Por Joe Voger , o autor de Man In The Music: The Creative Life and Work of Michael Jackson, livro ainda a ser lançado
Embora Boutella tenha perdido a chance de participar de This Is It, ela faz uma admirável homenagem ao Rei do Pop em seu mais recente videoclipe póstumo, que conta a história de uma jovem e ambiciosa garota tentando vencer em Hollywood sem ser engolida por suas armadilhas e ilusões. É uma histórias bem conhecida, mas contada com bom gosto pelo diretor Wayne Isham, e brilhante pela energia e talento cativantes de Boutella. O clipe também lembra - assim como os recentes tributos a MJ no American Idol e Glee - o quão profundamente a influência de Jackson continua a viver nas novas gerações (muitos dos quais apenas "descobriram" ele após sua morte trágica em 2009).
Hollywood Tonight é o segundo single a ser lançado do álbum póstumo de Jackson, MICHAEL (Behind The Mask é o single alternativo para vários países, incluindo os Estados Unidos).
A música tem uma longa e enrolada história. Jackson primeiramente elaborou um esboço das letras em 1999, enquanto estava no Beverly Hills Hotel. Logo depois, ele começou a trabalhar na música com o amigo de longa data e colaborador Brad Buxer (que co-escreveu a música). A música viajou com eles de Los Angeles a Nova York, Miami a Neverland, durante as gravações iniciais de Invincible. Jackson e Buxer estavam trabalhando em músicas maravilhosas nesta época, incluindo canções como Beautiful Girl, The Way You Love Me, Speechless, The Lost Children, Shut Up and Dance (uma ótima faixa dançante que Jackson e Buxer fizeram com Michael Prince e Eric Kirkland, com ecos de Stevie Wonder e MJ na era Bad que, infelizmente, não teve seus vocais finalizados) e I Was The Loser (uma melódica mid-tempo sobre amor perdido que está quase finalizada), entre outras. Dois anos antes, Jackson e Buxer também trabalharam em grandes faixas como Morphine e In The Back.
Jackson amava certas partes de Hollywood - a abertura com o canto gregoriano (sua idéia), a harmonia "westbound, greyhound", os assobios no fim da música - mas parou de trabalhar nela quando o produtor Rodney Jerkins entrou no projeto de Invincible.
Pelos próximos dez anos, no entanto, ele retornou à faixa inúmeras vezes. Para o baixo, ele estava procurando por algo similar a Billie Jean, mas distinto. "Faça um baixo suave e silencioso em Hollywood," ele indicou em um recado. Suas demos iniciais apresentam dois baixos sobrepostos (Michael Prince acrescentou o "chute" Billie Jean no último mix que MJ pediu). Jackson e Brad Buxer continuaram a mexer na música em Las Vegas, em 2007. Por um tempo, ele gostou da idéia de terminar com o som de um ônibus partindo ou chegando. Mas no final ele decidiu concluir com os assobios, já que a justaposição era um pouco estranha.
Em outubro de 2008, Jackson, agora morando em Los Angeles, pediu ao engenheiro de som Michael Prince que gravasse o último mix de Hollywood em CD para que ele pudesse escutá-lo e ver o que poderia ser acrescentado. Infelizmente, ele nunca mais trabalhou na música.
O novo single de Hollywood é mais verdadeiro a esta última versão do que a faixa apresentada no álbum. É claro, Jackson tinha intenções de continuar a trabalhar nela, motivo pelo qual seu Espólio e a Sony trouxeram dois dos colaboradores mais próximos de Jackson, Theron Feemster (ou Neff-U) e Teddy Riley, para tentar finalizá-la. Feemster teve a primeira tentativa e apresentou alguns mixes sólidos; mesmo assim, a Sony não aprovou e acabou dando uma chance a Teddy Riley. A produção de Riley, que contém muito ainda da demo de Michael e Brad (incluindo o intro e outro), elementos do remix de Feemster (incluindo o fantástico riff funky de guitarra e acordes), e mais alguns elementos que ele acrescentou acabou se tornando a versão do álbum.
Após o lançamento, no entanto, muitos fãs demonstraram sua preocupação quanto a) o reforçamento excessivo nos vocais, e b) a longa duração do rap no meio. Jackson tinha, de fato, escrito seus próprios versos para este momento da música, que eram muito mais obscuros que os de Riley. Os versos de Michael eram:
She doesn’t even have a ticket
She doesn’t even have a way back home
She’s lost and she’s alone
There’s no place for her to go
She is young and she is cold
Just like her father told her so
Enquanto a versão de Jackson dá destaque à tragédia e à incerteza da conquista do sonho, a de Teddy Riley busca uma solução mais positiva e limpa. "Nós meio que fizemos ela conseguir o que queria," Riley explica. "[Ela] completou sua missão."
Riley teria usado a versão de Jackson, sem sombra de dúvidas, se ela tivesse sido gravada. Infelizmente os vocais para os versos dele nunca foram gravados. Com o novo single, no entanto, a Sony decidiu cortar toda a parte falada e dar espaço para um pouco do drama e tensão crescente que Jackson pretendia para este momento. Eles usaram seu beatbox, sua idéia para os acordes e seus vocais operísticos (tirada de uma fita que esqueceram gravando durante uma sessão de gravações num quarto de hotel). Além do rap retirado, os vocais do novo single não contam com reforçamento. O resultado é um single mais cru, funky, que dá a impressão de estar menos finalizado do que a versão do álbum.
Hollywood Tonight, então, passou por muitas encarnações: as várias e diferentes demos que Jackson gravou com Brad Buxer e Michael Prince, de 1999 a 2008; as duas versões em que Theron Feemster trabalhou após a morte de Jackson (uma das quais dizem que é bem impressionante); a versão polida do álbum, finalizada por Teddy Riley; e, é claro, o novo single. Todas são necessariamente aproximações do que Jackson teria lançado como obra final.
Esta é a natureza de lançamentos póstumos. Eles vão sempre ser imperfeitos e eles vão sempre gerar um debate feroz.
Mas para a maioria dos amantes de música, aceitaremos qualquer novo Michael Jackson que pudermos ter, seja demos, novos mixes ou remixes. Hollywood Tonight poderia estar amontoando poeira em um cofre; ao invés disso, está fazendo as pessoas dançarem nas ruas.
Traduzido por Bruno Couto Pórpora