domingo, 9 de janeiro de 2011

"Eu construí um muro em torno de Michael", Tohme Tohme (AP, Julho 2009)

Associated Press, 4 de julho de 2009

LOS ANGELES - O Dr. Tohme Tohme relembra claramente da primeira vez em que se encontrou com Michael Jackson para discutir as finanças do popstar. Não são as conversas sobre dinheiro que ficam com ele agora, mas o encantamento por entrar no mundo de amor de Jackson.

"Eu vi o quão gentil ele era e um ser humano maravilhoso," Tohme disse em uma entrevista. "Eu vi ele com seus filhos e nunca conheci um melhor pai... eu decidi fazer o que podia para ajudá-lo."

Tohme, um financiador com um passado sombrio, estava em contato com o irmão de Jackson, Jermaine, que perguntou se Tohme poderia ajudar Jackson a salvar seu amado rancho Neverland. Tohme conta que ele viajou com Jermaine para Las Vegas, onde Jackson estava vivendo depois de percorrer o mundo após sua absolvição no julgamento de 2005.

Eles se deram bem de cara. "Pelo último ano e meio eu era a pessoa mais próxima de Michael Jackson," disse Tohme. Ele entrou em contato com Tom Barrack, o presidente da Colony Capital e uma amigo pessoal. "Ele hesitou em se envolver, mas eu disse 'Vamos ver o Michael,'" relembra Tohme.

Depois do encontro ele disse que Barrack, que ficou impressionado com a "inteligência e o foco" de Jackson, resolveu investir em Neverland. Mas este foi apenas o começo de uma relação de negócios que culminou nos shows de Londres que deveriam começar na próxima semana.

Vestindo um terno sem gravata, Thome, o último empresário e porta-voz de Jackson, deu sua primeira entrevista na sexta-feira para a Associated Press, no escritório de um amigo advogado.

'Eu sou um homem que gosta de privacidade'

Tohme, listado nos registros públicos como um homem de quase 60 anos, tem sido retratado como uma espécie de homem misterioso no nervo central da equipe de Jackson.

"Eu odeio a expressão 'homem misterioso'," ele disse. "Eu gosto de privacidade. Muitas pessoas não gostam da mídia e eu não gosto. Eu respeito a privacidade das outras pessoas mas ultimamente ninguém respeita a minha."

Enquanto ele falava, seu celular tocava insistentemente. Ele atendeu apenas algumas chamadas, uma delas de Jesse Jackson.

Ele foi alvo de acusações sobre envolvimento com a Nação do Islã, o que ele diz não ser verdade.

"Eu não tenho nada contra ninguém," ele disse, "Mas eu não conheço ninguém da Nação do Islã. Quando eu passei a liderar os negócios de Michael Jackson, eu despedi algumas pessoas da Nação do Islã."

É sabido que ele tem ascendência libanesa. Seu nome duplo é incomum no Oriente Médio. Mas ele se recusou a entrar em detalhes sobre sua própria vida e carreira, se resumindo a dizer que é um cidadão americano que foi criado em Los Angeles e que "sou um self-made man. Estou no mundo das finanças".

"Eu não quero falar sobre mim," ele disse. "Eu sou um ninguém. Eu não sou importante. Eu quero falar sobre Michael Jackson."

Por instantes ele pareceu à beira de lágrimas quando discutíamos a morte de Jackson, dizendo: "É inacreditável... estou devastado... Deus abençõe a alma dele."

Ele disse que falando sobre Jackson, realizava um dos desejos do astro.

"Ele sempre disse para mim, 'Eu quero que as pessoas saibam quem eu realmente sou quando eu não estiver mais aqui.'"

'Eu sou um estranho nesse negócio'

Ele discutiu apenas brevemente as finanças de Jackson. Durante seu tempo com o superastro, Tohme disse, ele não recebeu nada, mas conseguiu negociar contratos lucrativos que iriam assegurar o futuro dos filhos de Jackson. Ele seguiu uma longa linha de empresários e porta-vozes que trabalharam para Jackson nos últimos anos. No último ano, ele disse que desempenhou um papel central em mudar o jogo.

Suas negociações para Jackson incluíram um show na Broadway com a organização Nederlander, um desenho animado para a televisão baseado em "Thriller", uma linha de roupas incluindo "sapatos moonwalk", e mais. Ele disse que estava trabalhando com outros para renegociar os termos das principais posses de Jackson, sua participação no catálogo musical da Sony-ATV - que inclui as músicas dos Beatles - e o catálogo da Mijac, a companhia que controla a música do próprio Michael Jackson.

"Eu não estou no mundo financeiro da música. Sou um estranho nesse negócio," disse Thome, notando que tinha forte concorrência de outros que queriam assumir as finanças de Jackson.

"Eu construí um muro em torno de Michael para manter as pessoas longe," ele disse, reconhecendo que cortou gastos despedindo vários membros da equipe de Jackson, incluindo guarda-costas. E ele despediu por duas vezes a babá das crianças, Grace Rawaramba, sob ordens de Jackson.

"Eu estava tentando fazer o que podíamos para maximizar os seus ganhos e diminuir os gastos. Eu queria encontrar um modo de reduzir todos os empréstimos que ele tinha feito.

"Nós tínhamos um acordo," continua Tohme. "Eu nunca iria interferir em sua decisões criativas e ele não iria interferir em minhas decisões de negócios."

Tohme disse que abandonou tudo o que estava fazendo em sua própria vida para concentrar seu tempo e esforços nos negócios de Jackson. Ele aponta com orgulho para a jóia da coroa dos seus esforços e da nova equipe de Jackson: o contrato com a AEG para shows na O2 Arena, em Londres.

Ele disse que Jackson estava ansioso para os shows, porque queria que seus filhos o vissem se apresentar.

Alega que Jackson estava bem de saúde

Como outros antes dele, Tohme foi apanhado pela excitação do mundo de Jackson. Ele viajou com ele para Londres, onde assistiram à peça "Oliver" e foram assediados pelos fãs. "Eu nunca havia visto fãs que amassem tanto alguém e ele os amava igualmente," disse Tohme.

Tohme usa o título de "Dr." e aparentemente tem um diploma médico, embora não exista registro que ele tenha praticado nos Estados Unidos. Ele disse estar convencido de que Jackson estava em perfeito estado de saúde da última vez que o viu, dois dias antes de sua morte. Ele diz que o cantor mantinha uma dieta saudável para si a para as crianças, nunca comendo carne vermelha, não bebendo e, pelo que ele sabia, nunca usando drogas.

Ele diz estar desapontado pelo fato de que Jackson não será enterrado em Neverland, mas ele espera que isto mude. "Ele merece ser enterrado no mundo maravilhoso que criou."

Nos meses finais de Jackson, Tohme disse que eles conversaram sobre criar "um lugar especial 10 vezes maior do que Graceland" onde fãs poderiam vir para ver ítens da carreira de Jackson e prêmios. Jackson até conversou sobre criar uma cidade de verdade para crianças.

"Ele queria ser lembrado como um grande ser humano e ele queria criar quantos lugares felizes pudesse para as crianças do mundo," conta Tohme.

No dia em que Jackson morreu, enquanto Tohme corria para o hospital sem saber se seu amigo estava vivo ou morto, ele disse ter lembrado de momentos preciosos: quando Jackson levou seus filhos à casa de Tohme para o jantar de ação de graças; Jackson e seus filhos cantando "Feliz Aniversário" para Tohme no celular; a última vez que ele viu Jackson no Staples Center, ensaiando para seu grande retorno.

E ele se lembrou das últimas palavras de Jackson para ele naquele dia: "Eu amo você".



Tradução de Bruno Couto Pórpora