quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Harry Benson relembra Michael Jackson (Architectural Digest, Novembro 2009)

Architectural Digest, 4 de agosto de 2009
Por Harry Benson

O fotógrafo Harry Benson relata suas visitas ao rancho de Michael Jackson, Neverland.

Eu conheci Michael na encosta de uma montanha em Colorado, em 1984. Ele estava na famosa Victory Tour com seus irmãos.

Michael foi o primeiro a vir correndo me ajudar quando eu escorreguei e fui parar em uma colina lamacenta. Eu estava bem, mas um par de lentes ficou coberto de lama. Foi a primeira vez que Michael demonstrou gostar das minhas jaquetas esportivas escocesas de tweed, então eu a tirei e dei para ele. Ele pareceu contente com o meu gesto e a vestiu imediatamente, estendeu ambos os braços e girou sob a forte luz do sol enquanto eu o fotografei correndo e pulando. No palco, naquela noite, ele brilhava lantejoulas. Eu voei para Nova York com as fotografias.

A Victory Tour continuava a fazer mais e mais sucesso, então eu me juntei a Michael na Filadélfia para tirar mais fotos. A mesma coisa aconteceu. Desta vez foi com uma jaqueta cinza Harry de tweed. Eu o vi olhando tão perto para as cores do tweed. Elas pareciam fasciná-lo, então novamente eu o dei a minha jaqueta. Algum tempo depois, eu me diverti ao ver um noticiário com Michael usando a jaqueta, correndo para a limusine, assediado pelos fãs.

Em 1985, eu fotografei Michael na sessão de gravação de We Are The World, em Los Angeles, concebida para arrecadar dinheiro para as crianças famintas da África. Quincy Jones colocou uma placa que dizia, "Deixem os seus egos na porta", e os 45 astros que participaram fizeram exatamente isto. O artista conhecido como Prince ficava telefonando para dizer que estava pensando em vir. Quincy disse a ele para se apressar, já que eles haviam começado a trabalhar. Eu ouvi Michael dizer, "Prince nunca virá enquanto eu estiver aqui." Quando Prince ligou novamente, Quincy disse para ele não se dar ao trabalho; já haviam terminado.

Vendo Michael pela primeira vez, ele parecia tímido. Ele falava de forma suave, com sua voz fina reconhecível a todo o mundo mas, curiosamente, após cerca de 10 minutos o seu tom engrossava, embora ele ainda falasse de forma bem suave. Acho que muitas pessoas poderosas, chefes de estado e tal, falam de forma suave. Elas não precisam gritar para conseguir sua atenção. Tentem escutar o que elas dizem pela primeira vez - elas não gostam de repetir. Michael era assim. Uma hora depois, quando nos encontrávamos de novo, era como começar tudo de novo - novamente, a voz quieta e fina, que se transformava em algo mais grave após cerca de 10 minutos.

Quando eu vi Michael em 1995, novamente minha jaqueta de tweed foi cobiçada, então eu a dei para ele. Ele a vestiu para as fotos com sua noiva, Lisa Marie Presley.

Em 1997, eu visitei Neverland para fotografar Michael com seu primogênito, Michael Prince. Enquanto ele alimentava Prince, o rosto do bebê ficou coberto de comida. Michael brincou, "Oh, é hora de Linda Blair," referindo-se à atriz no filme O Exorcista. O bebê estava feliz e rindo. Mais tarde, levamos Prince para o seu quarto no andar superior, onde Michael deu a ele uma mamadeira e o segurou até ele dormir, cantando canções de ninar para ele. Michael me disse que Prince o havia inspirado a compôr mais músicas do que ele havia composto em qualquer outro momento de sua vida.

No dia seguinte, Michael me levou para o estúdio de ensaios onde ele havia aprimorado o moonwalk. Ele me disse que frequentemente trazia Prince para vê-lo praticar em frente à parede espelhada e disse que eles dançariam juntos algum dia. Eu estava convencido de que esta seria uma nova dupla. Prince sentava, brincando com um microfone e observando cada passo de seu pai. Michael me disse que o moonwalk era muito fácil de se fazer. "Só faça isso, Harry, e puxe o seu pé para trás." É desnecessário dizer que eu não foi bobo o suficiente para tentar.

Do lado de fora do seu quarto, ficava uma figura de cera de um guarda da cavalaria da rainha. O quarto em si era escuro e bem simples, em tons de bege e marron e, pra ser sincero, um pouco deprimente. Ao lado da cama ficava uma cadeira enorme, vermelha, parecida com um trono, ornamentada em dourado. Acima dela, a pintura de um Jesus loiro.

Michael era fácil de se trabalhar e encantado em me mostrar sua casa. Todas as fotos foram tiradas rapidamente. É isto que as pessoas se esquecem - você tem de trabalhar de forma rápida para que o seu assunto não fique cansado. Quando Michael me perguntou o que eu queria que ele usasse, eu disse, "Seja você mesmo. Use o que lhe faz sentir confortável."

Dava para ver como Neverland podia tirar as preocupações da mente de Michael e o transportar da realidade de sua estressante vida. Ele tinha tudo o que queria lá. Eu tive a impressão de que, de modo algum, Michael era um recluso. Ele lia os jornais e se mantinha informado. Uma vez ele me perguntou o que eu achava dos Reagans, que estavam na Casa Branca na época. Ele também estava curioso para saber como era o autor russo Aleksandr Solzhenitsyn, já que havia visto a fotografia que eu havia tirado dele. Michael fazia questão de saber quem era quem, enquanto o tempo todo aqueles olhos tristes ficavam procurando, olhando atentamente para mim. Ocasionalmente, ele dava uma risada, mas na maior parte do tempo ele apenas observava.

Embora eu não fosse próximo a Michael, éramos amigáveis e respeitosos um com o outro, e isso é realmente tudo o que se pode querer, alguém que permita que você faça o seu trabalho. Eu vou sentir falta dele. Nós todos vamos sentir falta de seu imenso talento.



 Traduzido por Bruno Couto Pórpora