O Estado de São Paulo, 14 de Junho de 2005
Por Associated Press/EFE/Reuters e Ricardo Westin
O veredito, unânime, foi lido ontem por volta das 17h45 (horário de Brasília), dez dias após o início das deliberações dos jurados e pouco mais de quatro meses após a abertura do julgamento.
De terno preto, camisa branca e óculos escuros, Jackson entrou no tribunal acenando discretamente para os cerca de 300 fãs que, de mãos dadas, fizeram um cordão pelo trajeto percorrido pelo astro. Durante a leitura do veredito, a cada vez que a palavra inocente era pronunciada, uma fã soltava uma pomba branca. Inocentado, Jackson saiu chorando do prédio e, sem falar com ninguém, entrou no carro que o levou de volta para o rancho Neverland. Apenas a ex-mulher do cantor, Debbie Rowe, testemunha da defesa, afirmou que "estava emocionada por saber que o sistema legal tinha funcionado".
Foi o fim de um julgamento que atraiu a atenção da mídia, provocou especulações sobre os problemas financeiros do cantor, inclusive sobre suas dívidas milionárias, e levantou antigas acusações de pedofilia, que desde 1993 assombram a figura de Michael Jackson, época em que começaram as primeiras acusações de familiares de garotos.
No entanto, na única vez em que as suspeitas se transformaram em um processo, que poderia resultar em cerca de 20 anos de prisão (além dos US$3 milhões de fiança, já pagos), foram oito mulheres e quatro homens da região de Santa Maria os responsáveis por inocentar o cantor. Um grupo sem nenhum integrante negro, selecionado entre uma população eminentemente agrícola e descrita como conservadora.
Com Certeza
"Nós, jurados, estudamos minuciosamente os testemunhos e as evidências," afirmou o grupo em uma declaração lida após o anúncio da absolvição. "Sentimos o peso dos olhos do mundo sobre nós" e "chegamos ao veredito com certeza", escreveram na única declaração pública que provavelmente farão. O juíz Rodney Melville recomendou que eles não comentem o caso por um ano e meio.
Pessoas como um educador aposentado, uma técnica em informática (que descreveu o cantor como uma pessoa maravilhosa), um escultor, uma treinadora de cavalos e uma bisavó de 79 anos foram os responsáveis por um julgamento que entrará para a história do sistema judiciário americano.
Pelo resultado, eles acreditaram na versão da defesa, que colocou a família do adolescente como pessoas aproveitadoras, interessadas em extorquir dinheiro do cantor e que, para isso, obrigavam seus filhos a mentir. O principal alvo do advogado de Jackson foi a credibilidade da mãe do garoto.
Ela afirmava que o cantor teria abusado sexualmente de seu filho em 2003, na época com 13 anos e se recuperando de um câncer, e que ele teria os mantido presos em sua casa para produzir um documentário favorável à sua imagem. O garoto e seus irmãos descreveram como teriam sido esses abusos, entrando em contradições.
No Brasil
No Brasil, o advogado que há oito anos cuida dos interesses de Michael Jackson, Michel Assef, disse que tinha certeza da absolvição. "As acusações eram absurdas. A família do menino inventou essa história para conseguir dinheiro", disse Assef, que defende Jackson em dois processos por atropelamento, um em São Paulo e outro no Rio, cometidos por motoristas da equipe do cantor nos anos 90.
Assef também participou indiretamente do julgamento. Há três meses, foi a Los Angeles levar documentos mostrando como a Justiça brasileira julga acusações de pedofilia - é comum que nos julgamentos se compare a aplicação das leis em outros países. Para Assef, o Brasil é bem mais brando que os EUA nesses casos.