Revista Veja, 5 de janeiro de 1983
Por Okky de Souza
Michael Jackson inova o som negro americano
Combinar, num mesmo disco, as vozes do ex-Beatle Paul McCartney e do lendário ator inglês de filmes de horror Vincent Price é, aparentemente, uma manobra típica de algum desvairado musical de Hollywood. O autor da proeza, porém, não compõe doces baladas, como Paul, e só frequentou as telas de cinema uma vez, num pequeno papel no filme The Wiz, em 1978. É o cantor e compositor americano Michael Jackson, sobrevivente do grupo infanto-juvenil The Jackson Five - que vendeu 90 milhões de discos em todo o mundo nos anos 70 - e um dos nomes mais brilhantes da nova música negra americana. Em seu quarto LP solo, Thriller, Michael convidou Vincent Price a declamar um divertido poema macabro na faixa-título e divide com McCartney os vocais da trepidante The Girl Is Mine. Mas essas participações são apenas truques de efeito num disco dominado por um autor de impressionante talento.
Michael combina o balanço negro da soul music com o rock, mas foge ao padrão utilizado por muitos ao incorporar experiências ousadas nos dois gêneros. Como em Billie Jean, em que descobre uma surpreendente fronteira entre a música leve, para dançar e a vanguarda new wave. Ou em Beat It, onde transforma um rock de moldes mais tradicionais numa canção moderna usando vocais e guitarras aparentemente incompatíveis com ela. É um disco inventivo e variado, cheio de soluções originais. Com apenas 11 anos, Michael Jackson virou mania nacional nos Estados Unidos como cantor do Jackson Five. Dez anos depois, gravou um dos melhores LPs de 1979, Off The Wall, e há dois meses lançou um luxuoso álbum onde narra a história de E.T., o monstrinho extraterrestre do cinema. Em Thriller, ele reafirma que o talento precoce lhe rendeu, em vez de problemas, uma sólida experiência.