segunda-feira, 25 de junho de 2012

O Que Michael Jackson Fez em seu Último Dia (TIME, Junho 2009)

Time, 29 de junho de 2009
Por James Snyder

Michael Jackson passou a última noite da sua vida fazendo o que ele sempre fez: se apresentando. O cantor estava ensaiando no Staples Center em Los Angeles, percorrendo uma série de canções para sua maratona de 50 shows em Londres cercado de amigos e colegas. Ele se maravilhou com os enormes cenários que finalmente haviam sido instalados no espaço para ensaios. "Ele estava brilhando, e você podia ver isso, que ele estava finalmente vendo tudo tomar vida," diz Dorian Holley, o diretor vocal para a turnê de Jackson. "Até quarta-feira, tínhamos sempre um conceito, mas naquele última dia você conseguia enxergá-lo nele, que ele estava vendo o show tomar vida pela primeira vez. Foi um grande momento."

Holley conta que deixou os ensaios pouco depois da meia noite na noite de 24 de junho, enquanto Jackson saía para participar de mais reuniões. Cerca de 12 horas depois, uma ligação para o 911 seria feita da casa de Jackson em Holmby Hills, dizendo com urgência que "ele não está respirando... ele não responde ao CPR, a nada."

O ícone do pop parecia diferente durante estes ensaios - não doente de alguma forma, mas talvez mais contemplativo - conta Holley, que trabalha nas turnês solo de Jackson desde 1987. Ao preparar as turnês anteriores, Holley disse que os testes para cantores de apoio e outros papéis de performance eram feitos geralmente por fita de vídeo, e não seria nada incomum para os dois se eles se falassem diretamente apenas duas ou três vezes durante o ano. Mas para This Is It, a série de concertos em Londres marcada para começar em julho, Jackson estava muito mais presente e disponível, participando de testes e conversando ansiosamente com todos na equipe sobre a missão maior por trás da turnê.

"Soa quase loucura dizer que o show não era sobre ele, mas... ele colocava em perspectiva o tempo todo, dizendo, 'Esta é a razão para estarmos aqui, para espalhar uma mensagem de amor e de cuidado com o planeta, que nós queremos que as pessoas entendam que é muito, muito importante não descuidarmos dele'," Holley contou para a TIME.

Até a última hora de ensaios, Jackson manteve um ritmo feroz, perfeccionista, conta Holley que, após decadas trabalhando com o cantor, disse que ainda estava impressionado com seu vigor físico e vocal. Alguns no público questionaram se Jackson, aos 50, poderia ainda comandar um palco, e notícias recentemente publicadas no Daily Mail britânico diziam que Jackson mal podia dançar, cantar e, às vezes, sequer falar nas semanas que antecederam sua morte. Mas Holley - apesar de suas próprias preocupações iniciais quanto à falta de tempo de ensaios antes da estréia em Londres - diz que a presença e energia do astro durante sua semana final foi evidente. "Ele entrava no palco com esse grupo de dançarinos, todos na faixa dos 20 anos, mas você não conseguia tirar os olhos dele... Muitas de suas músicas têm seis ou sete partes, e ele em alguns momentos vinha falar se estávamos esquecendo uma nota importante no nosso mix, e ele cantava todas as partes para nos mostrar o que ele queria. Nós ficávamos estarrecidos, de boca aberta - era maravilhoso," conta Holley. "Ele ainda conseguia fazer tudo... A única diferença agora é que ele comentava às vezes como ele ficava dolorido depois."

"Desta vez, nós tínhamos a tecnologia para isolar apenas o microfone dele e ouvir seu canto separado do resto. Eu não tinha idéia do quão genial ele era. O modo como ele usava sua voz como instrumento de percussão, como letrista, cantor de jazz tudo ao mesmo tempo. Eu estou certo de que quando as pessoas analisarem o seu trabalho no futuro, vão descobrir a quantidade de coisas diferentes que têm lá," ele diz.

Foi uma mensagem de texto na tarde de quinta que deu a Holley o primeiro sinal de notícias ruins - uma nota dizendo que Jackson tinha sido levado às pressas para o hospital. Nem ele nem a equipe sabiam como reagir à incerteza, então eles fizeram o que sempre faziam - foram para os ensaios. Com a diferença de que dessa vez, enquanto fãs de todo o mundo, desde Los Angeles a Nova York a Tokyo e Buenos Aires tocavam sua música, cantavam e imitavam sua dança em tributo, Holley diz que sua equipe nem conseguia sequer encostar na música.

Jackson estava se preparando para tomar o mundo de novo, diz Holley, e durante a noite final do cantor, ele finalmente soube que ele estava pronto. "Você pensaria que, de certa forma, o mundo bateu nele, e você podia perdoá-lo por trepidar um pouco e sentir medo. Mas ele não tinha nada disso," diz Holley. "Palavras são poucas para descrever o que as pessoas teriam visto com a turnê. Nem eu podia imaginar até a semana passada, quando se tornou fisicamente aparente [no set]. Ele estava pronto para mostrar ao mundo, e eu queria tanto que tivesse acontecido ao menos um concerto para que o mundo pudesse ver."



Traduzido por Bruno Couto Pórpora