de Spielberg. A turnê, entretanto, está marcada para começar neste Maio, com a estréia possivelmente na cidade de origem dos Jacksons, Gary, Indiana. O show pode ser transmitido internacionalmente.

Não que Jackson precise de exposição extra. O Livro Guinness dos Recordes Mundiais recentemente incluiu em suas novas edições uma citação às 23 milhões de cópias vendidas de Thriller, situando-no como o LP solo mais vendido de todos os tempos. Ele também continua a quebrar recordes de venda com seu sexto single, a faixa-título de Thriller, e seu dueto com Paul McCartney, Say Say Say, continua no topo das paradas. Tudo isto é mera evidência estatística do extraordinário apelo de Michael, uma mística agora aprimorada com uma quase tragédia. "Eu estaria disposto a quebrar o meu braço," disse Tyrone Davis de 14 anos, um dos devotos que ficou em vigília do lado de fora do hospital, "apenas para ficar na ala de emergência com Michael." Para não ficar por baixo, o amigo de David, John Thomas, 13 anos, alardeou, "isto não é nada. Eu quebraria o meu pescoço."



Traduzido por Bruno Couto Pórpora