The New York Times, 25 de novembro de 1996
Quando o álbum duplo foi lançado em Junho de 1995, a Sony Music, gravadora do Sr. Jackson, o anunciou com grande fanfarra e uma campanha de marketing estimada em $30 milhões. Em várias entrevistas, os executivos da Sony Music disseram esperar que o álbum gerasse oito ou mais singles, vendesse 20 milhões de cópias no mundo todo a ponto de ainda ser um ítem quente dois Natais depois.
O álbum entrou na parada pop no No. 1, segurou o topo por duas semanas e então caiu rapidamente no esquecimento. A campanha da Sony para o álbum se tornou uma piada nacional, ridicularizada como um complacente desperdício de dinheiro, histeria e tempo em um artista que não poderia mais criar um blockbuster como Thriller de 1982, que vendeu 46 milhões de cópias e se tornou um dos discos mais vendidos de todos os tempos. Agora, dois Natais após o lançamento de HIStory: Past, Presente, Future, Book I, o álbum já desapareceu há muito tempo da parada dos 200 mais vendidos e da consciência do pop americano.
Mas só porque o álbum é história aqui não significa que ele foi esquecido no restante do mundo. Ele está, na verdade, subindo nas paradas da Malásia, Austrália, França e em outros lugares. Se mantém como um dos discos mais vendidas em uma dezena de outros países da Europa e Ásia e um single, Stranger in Moscow, nem lançado nos Estados Unidos, acabou de entrar para o top 20 da Inglaterra. De acordo com a Sony Music, o álbum vendeu 11 milhões de cópias no mundo todo. O Sr. Jackson está atualmente em turnê na Austrália e pretende seguir para as Filipinas, Japão, Indonésia, Hawaí e África do Sul nos próximos dois meses antes de viajar pela Europa na primavera e verão. Mais dois singles do álbum serão lançados no exterior durante este período, e a Sony diz estar expedindo cerca de 100,000 cópias de HIStory para o exterior a cada semana.
Isto soa como uma campanha de marketing em total força. Na verdade, está passando o plano de 18 meses da Sony, e pode até chegar perto da meta da companhia de vender 20 milhões de álbuns. Considerando que eles são cobrados como álbuns duplos, isto poderia tornar HIStory uma fonte quase tão rentável quanto Thriller.
Há também o fato de que as gravadoras possuem vantagens ao venderem música no exterior. Muitas companhias reduzem os royalties do artista em até 50% no exterior. E na Europa e no Japão, CDs custam quase o dobro do seu preço nos Estados Unidos.
"Nós pensamos globalmente," diz Mel Ilberman, o presidente da Sony Music International. "Nós sempre lidamos com HIStory como um álbum global. Nós não nos importamos onde o vendemos. E neste caso, vendemos bem em lugares onde o preço é mais alto e nossa margem de lucro é ainda melhor."
Obviamente a história da Sony deve ser tomada com um pouco de ceticismo: as estimativas de vendas são da própria companhia, e em muitas países as unidades vendidas são difíceis de serem contabilizadas e os lucros são prejudicados com as tarifas governamentais, má distribuição e pirataria. Mas apesar destes problemas, o Sr. Jackson está abrindo novo solo para um superastro - seja por escolha ou necessidade - em praticamente ignorar os Estados Unidos como mercado para a sua própria música pop.
Com mais frequência outros músicos têm pensado globalmente. Uma razão para o artista antes conhecido como Prince ter assinado um contrato de seis álbuns para a EMI após o fim de seu contrato com a Warner Brothers é de que a EMI, com uma parcela menor do mercado doméstico comparado aos seus competidores, é uma grande jogadora no cenário internacional. E grupos como Bon Jovi ou a cantora Celine Dion fazem turnês extensas pela Ásia, América do Sul e pelo leste da Europa.
A banda Mr. Big, que teve um hit No. 1 aqui em 1991 com To Be With You, mal promoveu seu novo álbum Hey Man pela Atlantic da Time Warner em seu país de origem. Eles foram para o Japão onde o álbum se tornou um dos poucos discos americanos a atingir o No. 1 lá. Na verdade, a banda lançou três álbuns (com títulos como Japandemonium e Raw Like Sushi) exclusivamente no Japão.
A Ásia e o leste europeu são os mercados mais crescentes no mundo para a música pop, e são prioridades No. 1 para a maioria das grandes gravadoras. De 1991 e 1995, as vendas de música cresceram 87% na Ásia, de acordo com a Federação Internacional da Indústria Fonográfica. Uma pesquisa recente feita pela revista Music Business Internacional previu que a porção da América do Norte no mercado musical mundial cairia de 35 para 28% (outras estimativas prevêm uma queda de até 20%) e que a do leste Europeu subiria de 30 para 34% nos próximos cinco anos. A Ásia teria a maior fatia. As vendas lá devem aumentar em 74%, enquanto a fatia do mercado cresce de 22 para 29%.
O tipo de material mais pobre vende bem no exterior - baladeiras românticas como Mariah Carey e Celine Dion, e instrumentistas como Kenny G. Mas grupos de hip hop como os Fugees e bandas de heavy-metal como Van Halen também estão conquistando vendas internacionais tão fortes quanto nos Estados Unidos.
É claro, não são apenas artistas do Ocidente que estão criando o boom na Ásia. Mais e mais, astros regionais - incluindo cantores de "Canto-pop" em Hong Kong, como Jacky Cheung e grupos de pop-soul japoneses como Dreams Come True - estão contando na massa de negócios do exterior. Enquanto os países que antes dependiam da cultura pop ocidental desenvolvem música regional mais sofisticada, os popstars americanos terão de trabalhar tão duro quanto o Sr. Jackson para manter seus status de superastros no exterior.
Tudo isto já tem um efeito direto nos fãs americanos de música pop. Uma turnê de banda não dura mais de uma estação ou metade do ano. Agora, elas podem englobar a maior parte do mundo e durar até dois anos, tornando os intervalos entre um álbum e outro em três anos ou mais. Se o mercado internacional continuar se expandindo, e ele demonstra todo tipo de sinal de que irá, os fãs podem acabar ouvindo menos de suas bandas favoritas no futuro se elas decidirem cruzar o globo para se promoverem. No lado positivo, talvez significará que a platéia do pop americano terá de abrir os seus ouvidos para uma variedade maior de música internacional.
Traduzido por Bruno Couto Pórpora