quinta-feira, 16 de setembro de 2010

'We Are The World' Arrecada Milhões para a África (JET, Abril 1985)

JET Magazine, 8 de abril de 1985

Quando o cantor/compositor Michael Jackson recebeu num dia uma ligação de Lionel Ritchie, antigo líder do The Commodores que costumava abrir os shows do Jackson 5, ele se surpreendeu duplamente.

Primeiro, Ritchie o contou que iria produzir seu primeiro álbum para o astro do country, Kenny Rogers. Segundo, Jackson se surpreendeu porque seu amigo de longa-data o queria como backing vocal para sessão de gravações.

Richie brincou mais tarde: "Nós decidimos que se nunca fizermos outro sucesso, podíamos sempre ganhar $100,000 por ano fazendo backing vocals."

Desde aquela sessão de gravações, o cantor líder dos Jacksons se tornou o artista solo de maior sucesso do mundo com seu álbum Thriller, que já vendeu cerca de 40 milhões de cópias, e Ritchie se estabeleceu como um cantor/compostior de álbuns solo que o fizeram ganhar Grammys e prêmios no American Music Awards, enquanto vendia em torno de quatro milhões de cópias por LP lançado.

Então era inevitável que ambos se juntassem novamente em um projeto musical. Os dois bons rapazes, aos pedidos do cantor Harry Belafonte, com a ajuda do empresário de Ritchie, Ken Kragen e a operação suave do produtor Quincy Jones, se juntaram no que pode acabar se tornando o projeto musical mais rentável de todos os tempos.

Eles co-escreveram um sucesso, We Are The World, que foi gravado por 45 dos maiores nomes da indústria fonográfica dos Estados Unidos, sob o nome de USA for Africa. O single de sucesso já está faturando milhões para as vítimas da fome na África e no momento em que o grupo lançar o álbum e video We Are The World contendo o sucesso, as vendas podem alcançar algo em torno de até $50 milhões.

Belafonte, um artista e ativista social, é creditado por ser a força motora por trás do projeto musical e ele disse que um filme o motivou a agir. "Eu estava assistindo a um filme não a muito tempo sobre a África sub-saariana: Mali, Chad, o Sudão, Etiópia," ele disse. "Depois que você ve as fotos e ouve as vozes dessas pessoas, é muito difícil dormir, é muito difícil prosseguir como se nada tivesse acontecido." Então ele viu o esforço musical do Band Aid para ajudar as vítimas da fome e disse, "Eu simplesmente pensei, 'Por que não aqui?'

Belafonte entrou em contato com Kragen, que trouxe à atenção de Ritchie. Ritchie ficou tão ansioso que imediatamente ligou para Quincy Jones, que concordou em produzir a gravação. Jones então contactou Jackson e foi decidido que o popular cantor/compositor co-escreveria uma nova canção para o projeto.

Ritchie e Jackson discutiram a idéia durante jantares de comida saudável, tendo sido três deles na casa de Jackson. Finalmente, Ritchie apareceu com uma melodia e algumas letras. Jackson escutou e Ritchie foi embora. Na mesma noite, Jackson terminou a canção e eles a nomearam: We Are The World.

Com a canção, Kragen assumiu o papel de recrutador de talentos. Ele queria "os artistas de maior sucesso nas paradas," ele relembra. Ele começou sua tarefa de montar o "creme do talento pop americano" e estava pronto para gravar em 28 de janeiro. A sessão começou por volta das 10 da noite, duas horas depois da conclusão da transmissão do American Music Awards, que foi apresentado por Ritchie. Um número dos artistas do USA for Africa também estiveram presentes na premiação. Sob a direção do maestro Jones, todos os 45 cantores começaram a sessão que terminou no dia seguinte, às 8 da manhã.

"Foi uma honra para mim co-escrever uma canção que, espero, irá afetar o mundo," um cansado Michael Jackson disse quando deixava a sessão com seu empresário, Frank Dileo.

Enquanto repórteres corriam para conseguir entrevistas, Dileo protegia Jackson na saída do estúdio A&M, dizendo: "Deixe a canção falar por si mesma. Ele não escreveu por publicidade. Ele escreveu para ajudar os famintos." Mais tarde, o empresário de Jackson contou à JET: "Eu fiquei feliz por Michael escolher fazer algo assim entre seus lançamentos futuros. Eu acho que seu entusiasmo foi transmitido por toda a sessão. Michael foi o primeiro a chegar depois de Quincy," Dileo apontou.

Ritchie reagiu à sessão dizendo: "Foi uma noite muito tocante. Eu entrei no estúdio como um fã e eu tenho certeza que com muitos foi assim, também. Era um estúdio cheio de gente querendo o autógrafo um do outro. Mas o tema mais importante da noite, eu acredito, está na letra da canção: 'Há pessoas morrendo.' Todo artista aqui está compromissado em fazer algo em relação a isto."

As seguintes declarações de artistas que participaram de We Are The World foram editadas de entrevistas:

Harry Belafonte: "Eu não acredito que a maioria das pessoas do mundo sabiam sobre o desastre na África. As pessoas que sabiam eram os oficiais do governo, eram pessoas de altos cargos, que têm acesso à informação. E eu penso que ao invés de responder ao que está acontecendo na África e tentar ajudá-la, em nome da humanidade, as pessoas viram uma oportunidade de manipular as condições da África para fins políticos ou metas ideológicas. E eu penso que aí reside a grande tragédia humana."

Ray Charles: "Para mim, (a sessão) é uma grande oportunidade para contribuir a uma causa linda, uma causa maravilhosa. Estou honrado por ter sido convidado para fazer parte dela... todas as pessoas aqui são grandes em seu próprio mérito, e eu estou feliz por poder vê-las; a gente não se vê muito. Eu estou animado por estar aqui com elas assim como elas estão animadas por estarem aqui comigo."

Bob Dylan: "As pessoas estão passando fome... estão morrendo, e estão sendo tratadas de maneira injusta. Nós podíamos fazer mais - nós devemos fazer mais,"

James Ingram: "Para mim, o momento mais pungente da noite foi quando as duas senhoras etíopes conversaram com todos os artistas, nos contando em Swahili o quão agradecidas elas estavam por nós estarmos juntos para ajudar as pessoas que sofrem. Lágrimas escorreram pelos meus olhos, e nos de muitos outros, também..."

Marlon Jackson: "Eu estava animado por estar envolvido - não por causa de quem estava lá, mas pelo que eu estava fazendo. Me faz sentir bem por dentro poder contribuir para algo como isto; eu apenas queria que tivéssemos feito isto antes... eu acho que as pessoas vão comprar o disco por conta de quem está nele, primeiramente; mas assim que elas escutarem a canção, vão começar a pensar sobre o que está acontecendo no mundo."

Quincy Jones: "Ninguém podia acreditar que estavam todos lá, juntos na mesma sala naquela noite. A sinergia era tão forte - muito poderosa. Para mim, foi um Woodstock da idade espacial. Woodstock teve 250,000 pessoas e um filme, mas provavelmente serão um bilhão e meio de pessoas que verão isto, e sentirão esta energia. É apenas uma questão de como você a captura."

Cyndi Lauper: "Eu me envolvi depois que Bob Geldof conversou comigo sobre o projeto (Band Aid); eu queria apoiar o que Lionel e Michael estavam fazendo, e eu queria ajudar a comunidade artística a fazer algo positivo. Música é tão universal, qual seja o gênero; a idéia de um mundo é universal, também, e também a idéia de que as pessoas estão passando fome, é a nossa tarefa enquanto artistas tentar e fazer algo para ajudar."

Kenny Rogers: "A coisa que eu mais me lembro (sobre a sessão) era olhar ao redor da sala e perceber a quantidade de talento que estava representada lá, e assistindo as atitudes das pessoas envolvidas em algo que ultrapassava gostos e gêneros musicais. É que estas pessoas realmente se importam - elas são como quaisquer outras..."

Diana Ross: "Eu fiquei feliz por ser incluída (na sessão). Eu sinto que estamos nos deslocando em direção à compaixão, no que está acontecendo com o mundo hoje. Eu acho que cada indivíduo no mundo, especialmente nos Estados Unidos, quer contribuir. E você pode fazer a diferença - uma pessoa pode fazer a diferença. Você não deve pensar que não pode fazer alguma coisa."


Título original da matéria: "Michael Jackson and Lionel Ritchie's Song Earns Millions For Africa's Famine Victims". Traduzido por Bruno Couto Pórpora.