domingo, 13 de outubro de 2013

Jackson chega hoje a São Paulo (Folha de S. Paulo, Outubro 1993)

Folha de São Paulo, 13 de outubro de 1993

O popstar desembarca no país 19 anos após sua primeira visita, quando cantava no Jackson 5

É hoje. Se não cair nenhuma tempestade, Michael Jackson desembarca às 14h no aeroporto internacional de Guarulhos. Jackson traz à cidade de São Paulo o show Dangerous, que viaja pelo mundo desde junho do ano passado. Jackson volta ao país 19 anos depois como a maior estrela da música pop. Em setembro de 1974, Jermaine, Tito, Jackie, Marlon, Randy e Michael - O Jackson 5 - se apresentaram em São Paulo.

Jackson chega em um Boeing 727 de sua propriedade e será recebido com tapete vermelho na pista do aeroporto. Três crianças devem entregar flores para Jackson no local, segundo a DC Set, que traz Jackson ao Brasil com a Xuxa Produções. O popstar vem diretamente de Buenos Aires, onde fez ontem à noite seu terceiro show na capital argentina.

Amigos e convidados de Michael Jackson viajam com ele. Os nomes dos acompanhantes não foram revelados. Do aeroporto, Jackson deve se dirigir em um furgão com vidros fumê ao Sheraton Mofarrej, hotel onde tem reservada uma suíte presidencial. É provável que o cantor passeie pela cidade hoje à tarde, a exemplo do que aconteceu em sua chegada a Buenos Aires. Segundo Jim Morey, "personal manager" de Michael Jackson, o cantor sempre passeia nos dias em que não faz show. O primeiro está marcado para depois de amanhã, às 21h30, no estádio do Morumbi.

A princípio, a produção brasileira dos shows queria que o desembarque fosse no aeroporto de Congonhas, na região sul da capital. A idéia era facilitar o acesso da imprensa e o deslocamento de Jackson até o hotel. Técnicos previram dificuldades para a decolagem do avião, com o tanque de combustível cheio para a viagem ao Chile, onde Jackson se apresenta depois do Brasil. A segunda apresentação de Jackson em São Paulo serã domingo, às 19h30, também no estádio do Morumbi. Os dois shows têm apoio da Folha.



Em 74, Michael salvou show com pandeiro


Michael já era um prodígio quando fez shows no Brasil, em setembro de 1974, com o Jackson 5. Sua voz passava por alterações - ele tinha 16 anos à época. "Mas já dava para ver que ele ia estourar", diz o jornalista Elia Junior, 34, que assistiu ao show de 74 e comprou ingresso para ver Jackson esta semana.

Em 74, o Jackson 5 tinha seis integrantes (Randy acabara de entrar no grupo por causa das alterações na voz de Michael) e já estourara nas paradas de sucesso. Com nove álbuns gravados e 4 milhões de cópias vendidas do single I'll Be There, o grupo protagonizava uma série de desenhos animados na TV americana, exibida aqui pela Globo.

Todos os números daquela turnê, que passou pela Argentina, Colômbia e outros países sul-americanos, seriam muitas vezes multiplicados. A comitiva de Jackson 5 tinha 18 pessoas. Hoje, Michael desembarca com um grupo de 150. As seis toneladas de equipamentos viraram 100, 19 anos depois.

Até os ingressos tiveram preços multiplicados. O mais barato custava CR$20 (ou US$2,5 na época; hoje custa o equivalente a US$14,7). Isso apesar de o Morumbi poder receber até 86 mil pessoas em cada show, contra as 10 mil que foram ao Grande Parque do Anhembi em 74.

Jornais da época descrevem Michael como um "monstro" em cena. A certa altura do show, diante dos problemas de som, todos os integrantes do grupo pararam de tocar. Michael Jackson, impávido, salvou a situação, tocando um pandeiro e dançando para desfazer a tensão do grupo.

Em entrevista coletiva no hotel Othon Palace, onde ficaram hospedados, um jornalista perguntou ao grupo sobre a diferença entre arte e comércio, Michael tentou responder, mas foi interrompido pelo pai e empresário, Joe, que desconversou.

Além de fazer dois shows em São Paulo, o Jackson 5 gravou um especial para a extinta TV Tupi, no estúdio do bairro do Sumaré, onde Jô Soares comanda hoje o seu "talk show" diário. "Fiquei impressionado com a organização do grupo, que chegou em três Landaus, gravou e foi embora sem falar com ninguém e sem maiores tumultos", lembra José Sebastião, 61, na época diretor de palco da Tupi.

O show do Jackson 5 dividiu a atenção do público paulistano com outro show. A Folha de 9 de setembro de 1974 chamou de "infeliz coincidência" a vinda quase simultânea do The Stylistics - grupo que fazia sucesso na época com músicas melosas como You Are Everything. Poucos se lembram do The Stylistics, mas Michael, 19 anos depois, volta ao país com o megashow Dangerous, em que relembra sucessos do Jackson 5 e canta I'll Be There, uma das músicas mais aplaudidas no show de 1974.