terça-feira, 15 de outubro de 2013

Michael pede pistolas d'água e bexigas (Folha de S. Paulo, Outubro 1993)

Folha de São Paulo, 15 de outubro de 1993
Por Armando Antenore

Xuxa mandou para o popstar uma cesta com flores campestres, pirulitos e duendes em miniatura

 
Michael Jackson, 35, tem complexo de Peter Pan. Ou, pelo menos, adora fingir que tem. Ontem de manhã e à tarde, assessores do popstar abasteceram a imprensa com informações que conduziam quase sempre para a mesma conclusão: Michael é uma criança grande, um marmanjo que não quer crescer.

Primeiro, teve a história do Playcenter. Quarta-feira à noite, mal pisou no Brasil, o cantor quis visitar o parque de diversões. Brincou em metade das atrações, tomou refrigerante, comeu "favo holandês" (waffles com doce de leite) e se lambuzou de caramelados. Quando retornou ao hotel, depois de tanta guloseima, ainda encontrou estômago para devorar confeitos de chocolate, da marca norte-americana M&M.

Também na quarta-feira à noite, Michael pediu que lhe comprassem uma barraca de camping para quatro pessoas, oito posters com ilustrações infantis, quatro lanternas pequenas e um rolo de fita colante. Os assessores do artista saíram à luta e conseguiram encontrar todas as encomendas.

Ninguém da produção arriscou dizer o que Michael fez com tantos badulaques. Falaram, apenas, que o cantor está em companhia de três crianças, todas de Los Angeles. E que, às vezes, os garotos sobem à suíte do popstar para brincar.

Certo mesmo é que ontem de manhã Michael chamou assessores, disse-lhes que perdeu as baterias das lanternas e pediu outras. Aproveitou a deixa para passar nova lista de compras: livro com fotos de índios brasileros e crianças, fitas virgens de vídeo, pistolas d'água e balões de ar.

Fábio Cozzolino, 29, um dos responsáveis pela segurança de Michael, afirmou que há máquinas de fliperama na suíte do cantor. Outros assessores informaram que Xuxa enviou anteontem para o popstar uma cesta com flores campestres, pirulitos e duendes em miniatura. O presente incluía uma foto da "rainha dos baixinhos". O retrato, em preto e branco, trazia um recado: "Dear Michael, welcome to Brazil. Xuxa. 13/10."

Entre todos os caprichos do cantor o que mais chama a atenção é o desejo de ganhar um uniforme completo da Ronda. Michael adorou a roupa dos batedores que o escoltaram até o Playcenter. Ontem, pediu à DC-Set, produtora dos shows no Brasil, que lhe providenciasse modelito idêntico, tamanho médio, com sapatos número 42. Para quê? Talvez para brincar de patrulheiro.


Michael Jackson quer voltar ao Playcenter
por Daniela Rocha

Em sua visita ao Playcenter anteontem, Michael Jackson brincou em cerca de 20 atrações, comeu guloseimas e conversou com crianças, segundo o superintendente do parque, Marcelo Gutlas, 52, que recebeu o cantor.

Não foi montado nenhum esquema especial de segurança para receber Michael. Gutlas afirmou que o cantor pretende voltar ao Playcenter para ficar mais tempo brincando.

Segundo ele, Michael conheceu o Interprize, o La Bamba, a Montanha Russa entre outros brinquedos. O único que ele ainda não conhecia era o Sombras e Mágicas (que utiliza efeitos de flash para "congelar" a imagem da sombra em espelhos).

"Michael foi o tempo todo muito comunicativo e simpático, mostrou-se bastante interessado no parque. Ele andava em cada brinquedo acompanhado de uma criança brasileira", afirmou. Gutglas contou que no Tiro d' água, Michael brincou com um funcionário, acertando água de propósito em sua camisa e depois fingiu secá-la.


Visita fechou o Playcenter

O Playcenter ficou fechado ao público durante duas horas e meia (das 20h30 às 23h), enquanto durou a visita de Michael Jackson. "A produção informou que Michael queria visitar o parque e por isso resolvemos fechá-lo", disse o superintendente Marcelo Gutlas.

Apenas diretores, seus filhos e funcionários do parque acompanharam o cantor e sua comitiva.


Produtor é ex-caminhoneiro
Benny Collins controla quase 500 homens e 1.000 toneladas

por Thaís Oyama

Se um rio atingir Benny Collins, o maior show do planeta corre o risco de não se realizar. O temperamental produtor-executivo de Dangerous - um ex-caminhoneiro de 1,90m nascido em São Francisco - controla um exército de quase 500 homens, tem sob sua responsabilidade cerca de 1.000 toneladas de equipamento e é, depois de Michael Jackson, o nome mais poderoso da turnê.

Collins, 47, jamais grita. Nem isso é preciso. O "staff" treme à sua chegada. Há seis anos trabalhando com o popstar, seu rigor com a pontualidade é tão conhecido pelos integrantes da turnê quanto as suas manias.

Exemplo: Collins odeia que andem atrás dele. No meio de uma conversa, se ele tem de se deslocar para algum lugar, o interlocutor deve permanecer exatamente onde está até que o produtor retorne e continue o assunto. Quem rompe a regra recebe como troco um olhar fulminante e acompanhado de um grunhido em barítono. Mau-humor garantido para o resto do dia.

Ele não bebe nem cerveja e fuma um Marlboro atrás do outro. Relaxa antes dos shows fazendo ioga e meditação. Conhece "quase todos os países do mundo" epara onde vai leva junto um amuleto: sua coleção de caminhões de brinquedo, com as quais enfeita cuidadosamente o camarim.

No trabalho, acredita que nenhum contratempo justifica um fracasso. "Tenho os melhores profissionais do mundo. Cada show é cronometrado minuto a minuto. Nada pode dar errado, nunca deu", afirma. Nunca? "Nunca. Nós somos americanos. Nós não somos brasileiros", dispara.