LA Times, 31 de maio de 2009
Por Chris Lee e Harriet Ryan
Tom Barrack, um financiador do oeste que ganhou bilhões comprando e vendendo propriedades abandonadas, voou para Las Vegas em março de 2008 para checar um negócio problemático. Mas seu alvo não era uma cadeia de hotéis ou um banco em ruínas.
Era Michael Jackson. O artista masculino que mais vendeu discos no mundo estava confinado com seus três filhos em um feio complexo residencial numa parte antiga da cidade. Aos 49 anos, ele nadava em uma dívida de quase U$400 milhões. Os ricos amigos estrangeiros que lhe ofereceram abrigo após seu julgamento de 2005 haviam sumido. Seu rancho em Santa Bárbara, Neverland, estava para ser vendido em um leilão público.
Em Jackson, Barrack viu o tipo de investimento subestimado que sua firma, a Colony Capital, havia conseguido restaurar no passado. Ele assinou um cheque para salvar o rancho e fez uma ligação para um amigo, o conservador magnata de negócios Philip Anschutz, cujos negócios incluem a empresa produtora de shows AEG Live.
Quinze meses depois, Jackson está vivendo em uma mansão em Bel-Air e ensaiando para uma série de 50 shows com ingressos esgostados na O2 Arena em Londres. A intervenção de dois bilionários com mais experiência na sala de reuniões do que num estúdio de gravações parecia em curso de conquistar o que tantos outros tentaram nos últimos doze anos e não conseguiram: levar Jackson de volta aos palcos.
Seus financiadores vêem os shows de Londres como um teste para o renascimento de sua carreira, que poderia resultar numa turnê mundial de três anos, um novo álbum, filmes, um museu ao estilo de Graceland, peças musicais em Las Vegas e Macau, e até um cassino inspirado em Thriller.
"Você está falando de um cara que poderia faturar $500 milhões por ano se ele se concentrar nisso," disse Barrack recentemente. "Existem poucos artistas que são negócios multi-bilionários. Ele é um deles."
Outros tentaram ressuscitar a carreira de Jackson mas não conseguiram, dizem pessoas próximas, por conta de administrações caóticas que resultavam em desafetos no seu círculo interno.
Mesmo quando os benfeitores de Jackson reúnem um time estelar - Kenny Ortega da franquia High School Musical está dirigindo os shows de Londres - há insinuações de discórdia. Na semana passada, dois homems se identificando como empresários do cantor; um mês atrás, um respeitado contador que estava cuidando das transações de Jackson foi repentinamente despedido por telefone por um assistente.
Mas os benfeitores de Jackson minimizam os problemas. "Ele está muito concentrado. Ele não vai desapontar ninguém. Não a si mesmo. Não aos fãs. Não a sua família," disse Frank DiLeo, seu atual empresário e amigo por três décadas.
Michael Jackson realizou grandes empréstimos colocando como garantia suas três maiores posses: seu rancho, seu catálogo musical e um segundo catálogo que inclui as músicas dos Beatles e que ele divide com a Sony Corp.
Compondo suas dificuldades financeiras estão uma horda de assessores que lhe processaram e vários parasitas. Jackson teve 11 empresários desde 1990, de acordo com DiLeo.
Pelo menos 19 pessoas - consultores financeiros, empresários, advogados, um produtor pornográfico [Schaffel] e até um sheik do Bahrein - levaram Jackson aos tribunais, acusando-o de não pagar contas ou de voltar atrás em acordos. Ele negociou muitos dos processos. Atualmente, ele encara processos civis de uma antiga porta-voz, um promotor de shows e o roteirista-diretor de seu clipe Thriller, John Landis.
John Branca, um advogado no meio do entretenimento que representou Jackson por mais de 20 anos, culpa os problemas financeiros do cantor parte em seu hábito de se rodear com pessoas que lhe diziam "sim" à tudo. Branca aconselhou Jackson a comprar metade do catálogo dos Beatles em 1985 por $47,5 milhões. O catálogo agora vale bilhões, e a compra é considerada sua estratégia de negócio mais astuta.
"O paradoxo é que Michael é uma das pessoas mais inteligentes e talentosas que já conheci. Ao mesmo tempo, ele fez algumas das piores decisões na história da música escolhendo assessores," disse Branca, que representa Santana, Nickelback e Aerosmith, entre outros. Ele disse que rompeu com o cantor porque Jackson convidou para o seu círculo interno "pessoas que não tinham em mente os interesses dele".
Os problemas financeiros do cantor atingiram um ponto crítico em março de 2008, quando ele não pagou um empréstimo de $24,5 milhões e Neverland foi fechada. O irmão de Jackson pediu a ajuda do Dr. Tohme Tohme, um cirurgião ortopédico que se tornou empresário e que já havia trabalhado anteriormente com a Colony Capital.
Tohme entrou em contato com Barrack - que disse inicialmente relutar em se envolver porque Jackson já havia buscado aconselhamento do amigo de Barrack, o também bilionário Ron Burkle.
"Eu disse, 'Meu Deus, se Ron não consegue ajudar, eu também não consigo'," disse Barrack.
Mas ele foi levado ao negócio. Ele possui um rancho há cinco milhas de Neverland, e seus filhos estiveram entre as crianças da área a quem Jackson convidou para dias de diversão no rancho.
Com o leilão da casa e posses de Jackson há dias de acontecer, Barrack fez uma proposta ao cantor.
"Eu sentei com ele e disse, 'Olhe... nós podemos pagar e reestruturar o seu império financeiro'," disse Barrack. Mas, ele disse a ele, "o que você precisa é de um novo protetor. Um novo pódio. Um novo motor."
Tohme, que era o empresário do cantor até recentemente, se lembra da urgência da situação. "Se ele não agisse rápido, teria perdido o rancho," disse Tohme. "Isso teria sido humilhante para o Michael."
Jackson e Barrack chegaram a um acordo em sete dias. A Colony pagou $22,5 milhões e Neverland não foi vendida.
Jackson não fala publicamente desde uma conferência com a imprensa em março e seus representantes se recusaram a deixá-lo disponível para uma entrevista.
Barrack diz que sua posição fora da indústria da música é cara a Jackson. "Ele me olha com admiração. Eu tenho credibilidade porque eu não vivo naquele mundo. Eu não tenho interesse em ficar andando atrás dele. Não tenho interesse em garotas. Não tenho interesse em garotos. Não tenho interesse em drogas," disse Barrack.
Depois de comprar Neverland, Barrack ligou para seu amigo Anschutz. Barrack disse que sua iniciativa em ajudar Jackson, considerando seu recente julgamento, fez Anschutz, um cristão devoto, pausar. (Anschutz se recusou a dar entrevista).
Barrack passou um tempo significativo com Jackson e o elogiou como um "gênio" e um pai devotado. Finalmente, Anschutz concordou em colocar Jackson em contato com Randy Phillips, o chefe executivo de sua empresa de shows.
Como chefe da AEG Live, Phillips comanda uma divisão que faturou mais de $1 bilhão no ano passado e tem negociado séries de shows lucrativas como a de quatro anos de Celine Dion, que rendeu $400 milhões em Las Vegas, e os 21 shows esgotados de Prince na O2 Arena em 2007.
Phillips tinha seus olhos em Jackson há algum tempo. Em 2007, Phillips abordou o cantor com uma proposta de retorno, mas Jackson, que estava trabalhando com outros assessores, recusou. "Ele não estava pronto," relembra Phillips.
Desta vez, no entanto, Jackson foi receptivo. Ele precisava do dinheiro, e também tinha um segundo motivo, mais pessoal: Seus filhos - Blanket, 7, Prince, 12, e a filha Paris, 11 - nunca haviam visto o pai no palco.
"Eles têm idade o suficiente agora para apreciarem e entenderem o que eu faço, e eu ainda sou jovem o suficiente para fazer," Phillips citou as palavras de Jackson.
Jackson deve faturar $50 milhões com a série de shows "This Is It" - $1 milhão por performance, o que não inclui vendas de merchandising e direitos de transmissão. Jackson está considerando opções, que incluem um concerto pay-per-view e um filme. Mas o dinheiro de verdade começaria a rolar após a última descida da cortina em Londres.
AEG propôs uma turnê de três anos começando na Europa, viajando para a Ásia e finalmente retornando aos Estados Unidos. Embora Jackson tenha se comprometido apenas com os shows no O2 até o momenjto, Phillips estima que as vendas de ingressos pelo mundo superariam $450 milhões. Uma repercussão assim poderia enxugar as dívidas de Jackson.
"Se esperaria que ele faturasse uns 50% disso," disse Phillips.
Barrack, o homem que orquestou o retorno de Jackson, viu sua rede de negócios cair com a crise financeira. Forbes estimou sua fortuna em $2,3 bilhões na época em que ele conheceu Jackson, mas agora ele é meramente um multi-milionário. Ele disse que a baixa na economia torna Jackson mais atraente como um investimento porque seu valor foi subestimado: Em tempos assim, ele diz, "encontrar informações que os outros não tem" é mais importante do que nunca.
Sua companhia não está exposta a nenhum risco trabalhando com Jackson. Todo o dinheiro que a Colony investiu está garantido com o valor de Neverland e negócios relacionados, ele diz. Se Jackson reconquistar um posto financeiro firme, a companhia de Barrack poderia ser parceira em negócios futuros. "Quando ele olhar para trás e dizer, 'Quem tomou o risco? Quem estava lá?' Digo, ele entende. Então esta é a minha esperança," disse Barrack.
Tudo depende do que acontecer em 13 de julho quando as luzes se apagarem na O2 Arena. Dúvidas sobre a confiabilidade de Jackson se espalham por conta do longo tempo em que ele não se apresentou. Essas preocupações aumentaram no começo deste mês, quando a noite de abertura do show foi adiada em cinco dias. Phillips e Ortega, o diretor, culparam problemas de produção e disseram que Jackson estava pronto para se apresentar.
Fãs demonstraram sua fé em Jackson há meses atrás quando arrebataram 750,000 ingressos para os shows que devem durar até março de 2010 em menos de quatro horas. "Nós poderíamos ter aberto 200 shows se ele aceitasse viver em Londres por dois anos," disse Phillips.
Em acréscimo aos mais de $20 milhões que a AEG está pagando para produzir o show, a companhia coloca sua reputação à prova por um performer com histórico de apresentações canceladas. "Neste negócio, se você não toma riscos, não atinge a grandeza," disse Phillips.
Mas os problemas que circundaram Jackson no passado - asssessores desorganizados e questionáveis - persistem.
Em uma entrevista na semana passsada, Tohme se identificou como o "empresário, porta-voz, tudo" do cantor e falou sobre os benefícios de lidar com titãs empresariais como Barrack e Anschutz ao invés de seus predecessores "preguiçosos". "Michael Jackson é uma instituição. Ele precisa ser empresariado como uma instituição," disse Tohme.
No dia seguinte, no entanto, o associado de longa data de Jackson, DiLeo, alegou que ele era o empresário de Jackson e disse que Tohme havia sido despedido um mês e meio antes. Tohme negou ter sido despedido mas se recusou a comentar mais o assunto.
Em abril, Jackson despediu a empresa de contabilidade Cannon & Co., que estava trabalhando para ele há um ano, de acordo com um contador que administrava suas finanças. Em seu escritório no alto da Century City, Barrack é otimista quanto aos relatos de desarmonia. "Você tem novamente os mesmos parasitas que começam a voltar e se aproveitar da situação." Mas, ele acrescenta, tem confiança na habilidade da AEG em manter Jackson concentrado.
Os shows, Phillips reconhece, são um momento "faça-ou-morra" para Jackson. "Se eles não acontecerem, seria um problema gigantesco para ele em termos de carreira, de um modo que não foi no passado," ele disse.
Traduzido por Bruno Couto Pórpora.