Veja, 29 de fevereiro de 1984
Nesta terça-feira, quando foram anunciados nos Estados Unidos os vencedores de 1983 do Prêmio Grammy - espécie de Oscar do mundo do disco -, mais uma vez o cantor e compositor Michael Jackson ganhará as manchetes como o artista mais importante e bem-sucedido da música nos últimos tempos. Jackson detém nada menos de doze indicações para as diversas categorias de premiação, um recorde absoluto em toda a história do Grammy. Seu talento, porém, não apenas lhe rende prêmios e homenagens: ele movimenta algumas das cifras mais espetaculares que o mundo artístico já conheceu. O último LP do cantor, Thriller, lançado em janeiro de 1983, vendeu até hoje 27 milhões de cópias em todo o mundo - algo sem precedente em toda a história do disco e responsável por uma arrecadação, por parte da gravadora americana CBS, que o mantém sob contrato, de nada menos de 120 milhões de dólares (cerca de 139 bilhões de cruzeiros) em pouco mais de um ano. Além disso, o êxito de Thriller transformou esse tímido intérprete de canções dançantes, de apenas 25 anos, no centro de um sólido miniconglomerado de empresas, talvez o mais rentával do mundo da música. Ao final deste ano, esse conglomerado renderá a seu jovem diretor-presidente mais de 50 milhões de dólares, que se juntarão aos 45 milhões que Jackson ganhou no ano passado.
Grande parte desses lucros virá dos direitos autorais sobre o próprio LP Thriller, que continua em primeiríssimo lugar nas paradas de sucesso americanas. Mas há mais: uma série interminável de contratos de merchandising para utilização de seu nome e imagem, por exemplo. E tambérm uma extensa turnê que o cantor fará a partir de abril, nos Estados Unidos, dividindo o palco com seus cinco irmãos, com quem, nos anos 70, formava o conjunto The Jackson Five. Para controlar os negócios em suas diversas áreas de interesse, Jackson iniciou há meses a montagem de cinco empresas, duas delas já em operação: a Optimum Productions, destinada a gravar videoteipes seus e de outros artistas, e a Experiments in Sounds, encarregada de pesquisar novas técnicas de gravação. Para cuidar do dia-a-dia de seus negócios, o cantor detém sob contrato uma bateria de advogados e agentes de publicidade.
CONVIDADO ESPECIAL - Em sua formidável escalada, Jackson despertou também uma acirrada concorrência entre os grandes empresários do meio artístico americano: a qual deles caberia esse filão de ouro que é cuidar dos interesses do cantor? O eleito foi Don King, que, ao iniciar contatos com promotores locais para a turnê de Jackson e seus irmãos, impôs condições tão vantajosas para o cantor que detonou nos Estados Unidos uma interminável discussão sobre divisão de lucros em concertos musicais. Nos próximos meses, é possível que essa discussão envolva até um empresário brasileiro: Roberto Medina, diretor da agência de publicidade carioca Artplan. Medina, que trouxe Frank Sinatra ao Brasil pela primeira vez, em 1980, quando o cantor se apresentou no Estádio do Maracanã, pretende trazer Michael Jackson em setembro como uma das atrações do Rock Rio Festival, um gigantesco festival que promoverá no Autódromo do Rio de Janeiro. "Ele seria o nosso convidado especial", entusiasma-se o empresário. No Brasil, o LP Thriller vendeu até hoje 430.000 cópias, cifra equivalente à dos discos de Simone ou Ritchie.
Não será a primeira vez, na verdade, que o público brasileiro assistirá a um show de Michael Jackson. Em 1974, quando tinha apenas 15 anos, o cantor empreendeu uma turnê pelo Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília, acompanhado de seus irmãos do Jackson Five. Michael Jackson não era, porém, o que é hoje. Transformado no maior ídolo da música popular desde os Beatles, Jackson converte em ouro tudo o que toca. Em 1983, a vendagem do LP Thriller aumentou o faturamento da gravadora CBS em 26% com relação a 1982. E o videocassete que ilustra a canção-título do disco - mostrando Jackson à frente de um grupo de zumbis dançarinos - vendeu 300.000 cópias nos Estados Unidos em menos de um mês, a 30 dólares cada uma.
BONECO ARTICULADO - Há ainda outros filões a explorar nesse inesgotável Midas. Há poucas semanas, Jackson assinou um contrato de 1 milhão de dólares com a editora americana Doubleday para a publicação de um livro sobre sua vida, a ser editado por ninguém menos que Jacqueline Kennedy Onassis. Jackson mantém também contratos de muitos milhões de dólares para a fabricação e distribuição de camisetas, posters e farto material promocional - toda uma linha de "produtos Michael Jackson". Nessa linha, a última e grande novidade é um boneco articulado capaz de reproduzir todos os movimentos do cantor no palco, e que chegou às lojas de brinquedos americanas na semana passada, ao preço de 13 dólares.
A grande cartada do "conglomerado" Michael Jackson este ano, porém, será mesmo a turnê pelos Estados Unidos. A idéia da excursão surgiu há dois anos, como forma de promover a carreira dos irmãos do cantor, em declínio desde a sua consagração. Em seguida, ela foi abandonada, diante do altíssimo investimento que exigiria, mas, há poucos meses, a Pepsi-Cola acenou a Jackson com um patrocínio de 5 milhões de dólares, e a proposta foi prontamente aceita. A 20 dólares o ingresso para cada show, a excursão deverá render pelo menos 20 milhões de dólares. E a isso devem-se acrescentar os subprodutos: venda de camisetas, programas, e videocassetes relativos à turnê. No total, Don King espera arrecadar 70 milhões de dólares, e o mundo então terá confirmada uma verdade: não há nada hoje, no mundo da música ou dos espetáculos, que se compare a Michael Jackson.